Barras de ouro em refinaria em Sydney - Foto: David Gray / AFP

Tradicionalmente um porto seguro em épocas de crise, o ouro renovou as máximas históricas neste ano e deixou de ser apenas um refúgio para se tornar quase imprescindível, subindo inclusive em momentos de queda de concorrentes como o dólar e os títulos públicos americanos.

No acumulado do ano até sexta-feira (2), o metal subiu cerca de 23%, e no caminho chegou a superar o patamar de US$ 3.500 a onça-troy.

O ouro já havia sido um dos destaques nos portfólios dos investidores em 2024, em um cenário de incertezas geopolíticas elevadas, expectativas de corte nos juros dos Estados Unidos e busca de proteção contra a inflação.

Especialistas lembram que o ano passado foi marcado por tensões significativas, como a guerra na Ucrânia e conflitos no Oriente Médio, além da percepção de que a taxa básica de juros americana poderia se reduzir —como o ouro não paga juros, taxas mais baixas reduzem o custo de oportunidade de se manter o metal.

Ou seja, o ouro vinha em alta mesmo antes do chamado Liberation Day, que foi o dia do amplo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, assombrando os mercados, e que foi a senha para o metal subir ainda mais. O choque das tarifas no sistema global de comércio foi tão grande que abalou até a confiança no dólar e nos títulos americanos, considerados os mais seguros do mundo.

“Em um mundo onde até o dólar está sendo questionado, a moeda americana não governa mais sozinha. O ouro surge como âncora de confiança”, aponta Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, lembra que, desde a pandemia, muitos investidores, inclusive compras recorde de bancos centrais, aumentaram a exposição ao metal.

“Após a eleição do Trump, o ouro chegou a cair, parecia que o risco ficaria reduzido. Mas quando ele assumiu, ficou claro que o estresse aumentaria, e os investidores precisavam de um novo porto seguro”, diz. “A corrida para o ouro aumentou, e vimos um fluxo recorde de dinheiro indo para os ETFs [Exchange Traded Funds, ou seja, fundos que buscam replicar os preços do metal]”.

Para o especialista da Empiricus, o ouro continuará a ser o grande mitigador de riscos de uma economia sobre a qual ainda se tem muitas dúvidas. E os investidores terão, cada vez mais, uma parcela do portfólio carregada em metais preciosos.

Ouro é investimento?

A expectativa é que a cotação do ouro continue a subir —o JP Morgan, por exemplo, estima que a cotação atinja uma média de US$ 3.675 por onça no quarto trimestre de 2025 e US$ 4.000 no segundo trimestre de 2026.

Mas um ponto importante destacado pelos especialistas é que o ouro deve ser encarado primariamente como proteção, e não como um ativo de crescimento especulativo.

“A pergunta não é se ainda vale a pena investir em ouro porque as cotações já subiram muito, mas se você tem a quantidade adequada de ouro no portfólio”, afirma Lelis, da Valor Investimentos. “Ouro é proteção, e não especulação. É um seguro patrimonial, é uma reserva de valor, com o objetivo de preservar o valor da carteira em momentos de crise.”

Caso o investidor não possua o metal na carteira, o especialista aconselha começar a comprar, sempre pensando em diversificação ou proteção. “Se a percepção de risco cair, o ouro cai junto, e vice-versa”, diz.

As melhores formas disponíveis para se investir em ouro são ETFs, ou seja, fundos negociados em Bolsa. Um exemplo é o GOLD11, primeiro do Brasil, que investe em cotas de um grande ETF internacional lastreado em ouro físico.

Há ainda fundos de investimentos específicos que investem diretamente no metal, em contratos futuros ou em ETFs, e estão disponíveis nas plataformas de investimento de bancos e corretoras.

Por fim, é possível adquirir barras de ouro certificadas, mas isso envolve custos de custódia para armazenamento seguro e tem menor liquidez na hora da venda.

*Com informações de Folha de São Paulo