O ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em evento - Foto: Carolina Antunes / PR

Reportagem publicada pela edição de VEJA desta semana mostra que já está em andamento um dos planos de contingência do bolsonarismo para o caso de o ex-presidente não conseguir a tão sonhada anistia do Congresso: a entrada em cena da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, candidata a herdeira pessoal da popularidade do marido. Na manifestação da Avenida Paulista, essa estratégia ficou evidente.

O début da ex-primeira-dama talvez aconteça em breve, numa eleição suplementar no Paraná, caso se confirme a cassação do mandato do senador Sergio Moro, num julgamento marcado para o início de abril. O ex-juiz da Lava-Jato é acusado de abuso de poder econômico. O PL, partido do ex-presidente e da ex-primeira-dama, e a coligação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) — autores da ação — alegam que Moro realizou gastos substanciais em sua pré-campanha à Presidência da República em 2022. Mais tarde, ao optar por disputar uma cadeira no Congresso, teria se beneficiado disso em detrimento dos demais candidatos.

Se o Tribunal Regional do Paraná julgar as acusações procedentes, o senador terá o mandato cassado e será declarado inelegível por um período de oito anos. Ele ainda poderá recorrer ao TSE, que, nos últimos tempos, tem sido célere e rigoroso em casos semelhantes. Se a condenação for mantida, haverá um pleito para escolher o novo representante paranaense no Senado. Em conversas reservadas, Bolsonaro já admitiu que Michelle poderá disputar a vaga.

O PL acredita que a força do bolsonarismo no estado coloca a ex-primeira-dama na condição de favorita logo de início, apesar de ela morar em Brasília e mal conhecer Curitiba. Em 2022, o ex-presidente teve 55% dos votos do estado no primeiro turno e 62% no segundo, elegeu Sergio Moro para a única vaga ao Senado e fez três dos oito deputados federais. A disputa, se houver, será mais um round do embate entre petistas e bolsonaristas. O PT tem duas de suas estrelas de olho na vaga — a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do partido, e o deputado Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu. Além de Michelle, dois apoiadores do ex-presidente se apresentam como pré-candidatos: o ex-deputado Paulo Martins (PL) e o ex-ministro e deputado Ricardo Barros (PP).

Pesquisa mostra possível disputa entre Michelle e Lula

O PL já traçou vários cenários depois de decretada a inelegibilidade do ex-presidente — e Michelle ocupa posição de destaque em todos eles. A disputa para o Senado no Paraná serviria para dar à ex-primeira-dama visibilidade e experiência política. Os planos para ela, porém, são bem mais ambiciosos. Michelle é considerada como potencial candidata a vice-­presidente e até mesmo uma opção para presidente da República. “Temos uma pesquisa mostrando que, numa disputa direta, Michelle está hoje 7 pontos atrás do Lula. Até o final do ano, ela passa”, diz um importante dirigente partidário. Falar sobre essa hipótese, no entanto, incomoda Jair Bolsonaro. Para ele, é cedo para projeções eleitorais que envolvam a esposa e precipitado considerá-lo uma carta fora do baralho. Acuado por investigações sobre uma tentativa de golpe, o ex-presidente, no íntimo, ainda acredita em uma reviravolta.

*Com informações de Veja