Ex-ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro e um dos principais aliados políticos do ex-presidente, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirma à coluna que as eleições na França deram um recado claro à direita brasileira: “Se agirmos com radicalismo e soberba, vamos perder em 2026”.
A ultradireita francesa, tida até então como franca favorita para assumir o poder, ficou em terceiro lugar no pleito de domingo (7), depois de a esquerda e o centro formarem uma aliança para derrotá-la.
“A gente tem toda a chance de vencer a próxima eleição presidencial no Brasil”, segue ele, referindo-se ao grupo reunido em torno de Bolsonaro.
“É uma eleição ganha se falarmos para a maioria. Mas, se ficarmos apenas dialogando com a bolha de extrema direita, não teremos chance”, reforça o parlamentar, que é presidente do PP, o maior partido de apoio ao ex-presidente.
Ele afirma que essa “percepção deslocada” faz com que conservadores liberais na economia que não enfatizam questões de costumes sejam estigmatizados “pelas correntes mais fundamentalistas da Direita brasileira”.
É preciso afastar, diz, a ” lógica plebiscitária em que o extremismo se torne pior do que a união de forças contra ele”.
“Os setores vigorosos da direita acham que podem vencer sozinhos. Mas o povo brasileiro não é de extremismos”, segue.
Ciro afirma à coluna que essa visão equivocada já levou à derrota de Bolsonaro para Lula em 2022.
“No primeiro turno, falamos para a bolha. No segundo turno, houve uma mudança. Dialogamos com a maioria e quase vencemos”, afirma.
Ele diz que Lula também comete o erro de falar apenas para “a sua própria bolha de esquerda”, e que por isso “está enfraquecido”.
“Mas, se acharmos que Lula está morto, que já ganhamos, vamos perder. A direita brasileira não vai ganhar sem o centro. E o centro hoje é mais alinhado com a direita. Basta dialogar”, segue ele.
O ex-ministro afirma que seu recado serve “para quem servir a carapuça”.
No próprio domingo (7), assim que o resultado das eleições na França foi divulgado, Ciro postou um texto na rede X (antigo Twitter).
Leia, abaixo, a íntegra:
“As eleições para a França deixam uma lição pedagógica para todo o mundo e o Brasil.
Os setores extremistas, que possuem tentações majoritárias e dominantes em ambos os polos, procuram o tempo todo desqualificar os que pensam diferente, mesmo que possuam inúmeros pontos de convergência com pontos centrais de sua agenda. No Brasil não é diferente. Os setores mais vigorosos da Direita ainda imaginam que podem, sozinhos, ser referendados pela vontade popular. Mas o povo brasileiro não é de extremismos.
É por essa percepção deslocada que setores conservadores, identificados com premissas liberais clássicas, com princípios econômicos, mas que não enfatizam, por exemplo, questões de costumes, são muitas vezes estigmatizados pelas correntes mais fundamentalistas da Direita brasileira.
Nada contra que cada corrente professe suas preferências e posturas. A democracia, afinal, é isso. Mas o que os acontecimentos da França demonstram é que a construção de uma maioria exige mais do que convicção. Exige a capacidade de congregar em torno de um projeto nacional, de uma nação que não possui um pensamento único, mas múltiplo, um projeto maior do que o de qualquer corrente.
Caso contrário, mesmo setores que partilham valores comuns podem ser lançados pela dinâmica de rejeição da polarização a uma lógica plebiscitaria em que o extremismo se torne pior do que a união de forças contra ele.
Para aqueles da Direita brasileira que entendem que ela é o começo, o meio e o fim, fica o alerta da França: a democracia não possui um único caminho quando o extremismo se apresenta como a direção inevitável.
A esquerda também deve aprender com o dia de hoje. Ganhou, mas não é majoritária também. Foi a vitória da derrota. Ou a derrota da vitória. Quando os extremos se enfrentam, a fragmentação triunfa e as diferenças sobressaem. Como deve ser. Mas, para a Direita, tão crítica e impiedosa com os seus próprios, fica o recado.”
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