Golfinhos em uma enseada em Taiji, no Japão, em foto de 2014 - Foto: Adrian Mylne

Nas praias de uma idílica costa do Japão central, salva-vidas observam a água, prontos para chamar os nadadores de volta à beira ao sinal de uma barbatana. Dentes afiados estão à mostra em cartazes, alertando os banhistas para terem cuidado, porque, pelo terceiro ano consecutivo, há perigo na água.

Não, não são tubarões. São golfinhos. Possivelmente apenas um golfinho solitário e sexualmente frustrado.

Na baía de Wakasa, cerca de 320 km a oeste de Tóquio, ataques de golfinhos feriram pelo menos 47 pessoas desde 2022. Muitas delas sofreram mordidas leves nas mãos, mas algumas foram levadas às pressas para o hospital com ossos quebrados ou ferimentos que precisavam de pontos.

Em 2022, 21 pessoas relataram ferimentos devido a ataques de golfinhos em praias perto da cidade de Echizen, de acordo com a polícia da província de Fukui. A maioria foi relatada durante a estação que um veículo de imprensa japonês chamou de “verão da ameaça dos golfinhos”.

Um homem disse à mídia local que estava nadando perto da costa quando um golfinho mordeu seu braço e tentou se jogar sobre ele, quase o empurrando para debaixo d’água.

No ano seguinte, os ataques se concentraram em praias ao longo da costa perto da cidade de Mihama. Em 2023, dez pessoas ficaram feridas, disse porta-voz da polícia de Fukui. Em um dos casos, um homem ficou com costelas quebradas.

Desde 21 de julho deste ano, 16 pessoas foram feridas em ataques de golfinhos, principalmente nas praias perto de Mihama e da cidade vizinha de Tsuruga, de acordo com autoridades locais. Dois deles tiveram ferimentos graves nas mãos que precisaram de dezenas de pontos.

Por que os golfinhos se aproximaram tanto da costa? Eles estão sendo agressivos ou apenas brincalhões? Por que esses ataques continuaram por tanto tempo?

“Quem sabe a razão? Temos que perguntar aos golfinhos”, disse Hiromu Nohara, funcionário da cidade de Mihama.

Existem algumas teorias, no entanto.

Para começar, pode ser um único golfinho. Ryoichi Matsubara, diretor do aquário Echizen Matsushima, em Fukui, disse que as fotos e os vídeos que ele examinou de alguns dos ataques de 2022 e 2023 parecem mostrar um mesmo golfinho nariz-de-garrafa macho do Indo-Pacífico.

Matsubara disse que o mesmo golfinho pode também ter sido responsável pelos ataques deste ano, embora ainda não tenha obtido imagens recentes.

O golfinho pode estar agindo com comportamento de acasalamento, afirmou ele, acrescentando que, em 2022 e 2023, foi observado tentando “pressionar seus órgãos genitais contra as pessoas”. Mas, em muitos casos, os banhistas foram mordidos quando se aproximaram ou tentaram tocar no golfinho, disse Matsubara.

Putu Mustika, professora e pesquisadora marinha da Universidade James Cook, na Austrália, disse que os golfinhos podem ferir humanos sem querer ao agirem com comportamentos de acasalamento devido à sua grande força.

“Os golfinhos, quando estão acasalando, podem ser muito selvagens”, disse, acrescentando que se lançar sobre um humano poderia ser um ato sexual e um sinal de que este era um “golfinho excitado e solitário”.

Este golfinho também pode ser naturalmente agressivo e estar irritado com humanos que tentam tocá-lo, acrescentou Mustika.

Os golfinhos geralmente são animais sociáveis em grupo, mas golfinhos solitários que buscam contato humano não são incomuns.

Nos anos 2000, um golfinho nariz-de-garrafa chamado Moko visitou a mesma extensão costeira na Nova Zelândia por três anos. Ele se tornou uma celebridade nacional por suas interações brincalhonas com nadadores. Mas seu comportamento, às vezes, era perturbador, como quando ele se recusou a deixar uma mulher voltar para a beira da praia.

Em 2018, uma cidade francesa proibiu temporariamente banhos de mar depois que um solitário golfinho nariz-de-garrafa macho, apelidado de Zafar, começou a exibir comportamento sexual, incluindo se esfregar em nadadores e barcos.

Cartaz usado por autoridades do Japão para alertar sobre ataques de golfinhos em algumas praias do país – Foto: Reprodução

No Japão, as autoridades da província de Fukui implementaram uma série de medidas para tentar conter os ataques, com graus variados de sucesso.

Eles instalaram dezenas de dispositivos acústicos subaquáticos que emitem um ruído de alta frequência projetado para afastar os golfinhos. Colocaram placas e distribuíram panfletos alertando os banhistas que os golfinhos podem morder ou até arrastar nadadores mar adentro. Algumas praias têm horários limitados para nadar e foram iniciadas patrulhas de salva-vidas.

Sobretudo, eles querem simplesmente que as pessoas parem de tentar interagir com os golfinhos.

“As pessoas fugiriam se fosse um urso. Não há diferença entre golfinhos e ursos em termos de capacidade destrutiva”, disse Matsubara.

“Nós, profissionais, temos medo deles”, acrescentou, “mas as pessoas que não sabem disso acham que eles são fofos”.

*Com informações de Folha de São Paulo