Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

Deputados e senadores de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protestam nesta terça-feira (05), na Praça dos Três Poderes, em Brasília, contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O grupo anunciou que vai passar a obstruir os trabalhos da Câmara e do Senado, em um clima de “guerra”.

O líder do Partido Liberal (PL) na Câmara, Sóstenes Cavalcante, o mesmo do ex-presidente, discursou em tom de revolta durante a manifestação. Ele afirmou que os parlamentares da oposição não pretendem recuar enquanto não houver um caminho para a “pacificação” do país.

Discurso combativo

Sóstenes classificou o momento atual como “o mais crítico desde a redemocratização” e alertou que a população precisa estar ciente da gravidade da situação. Ele também agradeceu aos colegas que interromperam o recesso parlamentar para se reunir em Brasília: “Estaremos aqui entrincheirados a partir de agora”.

O deputado aproveitou para fazer um apelo direto à população: “Brasileiros, nós precisamos de vocês”. Sóstenes lançou ainda um aviso ao Executivo, em tom inflamado: “Se é guerra que o governo quer, guerra o governo terá. Não haverá paz no Brasil enquanto não houver discurso de conciliação, que passa pela anistia e pela mudança do fim do foro e impeachment do ministro Alexandre de Moraes” .

Obstrução no Congresso

Chamado de “pacote de paz” pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01” do ex-presidente, o grupo afirmou que vai obstruir os trabalhos tanto no Senado Federal quanto na Câmara dos Deputados. Eles pretendem atrapalhar nas votações e na aprovação dos trabalhos no Congresso, em retaliação à prisão de Bolsonaro.

Entre as medidas defendidas pelo grupo está a defesa da aprovação de um perdão aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, proposta paralisada na Câmara.

O vice-presidente da Casa, o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ) afirmou, em coletiva a jornalistas, que, se assumir comando da Câmara de forma interina, pautará a proposta independente da decisão do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB): “Ele não pode sair do país” .

O grupo formado pela oposição também disse que vai trabalhar para aprovar o fim dos privilégios parlamentares, indo contra o STF, que definiu recentemente que, quando se tratar de crime praticado no exercício da função, o foro privilegiado deve ser mantido mesmo após a autoridade deixar o cargo.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL), em discurso na Avenida Paulista – Foto: Reprodução / Redes Sociais

Críticas a Moraes

Em seu discurso, Flávio também teceu críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Moraes. Ele afirmou que o magistrado “quebrou uma regra moral na sociedade” ao “atacar a família” do pai.

“E é isso que ele continua fazendo. Ele reclamou que as sanções americanas foram estendidas a familiares. falou no plenário do Supremo Tribunal Federal na sexta-feira, como se ele não estivesse fazendo isso reiteradamente há muito tempo. É um imoral” , praguejou.

Flávio questionou decisões do STF que responsabilizam o ex-presidente Jair Bolsonaro por postagens feitas por terceiros em suas redes sociais. Segundo o senador, o conteúdo investigado foi publicado por ele próprio. “Quem fez fui eu, porque eu tenho a consciência de que tenho liberdade para fazer isso como cidadão brasileiro e tenho imunidade como senador da República”, afirmou.

Deputado fala em “liberdade de expressão”

Em tom de forte crítica a Moraes, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que o Brasil vive um cenário de inversão de valores, no qual “manifestação pública virou coação ativa” e que medidas judiciais têm sido aplicadas de forma injusta e desproporcional. “Quer dizer então que o filho do presidente não pode colocá-lo para dar um oi, que ele quebra uma medida cautelar?” , questionou.

O parlamentar também se referiu às recentes acusações contra si no Supremo, envolvendo o processo que apura supostas violações de medidas impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Tentaram, inclusive, no nome do Alexandre de Moraes, me imputar um crime”. “Pessoas que são líderes de comando organizado não têm o mesmo tratamento que o ex-presidente” , comparou.

“Quando vocês irão acordar? Não é uma defesa de pessoas, é de princípio, é de algo acima de nós, de respeito do nosso país. Vocês têm ideia de que somente uma pessoa está decidindo tudo aqui no nosso país?” , argumentou Nikolas, sobre uma suposta imposição de Moraes no cumprimento de mandatos.

Ao determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, Moraes considerou que ele havia descumprido uma das medidas anteriormente impostas: a proibição de acesso às redes sociais, mesmo que por terceiros.

Alexandre Moraes proibiu visitas ao ex-presidente, com exceção de advogados e pessoas autorizadas pela Corte. Também vetou o uso de celulares, redes sociais e contato com embaixadores.

Todas as decisões feitas por ministros do STF podem ser analisadas na corte. Como exemplo, o uso de tornozeleira eletrônica foi apreciado pela Primeira Turma do STF, que reintegrou a decisão de Moraes.

Foto: Gustavo Moreno / STF

Além disso, as medidas segue pedidos feitos pela Procuradoria-Geral da República, que já havia pedido a prisão de Jair Bolsonaro anteriormente.

Impeachment de Moraes

O “pacote de paz”, defendido pela oposição, também prevê a defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Flávio Bolsonaro relatou a jornalistas que os três objetivos principais do grupo são a anistia, o fim do foro privilegiado e destituição do cargo do ministro do Supremo.

Questionado sobre a possibilidade de a oposição reunir as assinaturas necessárias no Senado para abrir um processo de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal, o senador afirmou que não há exigência regimental para alcançar esse número de forma prévia.

“Na verdade, não há necessidade regimental de se ter os 41 assinando. É uma coisa simbólica, porque 41 é o número de senadores necessário para que se inicie um processo de impeachment” , explicou.

Ele reconheceu que, nos bastidores, a avaliação predominante é de que a oposição ainda não dispõe de votos suficientes para levar adiante um impeachment. No entanto, ressaltou que esse cenário não é incomum.

“Em nenhum momento da história do Brasil, quando há um impeachment, inicialmente já se tem os votos certos e suficientes para se tomar alguma medida. (…) Os 41, eu tenho certeza que, se ele pautar [presidente do Senado], nós teremos” , afirmou.

*Com informações de IG