O Amazonas foi impactado por uma estiagem severa em 2023 e 2024 (Foto: Reprodução / Defesa Civil-AM)

Desastres climáticos hídricos (relacionados a chuvas ou secas) mataram mais de 8.700 pessoas e deixaram cerca de 40 milhões de desabrigados no planeta em 2024. A estimativa é projeto do Global Water Monitor Report, iniciativa internacional de cientistas da área liderados pela Universidade Nacional da Austrália.

O terceiro relatório do grupo, que monitora o impacto da mudança climática no sistema hidrológico foi publicado nesta semana e indica que recordes de precipitação mensal ocorreram em 27% mais locais no ano passado do que no início deste século. Para eventos extremos de seca, o número subiu 38%.

“O ano de 2024 foi um ano de extremos, mas não numa ocorrência isolada. Ele se encaixa em uma tendência de piora de inundações mais intensas, secas prolongadas e extremos recordes”, afirma Albert van Dijk, cientista que liderou o projeto. “Essas mudanças impactam a disponibilidade de água e aumentam os riscos dos desastres hídricos para a infraestrutura, para os ecossistemas e para vidas das pessoas.”

O Brasil, com as enchentes do Rio Grande do Sul, foi um dos países que contribuíram para a estatística em 2024, com 80 mortes atribuídas a eventos hídricos. Autoridades brasileiras registraram até mais vítimas que isso, mas o Global Water Monitor padronizou a contagem de modo diferente, o que torna o número global do relatório uma estimativa conservadora do número de mortes.

O território brasileiro foi impactado por por 2 dos 17 desastres hídricos de grandes proporções que os cientistas destacaram no documento, porque seca na Amazônia colocou o país como um daqueles que sofreram na outra ponta do problema. O impacto desse evento sobre a vida humana é difícil de mensurar, por ser mais indireto, mas cientistas sabem que ele é grave.

“Na Bacia Amazônica, um dos ecossistemas mais importantes da Terra, baixas recordes no nível de rios cortaram rotas de transporte e interromperam a geração de energia hidrelétrica” diz Van Dijk. “Incêndios florestais causados ​​pelo clima quente e seco queimaram mais de 52 mil quilômetros quadrados só em setembro, liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa.”

Desastres hídricos de 2024

A ocorrência simultânea de chuvas e secas intensas no mundo pode parecer algo paradoxal, mas não é. Esses eventos extremos estão dentro do contexto que o último relatório do painel do clima da ONU (IPCC) havia projetado como possibilidade para o agravamento da mudança climática ao longo do século. O aumento dos desastres hídricos ocorre porque a alta temperatura acelera o ciclo de evaporação e precipitação da água, intensificando esses fenômenos.

Não por coincidência, os desastres hídricos mapeados pelo Global Water Monitor ocorreram num ano em que o planeta bateu novamente seu recorde de calor. As temperaturas do ar sobre terra firme em 2024 foram 1,2°C mais quentes do que no início do século, e cerca de 2,2°C mais altas do que no início da Revolução Industrial. Em 34 países, foram registrados novos recordes de temperatura.

Com informações de Um Só Planeta