O estilista João Pimenta se inspirou em poema de Carlos Drummond de Andrade (Foto: Marcelo Soubhia)

A passarela do São Paulo Fashion Week se transformou em um cortejo fúnebre na tarde de ontem (3), dia em que foi realizado o quarto dia da edição N53 da Semana de Moda brasileira.

Usando apenas a cartela de cor preta para as roupas e um casting composto integralmente por modelos negros, o estilista mineiro João Pimenta foi um dos grandes destaques ao realizar a apresentação para sua coleção no Senac Lapa, Zona Oeste de São Paulo.

Na SPFW

O desfile teve o poema “A Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade, como inspiração. As palavras do poeta brasileiro foram proclamadas enquanto os modelos andavam pela passarela — vestidos com algodão piquet, veludo devorê e jacquard.

Escrito entre 1943 e 1945 e parte do livro “A Rosa do Povo”, a escolha do poema é também um espelho dos tempos atuais. Ao menos para Pimenta.

Como apontado pela mestre em Estudos Literários, Izandra Alves, as palavras de Drummond, nesta obra, representam a explosão revoltada de um indivíduo diante do mundo em que vive — ao mesmo tempo em que mostra a esperança frente ao aparecimento de uma flor com raízes no concreto.

“É através de um passeio pela rua cinzenta que o sujeito depara-se com a náusea; vê-se enjoado e tem o desejo de vomitar sobre tudo o que lhe incomoda e perturba”, aponta Izandra em um dos seus artigos acadêmicos.

E assim foi feito por João Pimenta que, assim como o indivíduo retratado pelo poeta, ainda enxerga esperança. No caso do estilista, essa fantasia é costurada e ainda retrata uma espécie de luto, como visto em um look repleto de detalhes que trazia ainda um véu cobrindo o rosto do modelo.

As roupas pretas ganharam vida com texturas e adereços que brilhavam em prateado metálico. Alguns deles retratavam também o cru do esqueleto humano.

O drama encontrava expectação por meio das mãos do designer, que parece enxergar um futuro mais deslumbrante.

Com informações do Uol