Louis Har (de branco) abraça familiares em Israel após ser libertado de cativeiro em Gaza (Foto: Exército de Israel / AFP)

O Exército de Israel anunciou na madrugada desta segunda (12) ter libertado dois reféns do Hamas que eram mantidos em cativeiros na Faixa de Gaza após conduzir ataques em Rafah, cidade que faz fronteira com o Egito. As ações ocorreram na iminência de uma ação terrestre em larga escala na região que abriga metade dos 2,4 milhões de palestinos do território, muitos dos quais forçados a se deslocar na guerra.

Segundo os militares, os resgatados são Fernando Simon Marman, 60, e Louis Har, 70, que têm nacionalidade israelense-argentina. Eles haviam sido capturados pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro, quando terroristas invadiram Israel e fizeram uma série de atentados. “Ambos estão em boas condições médicas e foram levados ao hospital Sheba Tel Hashomer para avaliação”, diz comunicado.

Os reféns estavam no segundo andar de um prédio em Rafah que foi invadido pelos soldados. O tenente-coronel Richard Hecht disse que houve uma intensa troca de tiros durante a incursão, mas não divulgou detalhes. A ação teve atuação conjunta das Forças Armadas de Israel, da Shin Bet, a agência israelense de segurança interna, e da unidade especial da polícia em Rafah.

“Estávamos trabalhando há muito tempo nessa operação e esperando as condições certas”, disse Hecht, porta-voz militar israelense.

Mais tarde, após a ação, Israel divulgou fotos das vítimas. As imagens mostram os homens sentados em uma cama no hospital ao lado de familiares. O governo de Javier Milei agradeceu Israel pelo resgate.

A incursão teve o apoio da Força Aérea de Tel Aviv. As forças israelenses confirmaram os ataques na área de Shaboura, em Rafah, e afirmaram que todos os alvos eram “terroristas”. Já o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que ao menos cem pessoas morreram, muitas dos quais civis inocentes. Casas e mesquitas teriam sido destruídas nos ataques da madrugada, quando muitos que ali residem provisoriamente estavam dormindo.

“Só a pressão militar contínua” até à “vitória” permitirá a libertação de todos os reféns em Gaza, disse o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, horas depois da libertação dos dois homens. Cerca de 130 pessoas sequestradas em 7 de outubro ainda estariam sob a mira do Hamas no território palestino.

Rafah concentra atualmente a maior parte da população do território adjacente a Israel, que se viu obrigada a se deslocar para o sul para fugir dos ataques, por ar e terra, conduzidos pelas forças israelenses nas demais partes da Faixa desde o começo da guerra.

O Hospital Europeu, que atua nos arredores de Rafah, precisamente em Khan Yunis, desde os anos 1990 após ser construído com doações da União Europeia, afirmou à agência de notícias Reuters que ao menos oito corpos chegaram ao local após os ataques.

Em comunicado, também o Crescente Vermelho, a versão da Cruz Vermelha em países de maioria muçulmana, afirmou que ações “violentas” estavam sendo operadas em Rafah. “Foi a pior noite desde que chegamos a Rafah no mês passado. A morte estava tão próxima quando projéteis e mísseis caíram a 200 metros do nosso acampamento”, disse o palestino identificado apenas como Emad, pai de seis filhos, à agência Reuters. “Minha família e eu fizemos nossas últimas orações.”

Tudo isso ocorre em meio a afirmações de Netanyahu de que suas tropas muito em breve conduzirão uma ação terrestre em Rafah sob o argumento de eliminar os últimos terroristas da facção Hamas, além de resgatar mais reféns.

O temor da comunidade internacional, já verbalizado por líderes como o americano Joe Biden, reside nas vidas civis em jogo nesta porção de Gaza que hoje abriga os deslocados internos desse conflito.

Frente a isso, Bibi (como o primeiro-ministro é conhecido) alegou que a operação por terra iria prever alguma passagem segura para que os civis de Rafah pudessem sair ilesos dos ataques. Há, porém, grande ceticismo quanto a isso por parte de especialistas, para os quais uma operação desse porte seria inviável em uma área tão densamente povoada.

Na maioria dos casos, as vítimas são palestinas, mas houve episódios em que israelenses também foram alvos. Em dezembro, três israelenses feitos reféns pelo Hamas foram mortos por engano por soldados de Israel. Investigações posteriores constataram que os três homens agitavam bandeiras brancas e pediam ajuda gritando em hebraico quando foram baleados.

Ainda nesta segunda, Israel pediu às agências humanitárias da ONU que ajudem em seus esforços para retirar civis das zonas de guerra de Gaza antes da operação terrestre em larga escala na cidade de Rafah. “Não diga que isso [retirada de civis] não pode ser feito. Trabalhem conosco para encontrar uma maneira”, afirmou Eylon Levy, porta-voz do governo israelense.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 28.340 palestinos morreram desde o início da guerra, e quase 68 mil ficaram feridos. As ações de Tel Aviv foram iniciadas após os atentados de 7 de outubro, quando cerca de 1.200 pessoas foram assassinadas em Israel.

Na última semana, o Exército de Israel disse ter comunicado 31 famílias de reféns sobre a morte de seus parentes. Antes desta segunda, as forças de Tel Aviv só haviam conseguido resgatar uma refém em suas incursões a Gaza.

Com informações da Folha de S.Paulo