A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, concedeu entrevista ao Financial Times e causou desconforto no primeiro escalão do governo Lula (Foto: Breno Esaki / Metrópoles)

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, defendeu um teto para exploração do combustível fóssil; colegas do primeiro escalão não gostaram

Ministros do primeiro escalão do governo Lula não gostaram da última declaração de Marina Silva, a chefe da pasta do Meio Ambiente, sobre produção de petróleo. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Marina defendeu um teto para exploração do combustível fóssil.

Isso, na verdade, é pedir coerência com a promessa de descarbonização da economia, mas ocorre logo após o governo petista dizer que entraria no grupo ampliado da Opep – organização dos maiores produtores de petróleo no mundo – e anunciar que aumentará a produção nos próximos anos.

“Uma questão que terá de ser enfrentada é a questão dos limites, de um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão de enfrentar”, afirmou a ministra do Meio Ambiente.

Marina Silva está certa em defender esse limite, mas era previsível também que gerasse desconforto na quinta gestão petista.

Promessas de campanha

Acontece que Lula foi eleito levantando a bandeira da sustentabilidade, da mudança da matriz energética e da restauração ecológica após os retrocessos ambientais dos anos Bolsonaro.

Desde de a ECO 92 se fala em transição energética. Entra presidente e sai presidente – seja de esquerda ou de direita – e os avanços são a passo de tartaruga.

Agora, há um consenso em aumentar as novas fontes renováveis. Nenhum governo, contudo, se posiciona de forma contrária ao aumento da produção de petróleo, que é visto como fonte garantida de riqueza.

Em setembro, o presidente brasileiro deu uma bronca nos países desenvolvidos em discurso na ONU. Recordou que a promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento “permanece apenas isso, uma promessa”. “Hoje, esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”, disse Lula.

Não adianta fazer um discurso firme e sem escorregões, como mostrou a coluna, e depois permitir que outras alas do governo ganhem a queda de braço com Marina Silva em temas que são fundamentais para o Brasil se tornar uma “potência verde”.

Não pela ministra em si. É por causa do projeto de ser uma potência ambiental com menos emissão possível de gases de efeito estufa. Marina não falou em parar de produzir, mas estabelecer um teto.

Lula tem pensando muito em legado neste terceiro mandato, segundo diversos auxiliares já expuseram à coluna. A decisão de colocar um teto para a produção de petróleo no Brasil certamente ajudará nesse projeto ao redor do mundo.

Até porque, as novas frentes de produção atacam o coração do projeto brasileiro de proteção, já que será na Margem Equatorial, na região marítima da Amazônia.

Com informações da Veja