O presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta sexta-feira (30) que o reconhecimento de um Estado palestino “não é simplesmente um dever moral, mas uma exigência política e realista”. Macron afirmou que os europeus teriam que “adotar uma postura coletiva mais rígida” contra Israel, “se não houver uma resposta à altura da situação humanitária nas próximas horas e dias” na Faixa de Gaza, disse o presidente francês em coletiva de imprensa em Singapura.
O líder francês listou ainda uma série de medidas que serão discutidas durante uma Conferência internacional na ONU, prevista entre 17 e 20 de junho em Nova York, que será copresidida pela França e pela Arábia Saudita.
“A criação de um Estado palestino (…) que reconheça Israel e seu direito de viver em segurança, e a criação de uma arquitetura de segurança na região, são o único resultado desejável para a segurança de todos e o único que garantirá a paz na região”, detalhou Macron na coletiva realizada ao lado do primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong.
Macron defendeu ainda a libertação dos reféns, a desmilitarização do Hamas, a não participação do Hamas no novo Estado e a reforma da Autoridade Palestina.
Giro asiático
O presidente francês, Emmanuel Macron, encerra nesta sexta-feira uma turnê de seis dias pelo Sudeste Asiático. O objetivo da viagem é estreitar os laços comerciais da França com a região, num momento em que as medidas tarifárias do presidente americano, Donald Trump, pressionam a União Europeia e também os paises exportadores locais.
A turnê começou no Vietnã, no domingo (25), onde Macron assinou contratos que somam mais de 9 bilhões de euros, em áreas como aviação, defesa, energia e tecnologia. De Hanói, o presidente seguiu para a Indonésia e, agora, está em Singapura.
Influências e parcerias
Emmanuel Macron chegou na noite de quinta-feira a Singapura para uma visita de Estado de dois dias. A passagem comemora os 60 anos de relações diplomáticas entre França e Singapura — como informou o Ministério das Relações Exteriores do país.
Hoje, o presidente francês participou de uma cerimônia oficial no Parlamento e se encontrou com o presidente de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, e com o primeiro-ministro, Lawrence Wong.

Durante a visita, os dois líderes acompanharam a assinatura de vários acordos de cooperação em áreas como defesa, segurança, justiça, inteligência artificial e transportes. Em abril, Macron e Wong já tinham demonstrado interesse em reforçar ainda mais essa parceria ? com planos de transformar a relação entre os dois países numa Parceria Estratégica mais ampla.
A França é hoje o segundo maior parceiro comercial de Singapura dentro da União Europeia, no comércio de bens. Em 2024, essa troca movimentou 21,5 bilhões de dólares de Singapura.
À noite, pelo horário local, Macron faz o discurso de abertura do Diálogo de Shangri-La — o principal fórum da Ásia sobre segurança e defesa. É a primeira vez que um líder europeu abre a conferência, e o presidente francês deve aproveitar o momento para reforçar o papel da França — e da Europa — como defensores da cooperação internacional e de um comércio global baseado em regras.
Segundo o Palácio do Eliseu, o tom do discurso deve ser um contraponto às táticas comerciais mais coercitivas e predatórias adotadas pelos Estados Unidos e pela China.
França como terceira via
A visita de seis dias faz parte de uma estratégia mais ampla sobre como a França tenta expandir sua influência no Sudeste Asiático.
Macron quer apresentar Paris como uma alternativa de parceria — tanto em segurança quanto na economia — para os países da região, num momento em que as tensões entre China e Estados Unidos só aumentam. E isso preocupa os governos locais, que não querem ser forçados a escolher um lado.
Durante a passagem por Jacarta, o presidente francês reafirmou o fortalecimento das relações econômicas e de defesa entre França e Indonésia. Os dois países assinaram uma série de acordos importantes, incluindo uma carta de intenção para a compra de 42 caças Rafale, dois submarinos Scorpène e 13 radares de longo alcance da Thales.
Mas a parada na Indonésia teve um peso político ainda maior do que comercial. O presidente indonésio, Prabowo Subianto, sinalizou uma possível mudança diplomática: ele disse que a Indonésia poderia reconhecer Israel — desde que o país reconheça primeiro um Estado palestino soberano. Macron recebeu bem a proposta, como parte de um esforço mais amplo para promover a paz no Oriente Médio.
Prabowo elogiou o compromisso da França em buscar uma solução pacífica para o conflito e declarou: “A França continuará apoiando os passos rumo à independência da Palestina e vai seguir pressionando por um cessar-fogo imediato em Gaza.”
