Kamuu Dan Wapichana protesta em frente ao Ministério da Justiça em Brasília (Foto: Evaristo Sá / AFP)

O comunicado da Polícia Federal emitido à imprensa na tarde de hoje (17) de que as investigações “apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito” repercutiu entre lideranças indígenas do Amazonas.

A Unijava (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) fez duras críticas à investigação da Polícia Federal que descartou o envolvimento de organização criminosa na morte do indigenista Bruno Pereira, 41, e do jornalista britânico Dom Phillips, 57.

Em nota, afirmou que a PF “desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, que apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando em invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual ‘Pelado’ e ‘Do Santo’ fazem parte”.

Ainda de acordo com a Univaja, esse grupo é formado por caçadores e pescadores profissionais, está envolvido no assassinato de Bruno e Dom e foi descrito em documentos enviados ao Ministério Público Federal, à própria PF e à Funai (Fundação Nacional do Índio).

“Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais”, continua a nota emitida pela Unijava.

Descaso e omissão

A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) também emitiu uma nota em solidariedade aos familiares e à Univaja. No documento, as organizações que integram a Frente “realçam a relevância da postura adotada pela Univaja para, em condições adversas, informar, cobrar providências e mobilizar indígenas e comunitários nas operações de buscas dos desaparecidos”.

Na nota, as lideranças indígenas “responsabilizam o Governo Brasileiro pela tragédia que tem a Amazônia como lugar dos acontecimentos e, nesse momento, pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips” e condenam “a morosidade do Governo Federal em adotar providências efetivas na busca de Bruno e de Dom desde o primeiro momento”.

As lideranças que compõem a Frente “reafirmam que a Amazônia – o Vale do Javari e todas as áreas desta região – sob ameaças de garimpeiros, exploradores da madeira e de narcotraficantes não é uma “aventura”. É real e nela vivem mais de 30 milhões de brasileiros, o maior contingente de povos originários que habitam a maior floresta tropical do planeta” e concluem “conclamando a sociedade nacional e internacional para, juntas, impulsionarem ações a fim de que o Governo brasileiro esclareça e responda à pergunta: quem mandou matar Bruno Pereira e Dom Phillips?

Apuração mira mais suspeitos

O superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, afirmou em entrevista à CNN Brasil que trabalha com a hipótese de cinco suspeitos. Até o momento, duas pessoas foram presas temporariamente por 30 dias, os irmãos Oseney da Costa de Oliveira e Amarildo Oliveira da Costa. À PF, Amarildo confessou ter participado do assassinato e apontou o local em que havia enterrado os corpos.

No comunicado à imprensa, a PF, que coordena o comitê de crise para investigação do caso, informou também que as diligências continuam e que, mesmo na hipótese de não haver mandante, outras pessoas devem estar envolvidas no crime e novas prisões podem ocorrer nos próximos dias.

“As investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”, diz o comunicado.

Por Márcia Costa Rosa