Brasil exibiu vídeo em Bonn em que afirma que Belém está pronta para a COP30 - Foto: Isabela Castilho / COP30 / Divulgação

Em meio à preparação para a COP-30, que acontece em novembro, em Belém, as discussões sobre como são organizadas as negociações climáticas e os temas centrais da agenda ambiental ganham destaque. O colunista da Rádio Eldorado Márcio Astrini, diretor do Observatório do Clima, detalha os pilares fundamentais das conferências e a importância da mobilização da sociedade civil.

Astrini explica que as negociações de clima se baseiam em três níveis principais: mitigação, adaptação e perdas e danos.

O 1º nível é o de mitigação, em que se busca “atacar o problema” diretamente na fonte do que causa a crise climática. Isso envolve ações como a substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis e o combate ao desmatamento.

Esta é a principal pauta das conferências de clima, onde a “esmagadora parte da agenda de negociação se concentra”, explica o especialista.

A 2ª etapa é a de adaptação, focando na prevenção das consequências dos problemas climáticos. São medidas para antecipar e se preparar para os impactos.

Exemplos incluem a recuperação de áreas naturais, intervenções em regiões de risco de desmoronamento, a implementação de irrigação para a agricultura em áreas de seca e o aumento da capacidade de atendimento de sistemas de saúde em regiões afetadas por ondas de calor.

Já a 3ª etapa das negociações climáticas envolve o conceito de perdas e danos, ou seja, lida com a destruição já ocorrida e consiste em atuar em cima dos prejuízos climáticos existentes, como reconstruir casas afetadas por enchentes e construir abrigos.

“É o que a gente viu no Rio Grande do Sul, quando a gente correu atrás do prejuízo”, diz Astrini.

Esses três níveis estão interligados: “É mais ou menos como tratar de uma doença, como se fosse diabetes. Se você faz uma boa dieta e segue o tratamento, você controla o problema e menos prejuízo você causa para a sua saúde. Então, com clima e o planeta é mais ou menos a mesma coisa”, exemplifica o diretor do Observatório do Clima.

A falta de ação no nível de mitigação leva a consequências nos níveis de adaptação e perdas e danos. “Se você não atua no nível um, aí você tem que no nível dois e nível três lidar com as consequências”, afirma.

As consequências são visíveis em diversas partes do mundo:

  • No sul da Ásia, o derretimento acelerado das geleiras do Himalaia, um fenômeno novo que está causando alagamentos e destruição de infraestrutura e desalojando pessoas.

  • No Paquistão, enchentes históricas deixaram mais de 1 milhão de desabrigados.

  • A Europa tem enfrentado incêndios que consomem grandes extensões de território, deixando muitas pessoas desabrigadas.

  • Na Amazônia, anos de seca intensa resultaram em perdas significativas de produtividade para populações extrativistas. A castanha-do-pará teve uma perda de até 80% na produção, elevando seu preço em cerca de duas a três vezes.

O objetivo das conferências de clima é evitar que “esses cenários catastróficos se repitam e piorem”, antes que haja danos irreparáveis, destaca o especialista.

Ações em Belém fora da COP

Apesar da incerteza sobre a participação das delegações na COP-30 devido aos preços para hospedagem durante o evento e a respeito dos acordos que serão firmados pelos países, “do lado de fora” da conferência em Belém já há previsão de uma grande pressão e mobilização da sociedade civil, relata Astrini.

Diversas organizações e coletivos de todo o mundo estão se organizando para Belém. Entre eles, a Cúpula dos Povos, um movimento que reúne mais de 800 organizações, principalmente do Brasil e da América Latina, que realizará atividades na Universidade Federal do Pará e uma “marcha pelo clima” no dia 15 de novembro, com a expectativa de milhares de pessoas para pressionar os delegados.

Também é esperada uma grande delegação de populações indígenas, com a participação de mais de 2.000 a 3.000 lideranças.

O Observatório do Clima, por sua vez, promoverá a Central da COP, com atividades culturais e lúdicas para engajar a população local.

Há ainda a COP das Baixadas, um movimento de periferias da Amazônia que organizará debates na cidade.

“Mesmo que as ações do lado de dentro da COP sejam incertas, lá fora vai estar fervilhando de gente e de atividades e de gente cobrando, pressionando 24 horas por dia”, diz o diretor do Observatório do Clima.

*Com informações de Terra