Sergio Massa teve 36% dos votos válidos, contra o candidato de extrema-direita, Javier Milei, que teve 30% - Foto: Reprodução

No dia 19 de novembro, os argentinos vão às urnas escolher o próximo presidente da República . Os candidatos do 2º turno são antagônicos: o controverso deputado Javier Milei , representante da extrema direita, e o atual ministro da Economia, Sergio Massa , representando o peronismo. Perdendo protagonismo a cada ano na balança comercial brasileira, a Argentina também escolherá nessa eleição o futuro da relação com o Brasil.

Em 2022, o Brasil teve superávit comercial de US$ 2,2 bilhões com a Argentina , pouco mais de um quarto dos US$ 8,1 bilhões registrados em 2017.

A Argentina só perde para China e Estados Unidos entre maiores compradores de produtos brasileiros. Já o Brasil perdeu o posto de maior impotador da Argentina para a China.

Esse cenário pode mudar a depender do resultado eleitoral no próximo mês, já que o candidato governista Sergio Massa mantém boa relação com o Brasil, mas o ultra direitista Javier Milei acumula críticas ao presidente Lula e à economia brasileira.

Massa é o homem à frente da crise sem precedentes pela qual o país passa, com inflação superior a 100% em 12 meses, atrelada à desvalorização cambial de quase 150%. Se eleito, ele promete não só a estabilização do câmbio, como também uma divisão mais igualitária de renda, com investimentos em programas sociais e na educação pública.

Milei, por sua vez, se descreve como anarcocapitalista e tem como bandeiras para solucionar a crise econômica a dolarização da economia e a extinção do Banco Central. O “Bolsonaro argentino”, como é conhecido no Brasil, garante ter um plano para transformar o país em três etapas que iriam durar 35 anos, com base em corte de gastos e enxugamento da máquina pública.

Segundo Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM, Massa é mais racional e tem mais conhecimento das instituições para dialogar a saída da crise, enquanto Milei “se utiliza de argumentos fáceis e populistas para tentar trazer soluções para problemas muito complexos”.

“Por exemplo, fechar o Banco Central, dolarização total da economia, rompimento com a com o Mercosul e com a China, um afastamento do Brasil. Isso demonstra que, apesar do Milei ser economista, tem um grande desconhecimento sobre o funcionamento das instituições de condução de política econômica”, comenta.

Sobre as propostas econômicas do ultra-direitista, Uebel ressalta que nem mesmo países de economia liberal têm na sua literatura algo parecido com o que defende o deputado.

“A Argentina não tem reservas suficientes para dolarizar sua economia. Ela tem um problema muito sério também com relação à sua matriz econômica que é muito voltada para o exterior. É agroexportadora, assim como o Brasil. Então, qualquer oscilação cambial afetaria diretamente não só o produtor e exportador argentino, mas também o cidadão comum que compra jornal na banca da esquina”, opina.

Como o Brasil será afetado

O ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad (PT), admitiu que uma possível vitória de Javier Milei nas eleições argentinas preocupa o governo brasileiro , uma vez que o país é, além de vizinho, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

“É natural que eu esteja [preocupado]. Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso”, disse Haddad em entrevista à Reuters. “Preocuparia qualquer um, porque, em geral, nas relações internacionais você não ideologiza a relação”.

Apesar da preocupação de Haddad, Uebel acredita que pouco deve mudar na relação comercial entre os países. Se Massa vencer, deve continuar como está, mas mesmo com Milei à frente da Casa Rosada, “o dinheiro não vê ideologia”.

“O terceiro governo Lula tem sido muito pragmático nas relações exteriores. Eu não duvidaria que, caso Milei seja eleito, Lula vá à posse. O Brasil hoje tem uma maturidade diplomática e comercial suficiente que foi resgatada, porque se perdeu um pouco nos últimos quatro anos, para dialogar com qualquer país independentemente da linha político ideológica que tem aquele governante daquele país”, afirma.

“E não só isso, também as empresas em si não estão olhando para isso, é óbvio prestam atenção em tudo, mas, na hora de negociar, é a empresa com empresa e isso acaba sendo irrelevante, até porque nosso agronegócio e a indústria brasileira dependem muito da Argentina mas o agronegócio e a indústria argentina também dependem muito do Brasil”, completa.

*Com informações de IG