Elefante-marinho surge em Niterói e mobiliza equipes - Foto: Lucas Benevides / Divulgação

Um visitante inesperado, vindo das águas geladas da Patagônia, tem atraído olhares curiosos – e muitos cuidados – em Niterói nos últimos dias. Desde o ultimo sábado (26), um jovem elefante-marinho tem percorrido praias da cidade fluminense em busca de descanso, movimentando equipes da Guarda Ambiental, biólogos, voluntários e até crianças encantadas com o animal de até 4 toneladas.

A cena poderia soar absurda: um gigante marinho de olhar sereno deitado tranquilamente na areia da Praia de São Francisco, cercado por cones e fitas, enquanto agentes tentam conter a aproximação dos mais entusiasmados. Mas não é montagem. É a natureza viva pedindo silêncio e respeito.

“Ele está longe de casa e só quer descansar. Nosso papel é garantir isso”, resume o subinspetor Jociley Neves, da Guarda Ambiental, que tem acompanhado o animal desde seu primeiro pouso em Piratininga.

O mamífero também foi visto nadando pela Baía de Guanabara, se aproximou de Charitas e, por fim, retornou a São Francisco — onde parece ter se afeiçoado à calmaria da orla.

Ajuda humana, sem excesso de zelo

Na manhã desta terça-feira (29), a Guarda precisou intervir diretamente. O animal havia entrado no Canal de São Francisco e ficou preso atrás de uma ecobarreira — uma dessas estruturas montadas para conter lixo flutuante. A solução veio rápido: a barreira foi retirada para que ele pudesse retomar o caminho de volta ao mar.

“Foi um resgate silencioso, com o mínimo de interferência possível. A ordem é uma só: respeitar o tempo do bicho” , explica o guarda Angelo Lima.

O animal, monitorado por biólogos da UERJ e pela equipe da Econservation, não apresenta sinais de ferimentos ou estresse. Está saudável, mas cansado.

Segundo o biólogo Rafael Carvalho, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (Maqua/UERJ), a presença do elefante-marinho em Niterói, embora incomum aos olhos da população, é esperada nesta época do ano.

“São juvenis que se desprendem das colônias na Patagônia em busca de alimento ou descanso. Muitos encostam no litoral sudeste durante o inverno. O importante é não interferir” , explica.

Moradores atentos e emocionados

A movimentação atraiu a atenção de quem passava. Um dos momentos mais simbólicos foi protagonizado por Lorenzo Karpp, de apenas 10 anos, que assistia de longe, com os olhos arregalados.

Quando soube que a barreira havia sido retirada e o animal nadava livre, o menino soltou, quase como um grito de gol: “Ele é grandão! Eu torci muito pra ele sair!”

Esse contato direto com moradores tem sido fundamental. Chamadas ao 153, o telefone da Guarda Municipal, têm ajudado na localização e acompanhamento do animal desde sua chegada ao estado, ainda em Jaconé, na Região dos Lagos.

“O olhar atento da população é parte do nosso monitoramento. Mas precisamos lembrar: não toque, não alimente, não se aproxime. Ligue pra gente”, reforça Angelo Lima.

Não é o único visitante: pinguins também dão as caras

O frio e as correntes marítimas não trouxeram apenas um elefante-marinho para Niterói. Também foram registrados nos últimos dias diversos casos de pinguins descansando nas areias da cidade. Assim como o mamífero gigante, eles também buscam repouso.

A recomendação da Guarda Ambiental é a mesma: nada de gelo, caixas ou tentativas de resgate improvisado.

“O erro mais comum é colocar o animal no gelo achando que está ajudando. Mas isso pode matá-lo. Ligue pro 153 e espere nossa equipe” , alerta o agente.

Um chamado à convivência com o inesperado

O episódio do elefante-marinho em Niterói escancara um recado maior. Não é apenas sobre um animal que se perdeu ou decidiu tirar férias nas praias fluminenses. É sobre como cidades costeiras, cada vez mais ocupadas e ruidosas, precisam aprender a compartilhar espaço com a vida selvagem que ainda resiste.

Axel Grael, ex-prefeito e ambientalista, esteve no local e reforçou o simbolismo da visita: “As condições do mar estão difíceis e ele veio parar aqui, longe de casa. A gente precisa fazer nossa parte: não assustar, não invadir. Apenas permitir que ele siga seu caminho.”

*Com informações de IG