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O apresentador Luciano Huck criticou a interrupção na implementação do novo Ensino Médio pelo governo federal. A publicação, que foi feita na segunda-feira, 3, viralizou nas redes sociais e teve milhares de curtidas e comentários.

“O Novo Ensino Médio deve estar acima de diferenças ideológicas. Mesmo com difícil implementação, não faz sentido retroceder à estaca zero. O esforço para oferecer uma escola mais atrativa para os alunos e conectada com as suas expectativas de vida e carreira deve ser permanente”, escreveu em seu perfil do Twitter.

A publicação ocorreu após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidir adiar os prazos de implementação do novo modelo de ensino, que vem sendo alvo de críticas por parte de docentes e entidades estudantis.

O que é a reforma do ensino médio?

É uma mudança no formato do ensino médio (1º, 2º e 3º anos), aprovada em 2017. Cerca de 60% da carga horária passa a ser de conteúdos obrigatórios comum a todos, como Português, Matemática e Química. O restante (40%) é a parte flexível, com percursos optativos segundo o interesse do aluno ou uma formação técnica. O jovem pode, por exemplo, fazer curso técnico em Eletrônica ou aprofundamento de estudos em Linguagens durante o ensino médio, além da carga obrigatória.

Por que foi feita a mudança?

O argumento era de que o modelo anterior (com 13 disciplinas obrigatórias) era engessado e desinteressante ao jovem. No ensino médio, 90% dos concluintes saem sem saber o que se espera em Matemática e 60%, em Português. Além disso, há altos índices de abandono e a abertura da carga flexível serve ainda como oportunidade de abrir espaço para a formação técnica, muito valorizada, por exemplo, em países europeus.

Qual o cronograma da reforma?

A previsão era de que a mudança deveria ser implementada nas escolas a partir de 2022. Significa que, em 2023, há turmas do novo ensino médio no 1º e no 2º ano. Mas havia a possibilidade de iniciar a transição antes. Alguns Estados, como São Paulo, iniciaram a oferta de percursos optativos em 2021.

Por que a reforma foi alvo de críticas?

  • Pressa no debate: Em 2017, a reforma foi instituída via medida provisória (MP) pelo presidente Michel Temer (MDB), o que motivou críticas pela falta de espaço para debate com alunos, professores e entidades. A mudança levou até a um movimento de ocupação de escolas pelos jovens. Mais tarde, a reorganização foi aprovada pelo Congresso.
  • Disciplinas ruins e vestibular: Parte dos especialistas e das entidades estudantis reclama dos problemas de implementação do novo modelo, com baixa oferta de opções em regiões carentes ou de disciplinas que não fazem sentido para os alunos. A mudança, dizem os opositores do modelo, ainda reduz a carga horária das disciplinas obrigatórias, como História e Física, o que diminuiria a competitividade de alunos.
  • Estrutura e desigualdades: Outra crítica é sobre a potencial alta das desigualdades. Colégios ricos têm condições de oferecer múltiplos cardápios de qualidade, mas redes ou escolas vulneráveis não têm infraestrutura ou equipes adequadas. Os Estados se queixam ainda de que há pouco apoio – técnico e financeiro – para implementar a mudança, diante das falhas de gestão do MEC na gestão Jair Bolsonaro (PL) e da pandemia.

Quem pede a revogação da reforma?

Parlamentares de esquerda (alguns do próprio PT), sindicatos docentes, entidades estudantis e parte das organizações educacionais, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Carta aberta assinada por mais de 300 entidades, de março, pede a revogação. Eles argumentam que não seria voltar ao modelo antigo, mas rediscutir a mudança mais democraticamente.

E quem é contrário à revogação da reforma?

Outra parcela das entidades educacionais e dos pesquisadores é contrária à revogação, sob argumento de que o processo exigiu grande esforço e também obteve bons resultados. Nota do Todos pela Educação diz que a reforma “aponta para o caminho certo, mas precisa de ajustes para prosperar com mais qualidade e equidade”. O Conselho Nacional dos Secretários da Educação (Consed) também defende manter a reforma e trabalhar no sentido de fazer ajustes.

O governo Lula é favorável à revogação?

Lula e o ministro Camilo Santana já disseram que a reforma do ensino médio passaria por ajustes e defenderam a necessidade de debater o tema com professores, alunos, famílias e pesquisadores. Não se posicionaram, entretanto, abertamente favoráveis a uma revogação, que envolveria custos, desgaste com os secretários (que já investiram esforço e recursos na reformulação) e negociação política com o Congresso, para aprovar uma revogação completa.

*Com informações de Terra