O estudo “Fronteiras da Informação – Relatório sobre jornalismo e violência na Amazônia” foi lançado pelo Instituto Vladimir Herzog (IVH), essa semana em Belém (Pará) (Foto: Mídia Ninja)

Alertar a sociedade sobre a relação de crimes contra o meio ambiente e a violência contra jornalistas na Amazônia é o objetivo do estudo ‘Fronteiras da Informação – Relatório sobre jornalismo e violência na Amazônia’, lançado ontem (23), pelo Instituto Vladimir Herzog (IVH), em Belém.

O estudo lança um olhar sobre a relação de crimes contra o meio ambiente e a violência contra jornalistas na Amazônia, em seus nove estados, durante um período de dez anos (2013 a 2023).

Um levantamento do projeto Ctrl+X, da Abraji, revelou que, em 2022, houve 249 casos de processos judiciais movidos por políticos ou partidos contra jornalistas no Brasil, um aumento de 14% em comparação com as eleições de 2018. O estado do Amazonas, com apenas 2% da população brasileira, concentrou quase 25% dos processos judiciais no país.

O levantamento constatou que, nesse tempo, 230 jornalistas foram alvos de violência na região amazônica e, dos estados analisados, o Pará é o local mais violento para repórteres na Amazônia, contabilizando 89 dos casos registrados nesse período.

Em seguida vem o Amazonas, com 38 casos e em terceiro e quarto lugar estão, respectivamente, Mato Grosso e Rondônia com 31 e 20 casos em cada estado.

“Nosso objetivo é contribuir com as análises produzidas sobre o tema, ampliar a conscientização sobre os desafios enfrentados por essas pessoas e reforçar a necessidade de que Estado e sociedade atuem conjuntamente para garantir que o trabalho jornalístico possa ser feito sem medo de ameaças e violações”, explica o diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili, na abertura do relatório.

Perseguição

No relatório, uma das inúmeras histórias contadas é a do jornalista Fábio Diniz, correspondente da Globo na Rede Amazônia em Rondônia. Ele foi perseguido por garimpeiros após publicar uma reportagem sobre o comércio ilegal de mercúrio.

“Desde que a reportagem foi ao ar, toda semana tinha uns dois ou três ‘caras’, garimpeiros, querendo falar comigo. Ficaram insistentemente no portão da TV umas três ou quatro semanas”, contou o profissional.

Após denúncias contra madeireiros ilegais no oeste paraense, em setembro de 2023, o comunicador popular Darlon Neres, 23, teve que se afastar da sua comunidade, no Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, em Santarém, por três meses.

“Em setembro de 2023, recebi ameaças por meio de conhecidos. Fui informado sobre pessoas que estavam circulando na região do assentamento mostrando a minha foto. Depois também recebi áudios em redes sociais. Isso aconteceu após uma denúncia que fizemos sobre a exploração madeireira ilegal na nossa comunidade”, explica Darlon.

O problema de Bolsonaro

Os ataques de políticos a jornalistas estão aumentando no Brasil, especialmente em anos eleitorais.

“Estive muitas vezes na Amazônia e vi essa guerra se espalhar com mais força no governo Bolsonaro. Em 2022, pela primeira vez em quase 40 anos de profissão, tive de reportar acompanhada de seguranças armados. Foi no Vale do Javari, onde o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram assassinados brutalmente”, contou a jornalista Sônia Bridi, repórter da TV Globo, em entrevista no relatório.

Desde que as fakes news (notícias falsas) se tornaram uma prática popular nos últimos cinco anos, especialmente em períodos eleitorais, grande parte de jornalistas e comunicadores acabam tendo que desviar de sua função principal – de apurar e informar notícias – para verificar e desmentir fake news que são espalhadas e podem vir a prejudicar e mudar o curso das eleições.

Além disso, em entrevista à Agência Brasil, o coordenador de Jornalismo e Liberdade de Expressão do Instituto Vladimir Herzog, Giuliano Galli, aponta para o aumento de denúncias na região amazônica após o assassinato do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, mortos em 2022.

Para ele, o documento esclarece a relação de atividades ilegais extrativistas, como o garimpo, a mineração e ocupação de territórios indígenas, com a falta de políticas públicas de proteção a comunicadores, jornalistas e ambientalistas que ajudam a denunciar essas violações.

“(…) agredir um jornalista ou comunicador prejudica a própria sociedade, indo contra o seu acesso à informação. Parece algo abstrato, mas, após quatro anos de ataques do governo Bolsonaro, ainda não conseguimos mudar essa percepção”, afirma Samira de Castro, presidente da Fenaj.

Com informações da Mídia Ninja