Foto: Dado Ruvic / Illustration / Reuters

Após fechar o ano passado no maior patamar nominal da história, o dólar caminha para fechar o primeiro semestre com queda superior a 10%. O tombo é motivado, principalmente, pela política tarifária imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O patamar elevado da taxa Selic também contribui para a baixa.

Dólar acumula queda de 10,7% desde janeiro. A trajetória negativa derrubou a cotação da moeda norte-americana em relação ao real em R$ 0,66, de R$ 6,18 para R$ 5,519 (cotação do dia 24 de junho). O tombo surge diante dos movimentos adotados pelo presidente dos EUA, Donald Trump, após reassumir o comando da Casa Branca.

Principais moedas do mundo estão fortalecidas. O índice DXY, que mede a variação do dólar contra uma cesta de outras seis moedas (euro, iene, libra esterlina, franco suíço, dólar canadense e coroa sueca) acumula queda de quase 9,8%, recuo pouco inferior ao do real no mesmo período. “O cenário está muito mais pendente para a desvalorização do dólar em si do que simplesmente o fortalecimento real”, diz Otavio Oliveira da Silva, gerente de tesouraria do Banco Daycoval.

Movimento reflete a perda de força do dólar. O diretor de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, explica que a desvalorização da moeda estadunidense em 2025 não representa uma valorização efetiva do real. “É um movimento global de enfraquecimento do dólar, por conta da guerra comercial e do aumento do déficit fiscal americano”, afirma ele.

“Tarifaço de Trump” guia a queda da moeda. A decisão do presidente norte-americano de taxar as importações de centenas de países é citada como principal ponto para o arrefecimento do dólar. O anúncio foi seguido de retaliações e originou diversos temores de guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Com os receios consolidados, Trump voltou atrás e interrompeu as cobranças temporariamente.

Indicadores dos EUA também contribuem. Aparece ainda no radar do mercado o nível recorde do déficit público norte-americano. Além disso, pesou contra a principal economia do mundo o encolhimento do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre, a perda de fôlego do mercado de trabalho local e o atual patamar elevado dos juros para os padrões norte-americanos.

Desvalorização do dólar ainda deve persistir. Weigt avalia que a tendência de baixa da moeda norte-americana deve ser mantida em todo o mundo. Por aqui, as estimativas do mercado financeiro apresentadas pelo BC (Banco Central) indicam o dólar em R$ 5,718 ao final deste ano. “As projeções do Focus sempre giram em torno do preço atual de mercado, com desvios para baixo ou para cima, dependendo do cenário interno”, explica o diretor do Travelex sobre a divergência em relação à cotação atual.

Juros

Taxa Selic elevada ajuda a puxar o dólar para baixo. Embora negativo para o desenvolvimento econômico e o acesso ao crédito, o aumento da taxa básica de juros do Brasil para 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, contribui para a desvalorização do dólar. Isso acontece porque os investidores estrangeiros miram no Brasil na busca por maiores rentabilidades.

“O Brasil é o menos afetado pela guerra tarifária, tem a maior taxa real de juros do mundo e está atraindo recursos para a Bolsa de Valores, que está relativamente barata quando comparada à Bolsa dos países desenvolvidos.” afirmou Marcos Weigt, diretor do Travelex Bank

Cenário também depende da segurança do Brasil. Silva, do Banco Daycoval, também reconhece o diferencial das taxas de juros como importante para manter o dólar em um patamar mais controlado. Ainda assim, ele afirma que a situação não é o único aspecto para atrair dinheiro estrangeiro. “Existe todo um contexto de risco-país que tem que ser avaliado e não pode ser simplesmente precificado tão friamente nos juros”, diz ele.

Gastos públicos prejudicam a trajetória de queda. Para Silva, a simples discrepância entre a taxa Selic e os juros de países desenvolvidos não é suficiente para provocar a valorização do real e o “derretimento” do dólar. “Tem muitas questões ligadas ao fiscal, político, econômico e outros assuntos pendentes aqui no Brasil que precisam ser resolvidos para existir efetivamente um cenário positivo para o gringo investir e o dólar cair”, analisa.

*Com informações de Uol