
Em meio à preparação para a COP-30, que acontece em novembro, em Belém, as discussões sobre como são organizadas as negociações climáticas e os temas centrais da agenda ambiental ganham destaque. O colunista da Rádio Eldorado Márcio Astrini, diretor do Observatório do Clima, detalha os pilares fundamentais das conferências e a importância da mobilização da sociedade civil.
Astrini explica que as negociações de clima se baseiam em três níveis principais: mitigação, adaptação e perdas e danos.
O 1º nível é o de mitigação, em que se busca “atacar o problema” diretamente na fonte do que causa a crise climática. Isso envolve ações como a substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis e o combate ao desmatamento.
Esta é a principal pauta das conferências de clima, onde a “esmagadora parte da agenda de negociação se concentra”, explica o especialista.
A 2ª etapa é a de adaptação, focando na prevenção das consequências dos problemas climáticos. São medidas para antecipar e se preparar para os impactos.
Exemplos incluem a recuperação de áreas naturais, intervenções em regiões de risco de desmoronamento, a implementação de irrigação para a agricultura em áreas de seca e o aumento da capacidade de atendimento de sistemas de saúde em regiões afetadas por ondas de calor.
Já a 3ª etapa das negociações climáticas envolve o conceito de perdas e danos, ou seja, lida com a destruição já ocorrida e consiste em atuar em cima dos prejuízos climáticos existentes, como reconstruir casas afetadas por enchentes e construir abrigos.
“É o que a gente viu no Rio Grande do Sul, quando a gente correu atrás do prejuízo”, diz Astrini.
Esses três níveis estão interligados: “É mais ou menos como tratar de uma doença, como se fosse diabetes. Se você faz uma boa dieta e segue o tratamento, você controla o problema e menos prejuízo você causa para a sua saúde. Então, com clima e o planeta é mais ou menos a mesma coisa”, exemplifica o diretor do Observatório do Clima.
A falta de ação no nível de mitigação leva a consequências nos níveis de adaptação e perdas e danos. “Se você não atua no nível um, aí você tem que no nível dois e nível três lidar com as consequências”, afirma.
As consequências são visíveis em diversas partes do mundo:
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No sul da Ásia, o derretimento acelerado das geleiras do Himalaia, um fenômeno novo que está causando alagamentos e destruição de infraestrutura e desalojando pessoas.
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No Paquistão, enchentes históricas deixaram mais de 1 milhão de desabrigados.
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A Europa tem enfrentado incêndios que consomem grandes extensões de território, deixando muitas pessoas desabrigadas.
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Na Amazônia, anos de seca intensa resultaram em perdas significativas de produtividade para populações extrativistas. A castanha-do-pará teve uma perda de até 80% na produção, elevando seu preço em cerca de duas a três vezes.