No interior do Estado do Amazonas, noroeste do Brasil, profissionais que dedicam suas vidas e estudos à arqueologia amazônica realizam escavações científicas e encontram os “cacos de índios”, assim chamados pela comunidade local. Desde 2001, pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP trabalham em parceria para armazenar os vestígios arqueológicos encontrados na região e socializar esse patrimônio. As ações deram origem a Arqueologia e conhecimentos tradicionais nas comunidades ribeirinhas: da terra para a lousa, disponível para leitura e download no Portal de Livros Abertos da USP.
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã e na Floresta Nacional de Tefé, na região do Médio Solimões, comunidades escolares desejavam obter acesso aos dados produzidos “em seus quintais”, como forma de melhorar o ensino local e promover o desenvolvimento das novas gerações.
“O livro foi gestado ao longo de quatro anos e nasceu da vontade de professoras e professores que atuam no interior do Estado do Amazonas. O material tem foco na floresta amazônica, mas é uma ótima ferramenta para ser utilizada em qualquer parte do País”, afirma Maurício André da Silva, organizador e um dos autores. Ele descreve a publicação como uma maneira do grupo afirmar o compromisso da ciência com as pessoas e com a transformação social.
De acordo com os organizadores, a publicação é direcionada para trabalhadores da educação da rede básica de ensino (Ensino Infantil, Fundamental e Médio) em contextos comunitários no interior do Amazonas, especialmente nas comunidades ribeirinhas localizadas em Unidades de Conservação de Uso Sustentável. A arqueóloga Márjorie do Nascimento Lima, uma das organizadoras do livro e colaboradora do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos, do MAE, destaca a importância de um material como este em um espaço marginal de educação.
“Nas comunidades ribeirinhas que margeiam o grande rio Solimões é ainda mais difícil a chegada de recursos didáticos para o circuito escolar. Então, a proposta do livro também veio na tentativa de colaborar com essa lacuna, trazendo dados das pesquisas arqueológicas realizadas por nós ao longo dos últimos 7 anos ao menos”, conta. Apesar disso, a abordagem também atrai a leitura e a utilização de qualquer pessoa interessada no tema.
Por se tratar de uma área interdisciplinar, o estudo da arqueologia conta com contribuições da antropologia, história, biologia, geografia, física, química e artes. Não foi diferente com o livro. Produzido a muitas mãos, o conteúdo foi criado por especialistas que atuam na região por meio da etnobotânica, estudos iconográficos, cerâmicos, trabalhos de mapeamento social, antropológicos, entre muitos outros. De acordo com Silva, todos aceitaram o desafio de diálogo e de comunicação de seus trabalhos para um público mais amplo, resultando em textos que tocam diferentes temas. Com isso, a proposta da publicação é inspirar o trabalho de professores de qualquer campo do conhecimento.
Após introduzir a arqueologia amazônica a partir das descobertas e pesquisas, os autores dedicam uma parte da obra para registrar as memórias e interações com as comunidades dos lagos Amanã e Tefé. A lembrança da vida nos seringais e a relação com o território revelam múltiplas identidades, além de modos singulares de vida e de manejo da natureza. O sumário é interativo, permitindo ao leitor acessar diretamente o capítulo desejado.
Os autores oferecem, ainda, algumas dicas para trabalhar a temática em sala de aula. Na terceira e última parte, o livro propõe sequências didáticas que podem ser utilizadas em sala de aula, de acordo com a disciplina. O material é um recurso para conversar com membros da comunidade sobre a história do lugar e as pesquisas arqueológicas desenvolvidas.
“Esse material apresenta dados atualizados das pesquisas arqueológicas, do patrimônio cultural na floresta amazônica e indica os principais debates que ainda não adentraram o mercado editorial de livros didáticos. A compreensão sobre a história milenar de ocupação da floresta amazônica ainda é muito desconhecida pelo País, especialmente para nós, ‘sudestinos’”, diz. E indica uma das propostas do movimento: “Desconstruir os equívocos sobre a região e seus povos, para se apresentar uma floresta que carrega muitos conhecimentos”.
Mais livros gratuitos
O Portal de Livros Abertos da USP é uma plataforma on-line em que é possível baixar gratuitamente, ou ler diretamente no site, livros acadêmicos e científicos. As obras estão divididas em mais de 70 categorias diferentes e seis idiomas. Para acessar o catálogo completo clique aqui.
*Com informações do Um Só Planeta