A organização Migrate Art inaugurou em Londres nesta semana a exposição “From The Ashes” (“A partir das cinzas”, em tradução livre) dedicada a angariar fundos para duas associações indígenas do Alto Xingu na Floresta Amazônica, cujas terras têm sido alvo de desmatamento ilegal. Produzido em colaboração com o centro de pesquisa de artes sediado em Londres, People’s Palace Projects, a mostra reúne novas obras de 29 artistas contemporâneos – indígenas e não indígenas – de todo o mundo, incluindo Cornelia Parker, Aislan Pankararu, María Berrío, Richard Long, Shezad Dawood e Tacita Dean. As obras estão em exibição na galeria The Truman Brewery.
Artistas renomados uniram forças para criar peças únicas para “From The Ashes”, utilizando tintas, pastéis e pigmentos formulados a partir das cinzas e carvão das queimadas que atingiram o Xingu em 2021, criados em parceria com a empresa Jackson’s Art Supplies. Essas obras serão leiloadas na Christie’s, e os recursos vão ser usadas para formar brigadas indígenas de combate a incêndios por meio da compra de equipamentos e financiamento de programas de treinamento. Os fundos arrecadados também apoiarão o desenvolvimento de iniciativas de reflorestamento lideradas por indígenas em todo o território Xingu para auxiliar na recuperação da floresta.
“A Amazônia está sofrendo uma das piores secas de sua história em meio ao contínuo desmatamento criminoso. ‘From The Ashes’ apresenta a resistência diária das comunidades indígenas contra a crise climática e a importância de suas práticas culturais na proteção dos biomas contra os impactos destrutivos das atividades humanas. Isso é muito importante, porque as respostas à crise climática precisam considerar a integridade cultural dos povos indígenas, que representam menos de 5% da população mundial, mas protegem 80% da biodiversidade de todo o planeta em seus territórios”, disse Thiago Jesus, da People’s Palace Projects.
Motivado pelo aumento das temperaturas globais e condições extremas que têm dominado as manchetes nos últimos anos, o fundador da Migrate Art, Simon Butler, juntou-se a uma viagem com a People’s Palace Projects na Amazônia brasileira em julho de 2022, passando tempo com os povos Wauja e Kuikuro que estão resistindo ao desmatamento e às mudanças climáticas em seu território. Os líderes das aldeias mostraram as áreas da floresta que foram queimadas devido à exploração ilegal para dar lugar a gado e soja, e deram permissão para que cinzas e carvão dos restos da queimada fossem levados para Londres. Inspirada no sucesso dos projetos anteriores da Migrate Art, como Multicolour e Scorched Earth, “From the Ashes” centra-se na ideia de transformar a destruição do território Xingu em criação, abordando a necessidade urgente de conservação e proteção da Floresta Amazônica, e apoiando a luta das comunidades que a chamam de lar.
“Visitar a Amazônia e as comunidades indígenas do Xingu me colocou cara a cara com a dura realidade da devastação da floresta – foi um chamado de alerta intenso. ‘From The Ashes’ tem como objetivo continuar aumentando a conscientização sobre a crise climática, que afeta a todos. Após minha visita, senti-me compelido a fazer tudo em meu poder para apoiar as comunidades Xingu em sua luta contra o desmatamento. Ao reunir as obras de artistas contemporâneos e indígenas, esperamos oferecer uma nova plataforma para discussão e ação sobre essa crise. Chegamos como estranhos, mas saímos como amigos, e sinto-me compelido a fazer tudo o que posso para ajudar o povo Xinguano em sua luta para preservar a floresta”, disse Butler.
Piratá Waurá, cineasta e pesquisador indígena Wauja, ressaltou que por séculos temos usado a natureza – sementes de urucum e óleo de coco de pequi – para pintar nossos corpos e nossas cerâmicas tradicionais: “Agora, artistas contemporâneos ocidentais se juntaram a nós, usando o que resta da floresta em chamas: as cinzas. Esperamos que este projeto traga consciência ao desmatamento ilegal e nos equipe – povos indígenas – para recuperar e evitar uma destruição adicional de nosso território.”
