Patrícia Pontes com a primogênita e os quadrigêmeos quando tinham um ano; hoje as crianças já têm nove anos e a mais velha está com 16 anos de idade (Foto: Arquivo Pessoal)

Mulher no interior de SP enfrentou divórcio e encontrou nova profissão com horários flexíveis para cuidar das crianças

Patrícia Pontes, 39, de São José dos Campos (97 km de São Paulo), já era mãe de uma menina de sete anos quando engravidou de quadrigêmeos, em 2014, após uma fertilização in vitro.

Após o parto prematuro aos sete meses, dois anos e meio se passaram até o diagnóstico de que os quatro nasceram com paralisia cerebral.

Patrícia conta ter notado que algo de diferente estava acontecendo com os filhos, quando comparados com a primogênita, Eduarda, hoje com 16. Eles não se sentavam nem andavam. Ela suspeitava ser consequência da prematuridade e que, com o tempo, iriam evoluir.

Após testes e exames, a mãe diz que estava sozinha no dia que recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral dos quadrigêmeos. O trecho de uma hora de carro para voltar até sua casa, em São José dos Campos, foi o tempo que levou para assimilar a notícia.

“Nunca procurei saber o motivo da paralisia. Não faz sentido para mim. Nossa realidade continuaria a mesma e o amor sempre vai prevalecer. Diagnóstico não é destino e sempre vou procurar os melhores tratamentos para eles”, disse.

Cada um desenvolveu um nível diferente da paralisia. Leonardo precisa de apoio para andar e faz uso de um andador. Maya é cadeirante e precisa de apoio para as atividades diárias, por não ter controle cervical. Também tem transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.

Rafaella anda sem necessitar de apoio. O caçula da família, Gabriel, é cadeirante e tem autismo e epilepsia.

As crianças completam nove anos de idade em 2023 e têm uma infância como a de quaisquer outros meninos e meninas. A dificuldade é com a locomoção. Fazem duas sessões de terapia ocupacional por semana e quatro de fisioterapia, como parte da busca por autonomia.

Em 2018, Patrícia se separou do então marido e pai dos quadrigêmeos. Eduarda é fruto de um primeiro relacionamento.

Foi um período difícil, conta. Patrícia se recorda de ter pouca renda para o sustento das crianças, e precisou da ajuda financeira dos pais dela.

Divorciada, com cinco filhos para criar e sem horários disponíveis para trabalhar em um emprego presencial e acompanhar os quadrigêmeos, precisou se adaptar. A internet acabou mostrando o caminho.
Há cerca de quatro anos, tornou-se uma influenciadora digital. “Uma loja de roupas um dia me perguntou quanto eu cobraria para falar do estabelecimento e respondi que poderiam dar em troca alguma roupa. Comecei a cobrar valores simbólicos e aumentei com o tempo”, conta.

O dia a dia é agitado na casa da família no interior de São Paulo. Os quadrigêmeos estudam pela tarde em uma escola municipal, com apoio de um acompanhante pedagógico oferecido pela própria rede.
Acho que todo mundo imagina, quando se fala ‘mãe de quadrigêmeos e mais uma’, que é uma mãe acabada, cansada, que não se cuida. O que tento passar para as mulheres é a necessidade de ter um tempo para si mesma, se cuidar

É quando Patrícia aproveita para trabalhar, gravando e editando as fotos e vídeos de publicidade. Também faz compras no mercado, atividades físicas e limpa a casa, que tem dois andares e não é adaptada.

Pela manhã, Patrícia acompanha as sessões de terapia ocupacional, fisioterapia, hidroterapia e musicoterapia dos quadrigêmeos, que também são acompanhados por fonoaudióloga, psicóloga e psicopedagoga. Parte do atendimento é em casa, via convênio médico –foi preciso buscar a Justiça para conseguir o tratamento pelo convênio.

Ela conta com o apoio de uma babá quatro dias na semana, além da valiosa ajuda da primogênita.
“Ela amadureceu rápido demais e criou muitas responsabilidades. Ajuda a limpar a casa, preparar a comida, dar banho e brincar com os irmãos. É algo que vem dela. Cuida de todos e já cuidou muito de mim quando precisei ficar em repouso absoluto”, conta.

O repouso aconteceu desde o primeiro mês da segunda gestação e durou até o trabalho de parto. Cardíaca, Patrícia teve um deslocamento da placenta. Como a gravidez era de risco, não podia sair da cama nem ir ao banheiro ou tomar banho. Eduarda era quem lhe levava a comida.

Diante da rotina com cinco filhos, Patrícia encontrou no autocuidado uma forma de terapia. Buscou fazer caminhada, exercício físico, se maquiava e fazia hidratação caseira, independentemente da situação.

Com namorado há quatro anos, após os percalços, diz se sentir completa como mãe e como mulher. “Acho que todo mundo imagina, quando se fala ‘mãe de quadrigêmeos e mais uma’, que é uma mãe acabada, cansada, que não se cuida. O que tento passar para as mulheres é a necessidade de ter um tempo para si mesma, se cuidar”, diz.

Com informações da Folha de S.Paulo