Paulo Roberto Braga e Érika de Souza Vieira Nunes enquanto ele esteve internado com pneumonia - Foto: Reprodução

O caso que ficou conhecido como “Tio Paulo”, no Rio de Janeiro, quando Erika de Souza Vieira Nunes foi presa sob suspeita de levar um cadáver a uma agência bancária na tentativa de sacar R$ 17 mil em nome do morto, completa um ano nesta quarta-feira (16). Segundo a perícia, Paulo Roberto Braga, 68, havia morrido cerca de duas horas antes.

Imagens registradas por funcionários do banco, que mostram Erika segurando a mão de Paulo e tentando forçar a assinatura do pedido de saque, viralizaram nas redes sociais.

O processo, que tramita na 2ª Vara Criminal de Bangu, encontra-se na fase de audiência de instrução e julgamento, em que testemunhas estão sendo ouvidas. Neste ano, já ocorreram duas audiências, nas quais foram ouvidas testemunhas de acusação. Erika será a última a prestar depoimento.

A defesa de Erika não respondeu os contatos da reportagem. No processo, os advogados de Erika afirmam que ela não tinha plena consciência do que fazia e que se encontrava em “estado de desorganização mental”. Foram anexados ao processo laudos médicos, receitas de psicotrópicos, atestados de ansiedade e documentos que comprovam tratamento psiquiátrico, indicando que Erika sofre de transtornos mentais, episódios de confusão, ansiedade severa e crises emocionais.

Entre os documentos, há dois atestados de uma clínica psiquiátrica que afirmam que Erika foi internada após apresentar um quadro severo de depressão, ocorrido depois do episódio, sendo a última internação em fevereiro deste ano.

Uma das testemunhas arroladas pela defesa é o médico que acompanhava a saúde da vítima, que havia recebido alta de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na véspera da morte. Segundo ele, Erika sempre atuou como acompanhante do idoso e frequentemente tirava dúvidas sobre os cuidados. No entanto, o médico ressalta que ela demonstrava dificuldade em compreender as orientações.

Erika foi presa em flagrante no dia 16 de abril de 2024, após levar o corpo de Braga —a quem tratava como tio— a uma agência do banco Itaú em Bangu, zona oeste do Rio. Câmeras de segurança e relatos de testemunhas indicam que o idoso já estava morto ao chegar ao local.

A perícia, no entanto, não determinou com exatidão o momento da morte. Duas testemunhas afirmam ter visto a vítima com vida antes de entrar no banco, onde permaneceu por cerca de duas horas antes do atendimento.

Funcionários da agência perceberam que Paulo não reagia, estava pálido e sem sinais vitais, e acionaram o serviço de emergência, que constatou o óbito no local. De acordo com a gerente da agência, Erika teria tentado forçar a assinatura do idoso para concretizar a operação de saque.

Ela foi denunciada sob acusação de furto qualificado e vilipêndio de cadáver (tratar um morto de forma desrespeitosa). A defesa pede a nulidade da acusação.

Além dos atestados médicos, constam nos autos documentos sobre a filha de Erika, uma adolescente com deficiência neurológica que depende integralmente de seus cuidados. Nas petições, os advogados afirmam que Erika estava em surto psicológico e emocional, agravado pela pressão familiar e pelas dificuldades financeiras. Atualmente, ela mora em um casa de dois cômodos com a filha, em uma favela da zona oeste.

A acusada obteve liberdade provisória no início de maio de 2024, com a condição de comparecer a todas as audiências e seguir tratamento médico. Já a Promotoria afirma que os elementos constantes no processo são suficientes para comprovar a intenção de obter vantagem ilícita.

O empréstimo de R$ 17 mil que seria contratado em nome da vítima era do tipo consignado e seria descontado de um benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ao longo de sete anos.

O valor total contratado seria de R$ 17.975,38, a ser pago em 84 parcelas de R$ 423,50. Ao fim, portanto, Paulo pagaria R$ 35.574 — o equivalente a um acréscimo de 98% em relação ao valor contratado.

*Com informações de Folha de São Paulo