A 'Igreja da Galinha' na Indonésia - Foto: Instagram / Reprodução

Borobudur é um tesouro arqueológico, o maior templo budista do mundo e uma das principais atrações da Indonésia. “Foi construído em três níveis: uma base piramidal com cinco terraços quadrados concêntricos, o tronco de um cone com três plataformas circulares e, no topo, uma estupa monumental”, descreve a Unesco no site oficial dos patrimônios da humanidade.

“As paredes e balaustradas são decoradas com finos baixos-relevos, cobrindo uma superfície total de 2,5 mil metros quadrados. Ao redor das plataformas circulares estão 72 estupas a céu aberto, cada uma contendo uma estátua do Buda.”

Agora um detalhe curioso, que não acrescenta nada à maravilhosidade do grande templo budista mas é um bônus de respeito a qualquer roteiro que dá espaço a atrações mais, digamos, esquisitas. A apenas 20 minutos de Borobudur fica a Gereja Ayam, que em indonésio quer dizer “igreja da galinha”.

Sim, um templo com formato galináceo. Empoleirado em um morro no meio de uma floresta de Java, a excêntrica igreja oferece tanto uma vista inspiradora para Borobudur em dias de céu aberto quanto um cardápio robusto de teorias da conspiração.

De onde veio? Para que foi feito? Que bicho é esse afinal? É coisa dos antigos colonizadores holandeses? É mal-assombrado?

Templo de Borobudur, maior templo budista de todo o Mundo – Foto: pigprox / Getty Images / iStockphoto

Que lugar é esse?

A história começa com Daniel Alamsjah, então um cristão devoto em 1988. Certa noite, enquanto rezava, ele teria tido uma visão. Uma pomba de asas branquíssimas repousava no topo de um morro. Uma voz lhe ordenava que construísse um templo para pessoas de todas as fés.

No dia seguinte, Alamsjah tinha certeza que teve uma alucinação pesada daquelas. Ele tinha mais o que fazer, e seu cargo de gerente na Basf já era uma fonte constante de dores de cabeça.

A Indonésia é o maior país muçulmano do mundo. Dos mais de 270 milhões de habitantes, 231 milhões são devotos do Islã (desses, 99% são sunitas). Então, o Ramadã é uma época que mobiliza todos os habitantes do país, não importa a fé do cidadão.

Naquele ano, na volta do feriado, um funcionário da empresa, membro da equipe de Alamsjah, sumiu sem dar notícia. Lá foi o patrão encarar os mais de 500 km que separam Jacarta de Magelang, a cidade do subalterno sumido. O homem estava bem, obrigado, só queria mais um dia em casa com a família. Tudo bem. Para não fazer o chefe ter perdido a viagem à toa, ele convidou Alamsjah para assistir ao nascer do sol em um morro da região.

Foi uma revelação. Segundo Alamsjah, era a mesma colina de seu sonho. À noite, lendo a Bíblia, ele travou em um versículo do Livro de Isaías: “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros”.

Foto: uzone.id

O homem ficou decidido a tomar uma atitude. Comprou um terreno em Magelang e, com sua experiência nula em arquitetura, desenhou o templo na forma da pomba que apareceu em seu sonho. Um homem que participou das obras contou ao site “Atlas Obscura” que, no começo, a igreja parecia mesmo uma pomba. “Mas aí a gente acrescentou a coroa. O Daniel queria uma, para simbolizar o sagrado, mas as pessoas acharam que era a crista de um galo. Então passaram a chamar de galinha, não de pomba.”

A confusão aviária é só uma anedota, mas as obras tiveram problemas sérios. Em 1996, com a construção em andamento, houve algumas tentativas de proibição do templo. As raízes cristãs de Alamsjah seriam um problema naquela região majoritariamente muçulmana. Por mais que ele insistisse que o templo seria ecumênico, sobraram reclamações à iniciativa.

Em 2000, os críticos conseguiram o que queriam. Não por motivos religiosos, mas econômicos. Alamsjah interrompeu as obras por falta de verbas.

A “galinha” inacabada estava agora abandonada em meio à natureza, que logo a cobriu de ervas e raízes. Humanos deixaram sua marca ao pichar os muros — a assinatura universal de qualquer construção largada.

O tempo passou, Alamsjah mudou de emprego, mas não abandonou a ideia. Agora à frente de uma clínica de reabilitação nas redondezas, ele pedia aos funcionários que coletassem doações aos poucos visitantes que apareciam.

Os números eram irrisórios. Mal chegavam a cem pessoas por mês. Passaram-se quase duas décadas e a pomba não alçava voo.

Fotografia aérea da igreja nos dias atuais – Foto: Divulgação / Bukit Rhema

Em 2015, o jogo virou quando um famoso filme adolescente indonésio teve cenas rodadas ali e alguns sites em língua inglesa divulgaram o estranho templo no Ocidente. Segundo Alamsjah, a igreja passou a receber 2 mil visitantes por semana, que deixavam na caixa de doações algo em torno de US$ 1 cada.

Isso foi o suficiente para as obras recomeçarem. Gereja Ayam ganhou acesso pavimentado, azulejos, vitrais e até uma cafeteria, e agora recebe as visitas com mais estrutura. O poleiro da galinha, finalmente, está mais limpinho.

*Com informações de Uol