O Uruguai está no centro de um dos maiores escândalos financeiros de sua história, envolvendo uma suposta fraude de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,69 bilhão) em fundos de investimento vinculados à pecuária. Cerca de 6 mil investidores, muitos deles uruguaios urbanos de classe média, foram impactados pelo colapso de três empresas: Conexión Ganadera, República Ganadera e Grupo Larrarte.
Como funcionava o esquema?
As empresas ofereciam contratos de investimento em gado, prometendo retornos anuais de até 10% em dólares, com base na imagem sólida do setor pecuário uruguaio — responsável por 10% do PIB nacional. Os investidores acreditavam estar comprando “participações” em rebanhos, mas descobriram que os animais não existiam ou estavam supervalorizados. A Conexión Ganadera, a mais afetada, admitiu uma dívida de US$ 384 milhões,contra apenas US$ 158 milhões em ativos, caracterizando um possível esquema Ponzi.
Fatores que agravaram a crise
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Contexto Econômico: a seca de 2022-2023 causou perdas de US$ 1,7 bilhão no setor agrícola, elevando os custos de arrendamento de pastagens. O aumento das taxas de juros pós-pandemia reduziu a rentabilidade dos investimentos em gado.
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Falhas Regulatórias: o Banco Central do Uruguai investigou as empresas desde 2018, mas alertou que os contratos de gado não estavam sob sua jurisdição, deixando brechas para operações fraudulentas.
Impacto social e investigação
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Perfil dos investidores: A maioria era de profissionais urbanos, como o cardiologista Oscar Spalte. Ele investiu mais da metade de suas economias em contratos de 6 a 24 meses.
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Consequências judiciais: As empresas entraram em recuperação judicial, com bens dos fundadores congelados (US$ 250 milhões no caso da Conexión Ganadera). O Ministério Público investiga crimes financeiros, enquanto tribunais avaliam liquidação de ativos para reembolsos parciais.