Uma escola particular de São Paulo adotou para este ano, como material didático, uma pochete que tranca o celular dos alunos no começo da primeira aula e o libera somente ao final da última. O sistema é semelhante ao das etiquetas antifurtos, que têm uma trava magnética e só podem ser retiradas das roupas e de outros produtos por um dispositivo no caixa. No caso do colégio, é o professor ou um funcionário que fica com o dispositivo para desmagnetizar a trava, abrindo-a e liberando o celular.
A pochete é mais uma ferramenta que surge em meio ao movimento anticelular em escolas, que cresce no Brasil e em outros países, na tentativa de conter os prejuízos do uso excessivo do aparelho ao aprendizado e à saúde mental de crianças e jovens.
A novidade terá início na próxima segunda-feira (19) na escola Alef Peretz, instalada dentro do clube judaico A Hebraica, no Jardim Paulistano, na zona oeste da capital.
Na sequência, será introduzida na unidade que a escola mantém para cem estudantes do ensino médio na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital.
A pequena bolsa foi desenvolvida pela Yondr, empresa norte-americana fundada em 2014 na esteira do movimento “phone-free” (livre de celular), que ganha força nos EUA. A ideia desse movimento não é banir o aparelho por completo, mas criar áreas e momentos em que ele não é utilizado, em busca de uma presença completa do público, sem distrações e com interação social presencial.
Além de ser adotada em shows e eventos que começam a oferecer “phone-free zones” (áreas livres de celular), a pochete da Yondr já está presente, segundo a empresa, em mais de 3.000 escolas, sendo 2.000 nos EUA e as demais em países na Europa.
Nos Estados Unidos, pais, educadores e até estudantes lançaram o Movimento Escolas Livres de Celular cuja missão, de acordo com seu site, é garantir que todas as crianças e jovens possam desenvolver suas habilidades acadêmicas e socioemocionais “sem as distrações, pressões e prejuízos dos celulares e das redes sociais no período escolar”.
A restrição e até o banimento ao aparelho em escolas foram fortemente recomendados em um relatório do ano passado da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que apontou uma relação entre o uso da tecnologia e as dificuldades de aprendizado das crianças, entre outros prejuízos.
No Brasil, a Alef Peretz é a primeira a escola a adotar a pochete da Yondr, conta a diretora de relacionamento Lina Brochmann, que soube desse sistema em uma reportagem do ano passado pela revista piauí e deu início ao debate com a comunidade escolar. “Tivemos um forte apoio das famílias”, ela diz. “No pós-pandemia, os pais passaram a ficar muito angustiados porque não conseguem mais controlar o acesso dos filhos ao celular. Há casos de crianças utilizando o celular até 16 horas por dia.”
A escola fez a importação das bolsas e repassou às famílias o custo, de cerca de R$ 170 por aluno (a mensalidade da escola é, em média, de R$ 5.000). Nem no recreio o celular será permitido. “Esse será um dos maiores desafios para nós”, diz Brochmann.
“No recreio, os alunos podem circular por todo o clube, e é uma área grande”, explica. “Estamos nos preparando para lidar com a abstinência tanto dos alunos quanto das famílias, que se acostumaram a se comunicar com as crianças no horário da escola.”
Por outro lado, a escola espera, de acordo com Brochmann, que “os alunos passem a aproveitar mais o momento do recreio para praticar esportes, brincar, conversar ou mesmo para não fazer nada, para descansar, o que é tão importante também”.
No caso da unidade de Paraisópolis, que é gratuita e voltada a jovens da comunidade, a pochete será custeada pela própria escola.
Presidente da Alef Peretz, Marcelo Davidovici diz que a opção pelo banimento ao aparelho tem a ver com os problemas de foco, atenção e até de memória que têm sido observado nos alunos nos últimos anos. “Uma outra questão séria é a que os algoritmos trazem para a sociabilidade de crianças e jovens”, diz. “Eles os levam a ter problemas de relacionamento porque reforçam o que cada um pensa e, em última instância, fortalecem a ideia de que só conseguem se relacionar consigo mesmos.”
A decisão de trancar o celular com a pochete –e não apenas criar uma regra que proíba o estudante de utilizá-lo– é uma forma de driblar o vício que os aparelhos criaram. “Todos nós sentimos uma compulsão por olhar o celular e ver se tem mensagem nova, alguma novidade nas redes sociais”, diz.
Na Alef Peretz, ao menos por ora, as pochetes ficarão guardadas nas mochilas dos alunos. Em algumas escolas, a opção é por deixá-las todas juntas em uma caixa na sala de aula.
Davidovici nega que o banimento do celular seja contraditório à educação midiática, ou seja, ao papel da escola de educar o aluno para um uso consciente da tecnologia –esse argumento costuma ser utilizado por escolas que preferem não proibir o celular.
“O controle do uso do celular e a conscientização sobre todas essas questões precisam acontecer simultaneamente”, afirma.
A educação midiática, segundo ele, está presente no currículo da escola. “Mesmo quando o uso é contido na escola, a criança e o jovem continuarão tendo acesso fora do ambiente escolar e precisam aprender a lidar com essa tecnologia”, diz. “O que queremos é que possam utilizar o celular e outras tecnologias de uma forma proveitosa e não danosa.”
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