O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, preso por matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, em BH - Foto: Reprodução

O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes, conversou com um coronel da reserva da Polícia Militar de Minas Gerais e pediu ajuda no momento em que os policiais o abordaram em uma academia de luxo de Belo Horizonte, em 11 de agosto, dia em que o crime ocorreu.

Renê falou com o coronel por mensagens e também fez uma ligação via WhatsApp. As conversas foram recuperadas pela Polícia Civil de Minas Gerais e anexadas ao processo que o indiciou pelo assassinato de Laudemir. O caso agora está sob responsabilidade do Ministério Público estadual.

Empresário contatou o coronel, a quem ele chama de “amigo”, e pediu ajuda. “Meu amigo, poderia me ajudar? Estou cercado por PMs dizendo que eu cometi um homicídio hoje pela manhã”.

Na sequência, Renê pediu ao coronel que fale com o tenente responsável por sua prisão. Empresário, então, fez uma ligação de áudio pelo WhatsApp com duração aproximada de dois minutos.

Para a investigação, o coronel atendeu ao pedido do “amigo” e falou com os policiais que foram prender o empresário. “Renê chega a pedir ao coronel que converse com os PMs, o que parece ter acontecido, já que existe uma chamada de pouco mais de dois minutos no mesmo período”, afirma a Polícia Civil em seu relatório.

Após a ligação, o coronel informa a Renê que a investigação ainda está em fase inicial e afirma que pediu aos PMs para agirem com “cautela”. “Fique calmo. Pelo que entendi, [os policiais] estão averiguando. [Ainda é tudo] muito inicial. Solicitei cautela na abordagem dos fatos. Me dê notícias”.

Renê diz ao coronel não saber o porquê da prisão. “Nem imagino quem seja, dizendo que matei um gari. O problema é que não sei nem onde é o lugar [que o crime ocorreu]”.

Coronel pergunta a Renê se a esposa dele, a delegada Ana Paula Lamego Balbino, está com ele. Empresário ignora a pergunta e diz que os agentes querem levá-lo para a delegacia.

O coronel tenta acalmar Renê, diz que esse “é o procedimento” e que a PCMG vai “apurar” o caso. Renê, então, afirma estar surpreso com a prisão. “Estou surpreso. Desculpe ter incomodado, meu presidente”, escreveu o empresário.

Na sequência, o coronel volta a questionar se Ana Paula está com Renê. “Não incomoda em nada, tudo vai ser esclarecido. Sua esposa está com você?”. Empresário responde afirmativamente: “Está sim”.

Coronel aconselha Renê a ir para a delegacia acompanhado pela esposa delegada. “Melhor então ela te acompanhar até a delegacia. O trabalho da PM é encaminhá-lo, apenas como um possível suspeito. Na delegacia eles vão apurar os fatos. Aí as coisas se esclarecem”.

Renê afirma ser “eternamente grato” ao coronel. O militar pede para que Renê o mantenha atualizado. “Ok. Vai me posicionando”.

Deputada pediu investigação

Coronel parece ter exercido influência na forma como a PM conduziu a prisão de Renê. Isso porque o empresário foi levado pelos militares sem estar algemado e não foi colocado no camburão da viatura, como é o recomendado.

Deputada estadual pediu que o tratamento dado pela PM ao empresário seja investigado. Andreia de Jesus (PT-MG) protocolou requerimento junto à Corregedoria da PMMG para apurar a conduta dos militares, que “destoa do protocolo usual da corporação em casos de crimes violentos, quando o preso é algemado e transportado no compartimento traseiro, medida que visa a segurança da equipe e do próprio detido”.

Coronel é influente dentro da Polícia Militar de Minas Gerais. Ele ocupava até o ano passado o cargo de diretor-geral de um instituto da PMMG.

A reportagem procurou a PMMG, que disse ter adotado “todas as providências cabíveis em relação à ocorrência, desde a prisão em flagrante do autor até o encaminhamento à Polícia Civil”.

Renê falou com esposa de dentro da delegacia

Empresário primeiro enviou mensagem para Ana Paula no momento em que foi abordado pelos militares na academia por volta das 16h daquele dia. Por meio de áudio, Renê informou à esposa que estava no estacionamento da academia e pediu à delegada que fosse até o local. Ana Paula, porém, não respondeu ao marido.

Renê voltou a enviar mensagens para Ana Paula quando já estava na delegacia. Nesse momento, ele pediu à esposa que entregasse a arma errada aos policiais. Na conversa, o assassino sugeriu que a delegada entregasse uma pistola nove milímetros em vez da pistola de calibre .380 usada para matar Laudemir.

Veja transcrição da conversa: “Entrega a nove milímetro”, escreveu Renê. “Não pega a outra. A nove milímetros não tem nada”, completou.

Ana Paula voltou a ignorar o pedido do marido, e ele enviou outra mensagem. Dessa vez, o empresário alega inocência: “Estava no lugar errado na hora errada. Amor, eu não fiz nada”.

Delegada não consentiu com o pedido do marido para obstruir a investigação, segundo a polícia. “Ana Paula não respondeu [as mensagens do marido], tampouco anuiu [concordou] com o seu plano [de atrapalhar as investigações]”, diz o inquérito.

Ana Paula conversou com Renê por chamada de voz antes dele ser preso, mas a polícia não sabe o teor da conversa. A explicação foi feita pelo delegado Evandro Radaelli ao indiciar o empresário pelo crime.

Defesa criticou a divulgação das conversas entre o empresário e a esposa. “A defesa técnica de Renê da Silva Noguera Junior informa que as mensagens de WhatsApp e vídeos extraídos do aparelho celular devem preservar o sigilo garantido pelo art. 5º, inciso XII da Constituição da República e que sua divulgação deve se restringir aos atores do processo”.

Renê e esposa foram indiciados

Renê responderá por três crimes. São eles: homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meios que impediram a defesa da vítima, ameaça contra a motorista do caminhão de lixo e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Juntas, as penas somam cerca de 35 anos de prisão.

Ana Paula, que foi indiciada por porte ilegal de arma de fogo, pode pegar entre dois e quatro anos de detenção. A pena pode aumentar em 50% por ser servidora pública. A Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais também instaurou procedimento administrativo contra ela.

*Com informações de Uol