Foto: Dirce Quintino / FAS

Aproximadamente 1,5 mil famílias de 31 comunidades localizadas em Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas já foram beneficiadas com a instalação de pontos de conectividade com internet via satélite Starlink. A iniciativa faz parte do projeto ‘Conexão Povos da Floresta’, que tem apoio da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e outras organizações, e tem o objetivo de levar internet para povos e comunidades isoladas da Amazônia Legal, contribuindo para o acesso à saúde, educação, segurança e gestão do território, além de oportunidades de geração de renda nessas localidades.

O projeto alcançou comunidades onde a FAS já atua, situadas nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Amanã, Rio Negro, Uatumã, Juma, Uacari e Mamirauá, nas Reservas Extrativistas (Resex) do Rio Gregório, Médio Juruá, Lago do Capanã Grande, Baixo Jutai, Auati-parana e Catuá Ipixuna, além da Floresta Nacional (Flona) de Tefé. Os Núcleos de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Nieds) e os escritórios da FAS nos municípios também foram contemplados com internet do programa conexão povos da floresta, totalizando 47 pontos. Nos próximos dias serão instalados mais 16 pontos de conectividades, beneficiando novas comunidades.

Os benefícios do ‘Conexão Povos da Floresta’ são atestados pelo presidente da Associação dos Moradores da Resex do Rio Gregório, José Deusiano Pinheiro de Oliveira. Morador da comunidade do Lago Grande, ele relata que o projeto ajuda tanto para a comunicação dos comunitários com seus familiares quanto para a realização de negócios.

“O ponto de internet abrange cinco comunidades, com cerca de 50 famílias e essas famílias fazem uso direta e indiretamente do serviço. Aos finais de semana, elas se deslocam até o ponto para se comunicar com os parentes que estão longe. É muito positivo, hoje a comunicação via internet facilita bastante. Por meio dela, nos comunicamos com nossos parceiros. Temos famílias que extraem látex e têm contrato com a Michelin, então precisamos da internet para ter essa ponte”, conta José Deusiano.

Segundo o coordenador de articulações institucionais da FAS, Ademar Cruz, o objetivo do projeto é “conectar” cinco mil comunidades amazônidas até 2025. “Nossa meta é adquirir de 300 a 500 kits de internet para beneficiar comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Queremos chegar a 100 comunidades conectadas até o fim do ano”, afirma.

A instalação da internet vai contribuir para o acesso a serviços de saúde, educação, além de ajudar nas atividades econômicas exercidas pelas comunidades. A FAS realiza uma consulta junto às associações de moradores da UCs, para identificar as demandas e definir onde serão os pontos de conectividade. “As comunidades também precisam atender critérios para receber o kit de internet, como ter demandas relacionadas à telessaúde e educação, além de ter uma atividade de geração de renda, como turismo ou artesanato, por exemplo”, explica Ademar.

Inicialmente, as comunidades contempladas são aquelas que já têm outro importante projeto da FAS implementado: o da telessaúde, que promove teleatendimentos em saúde para populações indígenas e ribeirinhas. A tecnologia Starlink vai contribuir para que os comunitários se consultem com especialistas em saúde à distância. Mas o ‘Conexão Povos da Floresta’ vai além, garante o coordenador da FAS.

“A internet vai atender bem a necessidade de cada comunidade, seja ela de comunicação com a cidade, seja para divulgar seus produtos e empreendimentos, seja para a saúde. Um exemplo é a comunidade Tiririca, no Rio Negro, onde a internet vai funcionar para atender mais a área de empreendedorismo, pousada e artesanato”, acrescenta Ademar.

Comunicação fortalecida

Além dos kits de internet, as comunidades também serão contempladas com painéis de energia solar para alimentar os pontos de conectividade. Ademar explica que, antes da instalação, os moradores são sensibilizados sobre a importância e o uso da internet, além de concordarem com um manual de regras para a melhor gestão do serviço. Os comunitários também recebem treinamento para utilizar os equipamentos.

“As comunidades ficam muito agradecidas, pois tira eles do isolamento, e esse é um dos objetivos do ‘Conexão’. Um retorno legal que eu recebi de uma das comunidades do Gregório foi que o ponto de conectividade foi instalado de manhã e à tarde a família conseguiu falar com o patriarca que estava internado no hospital em Rio Branco, e eles estavam sem notícias sobre o estado de saúde dele. Essa missão nos fez enxergar os desafios, que é fazer com que a internet chegue a essa comunidade e que ela tenha um bom uso”, relata Ademar.

Para o futuro, o comunitário José Deusiano deseja que o projeto ‘Conexão Povos da Floresta’ amplie cada vez mais. “Esperamos que possa chegar mais internet nessas comunidades isoladas e localidades dentro da Resex, que os parceiros possam nos ajudar cada vez mais a diminuir esses espaços de comunicação entre as comunidades”, afirma.

A aldeia Raízes da Ayahuasca também é um dos territórios que passou a ter acesso a internet e, segundo a cacica Joana Kokama, a tecnologia traz muitos benefícios. “Para nós, a internet veio como uma benção, porque aqui é distante e de difícil acesso. Eu nunca imaginei que a gente teria um aparelho de internet para a gente conversar, oferecer melhoria na educação”, afirma.

A partir da instalação do ponto de conexão, os indígenas conseguiram atendimento médico de urgência o que, segundo eles, salvou a vida de seu parente. “Se não tivesse essa comunicação, acho que teríamos perdido o nosso irmão”, concluiu.

Uma das dificuldades que tivemos recente foi com o seu Amilson [comunitário que ficou doente], e eu pedi que ligassem para a cacique Milena [Kokama] que estava na cidade para garantir ambulância.

Com informações da FAS