Oleo de Buriti - Foto: Michel Paz

De origem exclusivamente extrativista, óleos e resinas amazônicos e objetos de madeira manejada, produzidos por cinco organizações sociais da Amazônia, comercializaram o valor de R$ 4,9 milhões em 2022, um aumento de 206% no resultado do ano anterior. Os resultados alcançados pela marca coletiva Inatú Amazônia®, fruto da Iniciativa Estratégica Produção Sustentável do Idesam, representam a consolidação do modelo de negócio desenvolvido a partir da demanda das comunidades extrativistas de agregar valor à cadeia na origem.

O trabalho das organizações sociais alcançou 376 pessoas, entre extrativistas e produtores rurais de quatro municípios – Apuí, Itapiranga, Lábrea e São Sebastião do Uatumã – de acordo com os registros de rastreabilidade das cadeias. Em um ano, as cadeias de valor geraram R$1,2 milhão em renda aos extrativistas, o equivalente a R$2.303 por entrega de produto (R$3.326 por safra).

A renda obtida é oriunda da coleta, extração e beneficiamento de óleos de copaíba, andiroba e buriti; manteigas de murumuru e tucumã, óleo essencial de breu.

O desenvolvimento de um beneficiamento da produção ainda na origem é um dos fatores que ajudam a rentabilizar melhor as comunidades. A expertise aprimorada durante o projeto Cidades Florestais, deu origem, por exemplo, a um óleo de buriti de melhor qualidade, possibilitando acesso a mercados com valores mais atraentes. A extração feita de forma prensada permite manter as características originais do produto.

A organização da cadeia e melhorias no processo permitiram a comercialização do litro do óleo por valores entre R$60 a R$170, variando em função da quantidade a ser comercializada, preços superiores aos praticados no mercado comumente.

A associação de produtores de Apuí tem a expectativa de aumento da produção para a safra deste ano, atingindo a marca de seis toneladas de fruto, ou 350 litros de óleo, um aumento de 33,3% em relação à safra de 2022, quando contabilizou-se 4 toneladas (136 litros).

O escalonamento da produção, fruto da assessoria técnica do Idesam, ajuda baratear custos, além de alcançar novos mercados, conforme explica a especialista de Produção Sustentável do Idesam, Marisa Taniguchi. O objetivo é garantir um alto valor agregado ao produto final, com melhor retorno de recursos para a comunidade.

“O apoio técnico ao processo de produção, com a disseminação de conhecimento, resultou na extração do óleo de buriti por meio do sistema de prensa em vez do sistema de cozimento em temperaturas elevadas, o que diminui as propriedades que conferem qualidade ao óleo”, afirma Marisa Taniguchi do Idesam.

O buriti tem ainda um papel de diversificar a produção de produtores familiares em Apuí e está conectado, principalmente às mulheres. Marliuze Aparecida de Souza, produtora de óleo vegetal em Apuí, é uma dessas mulheres. Ela afirma que conheceu a proposta por meio da produção do Café Apuí Agroflorestal, realizado pelo Idesam e Amazônia Agroflorestal.

“Foi a partir daí que nos interessamos em fazer o óleo. Foi muito bom trabalhar na safra do buriti. Não sabíamos muito no começo, mas agora estamos sabendo mais: o curso para podermos ter mais experiência, saber mais sobre o óleo, ajudou a gerar renda, conhecimento… já fomos a dois lugares em Manaus, através do óleo, e lá em Cuiabá também”.

Com o objetivo de gerar um valor maior ao extrativista, para as cadeias do buriti e da andiroba, desenvolvidos pela Associação de Produtores Familiares Ouro Verde (APFOV) em Apuí, e Associação de Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (ASPACs) em Lábrea, respectivamente, utilizou-se da Política de Garantia de Preços Mínimos para produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBio). O programa oferece subvenção direta ao extrativista quando a comercialização não atinge um preço mínimo determinado.

No entanto, o objetivo do Idesam é a geração de produtos de qualidade, cujo valor agregado seja capaz de atender às necessidades do mercado e gerar renda para as organizações sem depender de um preço mínimo, conforme explica o diretor do Idesam, André Vianna.

Vianna afirma ainda que, como parte da estratégia da estruturação de cadeias, foram estabelecidas relações entre as organizações sociais e seus clientes categorizados como grandes empresas compradoras de matéria prima para cosméticos e bem-estar. Além disso, foram discutidos e estabelecidos contratos de longo prazo, com volumes mínimos anuais, valores acordados anualmente e entregas mensais.

“Estes pontos garantem previsibilidade e possibilidade de melhor planejamento por parte das organizações sociais. Estes contratos preveem adiantamentos de pagamentos que atuam como capital de giro sem valores com juros que puxam toda a produção das cadeias”, afirma.

Questões logísticas que elevam custo de produção; falta de acesso à energia; diversificação de produtos para permitir que as usinas atuem durante todos os meses do ano e para que os extrativistas tenham renda por produtos da floresta por um maior período; acesso a crédito aderente à realidade das organizações; acesso a máquinas e equipamentos estão entre os desafios que ainda se colocam como obstáculo ao modelo de negócio que valoriza a floresta e as comunidades.

Para tais desafios, o trabalho do Idesam é fomentar redes de atuação conjunta de diferentes atores, buscando agregar às cadeias de valor geridas pelas organizações sociais desde startups, que possam gerar soluções tecnológicas, até agentes financeiros privados e capital filantrópico.

O sucesso destas cadeias de valor é vital para o sucesso do combate ao desmatamento ilegal no longo prazo, que é o objetivo final do Idesam ao fomentar atividades produtivas, conforme ressalta o engenheiro florestal André Vianna, diretor técnico do Idesam.

“As ações de comando e controle são importantes no curto e médio prazo. Contudo, no longo prazo é necessária uma mudança de paradigma econômico, que consiste na formalização das atividades produtivas e fomento a cadeias de valor sustentáveis, como óleos vegetais, madeira manejada, pescados, agricultura, pecuária intensiva e outros. Apenas com uma matriz econômica que considere a conservação ambiental e a qualidade de vida para as populações do interior que teremos sucesso no longo prazo”, explica Vianna.