A montadora Ford anunciou, em comunicado divulgado nesta segunda-feira, que vai encerrar a produção de veículos no Brasil. Segundo a empresa, a produção será finalizada imediatamente em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), sendo mantida apenas a fabricação de peças por alguns meses, para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller, em Horizonte (CE), continuará operando até o quarto trimestre deste ano.
Como resultado, a Ford também anunciou que encerrará as vendas do EcoSport, Ka e T4, assim que terminarem os estoques. As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas, de acordo com a fabricante de automóveis.
Em comunicado, a Ford esclareceu que tomou a decisão após anos de perdas significativas no Brasil. A multinacional americana acrescentou que a pandemia agravou o quadro de ociosidade e redução de vendas na indústria.
“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, afirmou, em nota, Jim Farley, presidente e CEO da Ford.
A empresa disse que continuará com o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e sua sede regional em São Paulo. E informou ainda que “mantém assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul”.
“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global. Vamos também acelerar a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo, de forma eficaz, a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e seguros no futuro”, disse Jim Farley.
Demissões
Em nota, a montadora disse que “cerca de cinco mil funcionários da Ford serão impactados no Brasil e na Argentina. No momento, não forneceremos informações específicas por localidade”. Deste total, estima-se que ao menos 830 funcionários serão demitidos da planta de Taubaté e 470 pessoas que trabalham na fábrica de Horizonte.
A Ford ainda esclareceu que “irá trabalhar imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção”.
A advogada trabalhista Maria Lucia Benhame, do escritório Benhame Sociedade de Advogados, pontua que a situação da Ford é de adaptação da empresa para sobreviver. “Mas temos que pensar em vários fatores que talvez tenham contribuído para a decisão de fechamento no Brasil: alta carga tributária que encarece os veículos somada a baixa perspectiva de venda e ao câmbio. Custo da mão de obra somado a uma menor especialização e preparo e nesse aspecto temos que pensar o quanto a banalização da aprendizagem contribuiu com isso”, disse ele.
Ela, ainda, ressalta que o custo da mão de obra e, com isso, a advogada ressalta que não se refere a salários mas custos diretos e indiretos. “Agora a questão é qual o efeito cascata e qual a compensação às dezenas de milhares de trabalhadores demitidos se considerarmos inclusive os da cadeia produtiva e das empresas prestadoras, comércio nas localidades”, afirma Maria Lucia.
O Ministério da Economia lamentou o fato. “A decisão da montadora destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise. O ministério trabalha intensamente na redução do Custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais”, diz a nota enviada à imprensa. (Estadão Conteúdo)