O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, acredita que havia militares dispostos a dar um golpe de Estado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mas afirma que as Forças Armadas não queriam e não havia uma liderança para materializar esse desejo.
“Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe. É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua. No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança”, diz o ministro em entrevista ao O Globo, publicada nesta sexta-feira, 5, sobre os ataques golpistas do 8 de janeiro.
Durante a entrevista, Múcio também admite que houve “erro” na condução do acampamento em frente ao Quartel-General (QG) do Exército. “No dia 6 ou 7 de janeiro, o comandante do Exército disse que o movimento [em frente aos quartéis] estava enfraquecido. A inteligência tinha detectado uns ônibus, mas nada significativo. Combinamos que eles não entrariam no acampamento. Acho que cometemos um erro. Não era para ter entrado nem os ônibus nem as pessoas que vinham neles, mas as pessoas entraram.”
O ministro, no entanto, cobra o Poder Judiciário por não ter determinado a saída dos manifestantes do local antes das invasões em Brasília. “Será que se nós tivéssemos tomado uma providência mais dura, não teríamos promovido uma cizânia dentro das Forças Armadas? Fomos dentro do que a lei mandava. Por que a Justiça não determinou que se tirasse? Por que tinha que ser um ato imposto pela Defesa? A Justiça não tirou, só depois do dia 8. O ministro Alexandre de Moraes mandou tirar, poderia ter mandado dias 7, 6, 5… Não poderia partir de nós. Poderíamos ter precipitado uma cizânia. Faria tudo de novo do jeito que eu fiz.”.
O titular da pasta responsável pelas Forças Armadas considera que os atos do 8 de janeiro foram “um movimento de vândalos, financiados por empresários irresponsáveis”. Ele conta que, assim que ficou sabendo dos atos, foi ao Ministério da Defesa e, depois, para o da Justiça. “Havia um ambiente já de confusão. Ficamos bem perto das pessoas. Não havia um líder com quem negociar. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças… Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes”, afirma.
Múcio diz que espera que os militares envolvidos sejam punidos: “Torço muito para que as investigações encontrem os culpados. Para as Forças Armadas, é fundamental, para que essa névoa de suspeição que paira sobre os militares se dissipe. Precisamos dos nomes, para puni-los. Isso é de interesse das Forças Armadas: dentro dos seus princípios e suas regras, punir os culpados. Agora, precisamos que a Justiça dê as provas e as ferramentas”.
O ministro da Defesa ainda conta que o dia 8 de janeiro e os 90 dias seguidos foram “tensos” para ele e que, depois do que aconteceu, precisava reconstruir a confiança dos políticos em relação aos militares. “Amanhecemos no dia 9 com o Ministério da Defesa órfão. A esquerda com horror aos militares, porque achava que eles queriam um golpe, e a direita com mais horror ainda, porque eles não deram o golpe. Eu precisava reconstruir a confiança dos políticos com os militares, e vice-versa, a partir da estaca zero”, diz.
Segundo Múcio, hoje ele considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem uma relação “muito boa” com os militares. “Tenho até medo de dizer. O presidente tem uma relação direta, telefona para cada um dos comandantes. Minha tarefa foi essa, pacificar as relações.”
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