Mesmo com nomes diferentes como “Santa Claus”, nos Estados Unidos, “Mikulás”, na Hungria, ou “Samichlaus”, na Suíça, apenas com a descrição de um velhinho bondoso, vestido de vermelho e distribuindo presentes, já sabemos exatamente quem é.
Com a chegada do mês de dezembro e do Natal, a figura do Papai Noel começa a surgir. Filmes, séries, peças de teatro e entre outras interpretações contam a sua história de amor e esperança, e como a partir dali, ele se tornou um dos símbolos mais fortes da data. Mas qual delas realmente é a verdadeira?
A verdade é que a lenda foi inspirada em uma figura que existiu de verdade, um bispo cristão chamado São Nicolau. Diferente do conhecimento popular, ele não morava no Polo Norte, mas, sim, na antiga cidade grega de Myra, na costa sul do que hoje é Turquia. Com o tempo, a lenda da história evoluiu do Mediterrâneo para a Europa.
Quem foi São Nicolau?
De acordo com o Ministério de Cultura e Turismo da Turquia, Nicolau (uma das traduções de Nicholas) nasceu na antiga cidade de Lícia, uma importante cidade na costa mediterrânea da Turquia, filho de um rico mercado de trigo, por volta de 300 A.C.
Seu nascimento foi aceito como um presente dos céus, fruto das orações de seus pais e um salvador para os pobres. De acordo com uma de suas lendas, quando jovem, ele ficou preso sob os destroços de uma antiga igreja e sobreviveu, além de ter realizado alguns milagres.
Bispo de Myra
Depois de alguns anos, Nicolau deixou sua casa em Patara e mudou-se para a cidade vizinha de Myra. Naquela época, o bispo de Myra havia falecido e nenhum acordo foi alcançado sobre seu sucessor. Finalmente, os residentes da cidade decidiram que a próxima pessoa a entrar na igreja local se tornaria o seu próximo bispo.
O primeiro a entrar foi Nicolau, e assim assumiu o cargo na igreja. Sendo chamado também de “Nicolau de Myra”. O homem continuou a operar milagres, incluindo um incidente em que salvou a vida de três generais.
De acordo com o governo turco, relatos datam que o santo morreu aos 65 anos, no dia 6 de dezembro. Para homenageá-lo, a população de Myra construiu uma igreja e o enterram debaixo dela.
Em 20 de abril de 1087, durante a Primeira Cruzada, algumas partes de seu esqueleto foram roubadas e levadas por mercadores de Bari. O resto de seus restos mortais pode ser encontrado atualmente no Museu de Antalya.
Tempos depois, as notícias de sua generosidade ganharam tanta popularidade que ele foi santificado como São Nicolau de Bari. “O bispo de Myra era chamado de Hagios Nikolaos em grego, mas quando seu lendário presenteador viajou com marinheiros, peregrinos e mercadores para a capital romana de Constantinopla (Istambul) e depois para Roma, ele se tornou um santo global”, disse Dra. Amelia Brown, professora sênior de História e Língua Grega da Universidade de Queensland no artigo ‘Origens históricas do Papai Noel’.
Como ele se tornou o Papai Noel?
Segundo uma de suas lendas, após a morte do pai de Nicolau, ele herdou uma grande propriedade que decidiu usar para ajudar os pobres. Naquela mesma época, um dos homens mais ricos da cidade caiu na pobreza, a tal ponto que não conseguia pagar dotes para as suas filhas. O desespero foi tão grande que o homem pensou até em vender as jovens, mas Nicolau resolveu ajudá-las.
Para isso, a lenda conta que Nicolau entrou secretamente na casa da família por uma janela, no intuito de permanecer anônimo e poupar a honra da família. Lá, ele deixou para filha mais velha um saco de ouro, suficiente para cobrir o dote. Pela manhã, a jovem ficou radiante ao encontrar o presente que a salvaria de sua situação.
Mais tarde, Nicolaus também decidiu ajudar as duas filhas mais novas, mas suas janelas estavam fechadas. Então, ele jogou o saco com dinheiro pela chaminé. Essa, em especial, é uma das histórias de caridade que inspiraram a criação do Papai Noel.
A partir daí, São Nicolau passou a ser conhecido como um santo caridoso e padroeiro dos viajantes, não apenas no império romano das costas mediterrânicas, mas também no norte da Europa, no Médio Oriente e no Norte de África.
Após sua morte, ele foi homenageado em dezembro, no dia de sua morte, mas também próximo ao dia mais curto do inverno, com seu festival atraindo aspectos gregos, romanos e do norte da Europa no meio do inverno ou feriados do solstício.
“Dizia-se também de forma lendária que São Nicolau no dia de sua festa, em 06 de dezembro de cada ano, passaria de telhado em telhado depositando presentes nas meias, colocadas nas paredes das chaminés. Estaria acompanhado de um “homem mau” encarregado de punir as crianças desobedientes”, explicou Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior, assistente doutor da PUC-SP.
Como se popularizou?
De acordo com a plataforma britânica Encyclopaedia Britannica, após a Reforma Religiosa no século 16, a devoção a São Nicolau desapareceu nos países que adotaram a fé protestante, exceto na Holanda. No país, o nome persistiu como “Sinterklaas”, uma tradução do nome original. Os colonos holandeses levaram essa tradição para Nova Amsterdã, atual cidade de Nova York, no século 17, cidade ocupada por eles durante o período colonial.
Sinterklaas foi adotado no país com o nome de “Santa Claus”, unindo a história de São Nicolau a antigos contos populares nórdicos de um ser mágico que compensava as boas crianças com presentes.
“Nicolau foi substituído pela lenda do menino Jesus que distribui presentes na madrugada de 24 para 25 de dezembro. Unindo os contos as lendas nórdicas, renas (Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donner, Blitzen, Rudolph), trenós de neve e gnomos míticos, e temos os ingredientes de um belo conto infantil do hemisfério norte, capaz de comover adultos que recordam a infância”, explica o professor de teologia da PUC-SP, Fernando Altemeyer Junior, ao Terra.
Portanto, é a adaptação de diversas lendas que formam o Papai Noel como conhecemos hoje em dia. “Na antiguidade se trocavam presentes na festa do solstício de inverno, como um sinal de renovação. Nos países nórdicos o deus Odin a cavalo sobre uma nuvem trazia para as crianças recompensas ou punições face ao seu comportamento. Judeus celebram anualmente a festa das luzes, Chanuká. Tudo converge para esse belo momento cósmico”, pontuou Altemeyer.
Já essa aparência única do bom velhinho, com roupas vermelhas e morando no Polo Norte foi criada nos Estados Unidos, no século 19.
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