Fiéis exibem tatuagem coletiva em igreja de Santa Catarina - Foto: Reprodução / Instagram

A Igreja Reino, localizada em Balneário Camboriú (SC), publicou ontem imagens de uma sessão de tatuagens promovida para seus fiéis, em que os participantes receberam a mesma referência de uma citação bíblica. O episódio vem sendo duramente criticado por cristãos nas redes sociais, que questionam o posicionamento da congregação.

Segundo o vídeo compartilhado no perfil de Eduardo Reis, fundador da Reino, a tatuagem é um “símbolo da missão como igreja”. Diversos fiéis, em sua maioria jovens, contaram o que os motivou a participar da ação. “Para lembrar o nosso propósito, lembrar o que Deus entregou para nós”, declarou uma das entrevistadas. “É muito mais do que uma marca no nosso corpo, [a tatuagem] é algo que vai expressar em todos os dias da nossa vida e vai nos lembrar daquilo que Cristo nos chamou para fazer nessa Terra”, disse outra.

A tatuagem feita pelos fiéis diz “Mateus 24:14”. O versículo bíblico ao qual a tatuagem remete indica: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”. Reis, que atua como pastor sênior na congregação, descreveu na postagem que os fiéis da Reino que participaram da sessão decidiram “não esquecer” do conteúdo do versículo “nem por um segundo”.

Ação vem recebendo críticas nas redes sociais

Ainda em seu perfil no Instagram, Reis compartilhou um trecho de uma pregação em que fala sobre o episódio. “Eu detesto tatuagem, nunca gostei, tenho abominação. Fiz uma porque eu senti no meu espírito que Deus queria que eu tivesse em mim um memorial da missão que Ele me deu”, disse o pastor. “[Deus queria] Que corresse aqui, ‘ó’, aqui onde corre o meu sangue, que tivesse a marca para não esquecer”.

Segundo o pastor, a questão discutida vai além da tatuagem em si. O ponto levantado, conforme Reis, é “ser livre” para fazer o que a pessoa achar que deve fazer. “Para Ele [Deus], não faz diferença nenhuma se você tem uma tatuagem ou não. Porque, se fizesse, Ele ia deixar escrito ‘não faça uma tatuagem'”, disse Reis.

Eu não gosto de tatuagem, mas eu também sou livre para ter uma. E religião nenhuma no mundo vai falar para mim o que eu faço ou não faço no meu corpo. Eu sou livre para ter, do mesmo jeito que eu sou livre para não ter se eu não quiser ter. […] Liberdade não é fazer o que eu quero. É não ter a obrigação de fazer o que os outros querem Eduardo Reis, no Instagram

Nos comentários das publicações sobre o assunto, diversos internautas criticam a atitude da igreja e dos fiéis que optaram por fazer a tatuagem. Entre as interpretações, um seguidor comentou: “Estava na rua servindo sopa para as pessoas. Chego em casa e vejo isso. Vou voltar pra lá”. O pastor Rodrigo Sant’Anna, também bastante ativo nas redes sociais, escreveu: “Em vez de dizer que ‘sou livre’ para fazer o que a carne deseja, prefiro a expressão de Paulo: ‘Sou escravo de Cristo'”.

Outro comentário diz: “Se você precisa de uma tatuagem para lembrar do seu proposito, você precisa descobrir seu propósito”. “Isso [a tatuagem coletiva] é mais uma estratégia para fazer gerar, inconscientemente, um “senso” de pertencimento. Aquela sensação de fazer parte de algo, de um rebanho. Infelizmente é massa de manobra”, analisa outro internauta.

A discussão sobre a tatuagem e sobre a ação coletiva vem se estendendo desde então. Enquanto alguns elogiam a iniciativa, a maioria mantém o tom de crítica. “O problema é achar normal uma igreja divulgar que estão fazendo reuniões para se tatuarem. Jesus não estaria junto nisso, não concordaria, e perguntaria ‘PARA QUÊ?'”, escreveu uma das participantes no debate.

Igreja já foi alvo de reprovações na internet

A estética moderna e minimalista e a utilização de palavras e de expressões em inglês fazem com que a congregação seja considerada elitista por parte dos internautas. O posicionamento da Reino em seu perfil nas redes sociais indica, para alguns, que a igreja é descompromissada com o evangelho.

No ano passado, um vídeo de eventos realizados na igreja viralizou na internet. Nele, é possível ver longas filas se formando na entrada da sede, onde os fiéis são recepcionados com distribuição gratuita de café e soda italiana. O interior do templo, onde ocorrem as pregações, tem paredes pretas, decoradas com luzes neon coloridas. Nos comentários, a experiência proposta pela igreja é vista como “gourmetizada” e “balada gospel”.

No ano passado, o pastor comentou sobre a repercussão da igreja nas redes sociais. Com mais de 154 mil seguidores no Instagram, a instituição visa atrair novos fiéis, com foco no público jovem.

“Se não estivéssemos crescendo, ninguém falaria nada. Até acho que dizer que a gente é cringe, tudo bem. Mas debochar de nossa expressão de fé como meio de engajamento só revela como quem o faz é oportunista e se aproveita de um mundo cada vez mais doente, que precisa rir do que acha estranho. Para mim, isso é tão violento quanto acusar um terreiro de candomblé de comercializar a fé porque quem os visita são artistas. Ou de dizer que a parada LGBTQIA+ é apenas um evento de entretenimento, quando ela é mais do que um evento com música e festa, é a defesa do legítimo direito de existir de um grupo que tem uma identidade.” afirmou Eduardo Reis.

*Com informações de Uol