O CEO da Tesla e proprietário do X, Elon Musk, comparece a um comício de Trump em Butler, Pensilvânia, EUA, 5 de outubro de 2024 - Foto: Brian Snyder / Reuters

Elon Musk anunciou em seu perfil no X (antigo Twitter) que a DOGE — Departamento de Otimização da Governança e Eficiência — enviaria um e-mail para todos os funcionários federais exigindo uma resposta no prazo de até 48 horas. Quem não respondesse, seria considerado automaticamente desligado do cargo.

A mensagem foi direcionada aos mais de 2,3 milhões de servidores públicos federais dos Estados Unidos. Segundo a revista Fortune, o assunto do e-mail era direto: “O que você fez na semana passada?”. No corpo da mensagem, a DOGE solicitava que cada funcionário informasse em que havia trabalhado nos últimos dias. A ausência de resposta seria interpretada como abandono de função — ou seja, demissão imediata.

Resistência e silêncio das agências

Diante da exigência, agências como a NASA, o Pentágono e o FBI decidiram ignorar completamente o comunicado, alegando que as atividades desenvolvidas por seus funcionários são sigilosas e não podem ser compartilhadas nem mesmo nesse tipo de solicitação. A movimentação expôs um impasse entre o novo departamento liderado por Musk e os pilares mais tradicionais da Administração Pública norte-americana.

Musk e a tática do e-mail “ultimato”

Essa não é a primeira vez que Elon Musk usa o e-mail como ferramenta de pressão. Em 2022, quando assumiu o controle do Twitter, ele adotou uma estratégia semelhante: enviou mensagens aos funcionários pedindo que aceitassem suas novas diretrizes — ou pedissem demissão. O resultado foi a saída (voluntária ou forçada) de mais de 80% da equipe da empresa. Apesar do impacto, a tática não funcionou em todos os setores, e Musk enfrentou críticas por sua condução agressiva das mudanças.

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NASA desafia Musk e orienta funcionários a ignorar e-mail da DOGE por risco de vazamento

Pelo menos três agências do governo norte-americano já desafiaram abertamente a ordem da DOGE quanto ao e-mail que exige um relatório individual dos servidores.

A primeira a se manifestar foi a NASA, que enviou um comunicado interno orientando seus 17 mil funcionários a não responder à mensagem até que uma diretriz oficial fosse elaborada, garantindo que todas as normas legais e de segurança fossem respeitadas.

Segundo informações obtidas pela Bloomberg, os gestores da agência espacial alertaram para a necessidade de “pausar qualquer resposta ao e-mail em questão”, a fim de evitar o risco de divulgar informações confidenciais ou sensíveis a destinatários não identificados.

O comunicado reforçou que, ao responder ao e-mail sem as devidas precauções, os funcionários poderiam acidentalmente expor dados estratégicos ou relacionados a decisões ainda em andamento. Além disso, a NASA isentou de qualquer obrigação de resposta os servidores que estivessem de férias ou em licença, já que não é responsabilidade deles acessar o e-mail institucional durante esse período.

FBI e Pentágono jogam e-mail da DOGE na lixeira — literalmente

Os responsáveis por supervisionar os funcionários do Pentágono e do FBI também decidiram não responder imediatamente ao e-mail enviado pela DOGE — e adotaram uma postura firme contra a exigência de Elon Musk.

De acordo com a Associated Press, Kash Patel, recém-nomeado diretor do FBI, declarou:

“O FBI, por meio do Escritório do Diretor, é responsável por todos os nossos processos de revisão e fará essas avaliações conforme nossos próprios procedimentos. Se for necessária mais informação, coordenaremos as respostas. Por enquanto, pedimos que ninguém responda ao e-mail.”

Já o Departamento de Estado, o Departamento de Defesa e o Departamento de Segurança Interna foram ainda mais diretos: ordenaram que todos os seus funcionários ignorassem completamente a mensagem da DOGE, afirmando que caberia às lideranças dos respectivos órgãos responderem, se necessário.

“Nenhum servidor é obrigado a relatar suas atividades fora da cadeia de comando do próprio departamento”, escreveu Tibor Nagy, subsecretário interino de Estado, em um comunicado interno. O argumento é o mesmo usado pela NASA: responder a esse tipo de solicitação sem filtragem institucional poderia resultar em vazamento de informações sensíveis ou confidenciais.

8,5 milhões por e-mail: o custo da iniciativa da DOGE

De acordo com estimativas da Fortune, a manobra de “pesca de arrasto” promovida pela DOGE — com o envio em massa do e-mail exigindo respostas individuais — pode gerar uma perda aproximada de 166.500 horas de trabalho dos servidores públicos.

A conta leva em consideração os cinco minutos que Elon Musk alegou serem suficientes para responder à mensagem.

Todo esse tempo gasto apenas para justificar o próprio trabalho resultaria em um custo de cerca de 8,5 milhões de dólares aos cofres públicos, levando em conta o salário médio dos servidores federais nos Estados Unidos, que gira em torno de 106 mil dólares por ano.

*Com informações de Xataka