Foto: Fenacon

Um grupo de 33 empresários, advogados, contabilistas e gestores de fundos de investimentos oriundos do Brasil percorreu Portugal em busca de oportunidades de negócios. Ao longo de uma semana, eles visitaram os principais centros urbanos do país europeu e constataram as vantagens não só de fechar parcerias com empreendedores locais, mas, também, de tirar do papel projetos em áreas como construção civil, educação, saúde, meio ambiente e tecnologia da informação. A percepção é de que Portugal tem muito a agregar, seja pelo seu mercado de 10 milhões de cidadãos, seja por ser a porta de entrada para a União Europeia, com seus quase 500 milhões de consumidores.

“Há uma demanda crescente por investimentos e mão de obra em Portugal. O país está estrategicamente posicionado, tem uma ótima infraestrutura, com bons aeroportos e um porto, segurança e uma língua que facilita”, disse Daniel Coêlho, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon). Não por acaso, acrescentou ele, grandes corporações decidiram se instalar em território luso nos últimos anos. “Em relação aos demais países europeus, Portugal ainda tem um custo baixo para empreender, sem falar em um sistema tributário mais simplificado e bons serviços públicos de saúde e educação”, ressaltou.

Segundo Guilherme Tostes, dono da Organização Contábil Avelino Motta, um terço dos integrantes da comitiva organizada pela Fenacon nunca havia pisado em Portugal. Os outros dois terços tinham uma visão limitada, mais voltada para o turismo. “Posso dizer que, agora, os 100% dos participantes estão com outra imagem do país europeu, que é a ponta de lança da União Europeia, com todo o seu potencial de negócios”, assinalou. Ele contou que, ao longo da semana em que transitaram por Lisboa, Porto, Braga e Matosinhos, foram fechados negócios nos setores da construção civil e de educação e várias negociações estão em andamento. “Encontramos um bom ambiente de negócios, com oferta de fundos públicos europeus para investimentos”, emendou.

No caso da construção civil, a demanda por moradias é enorme em Portugal. Com a chegada em massa de empresas e de imigrantes — somente a comunidade brasileira legalizada soma 233 mil cidadãos —, está faltando imóveis, o que vem empurrando para cima tanto os preços de compra quanto os de aluguel.

O governo português acredita que é preciso ampliar os investimentos no setor, de forma a atender a demanda e conter a escalada de valorização de casas e apartamentos, que vem sendo motivo de críticas entre os portugueses. O Brasil tem forte expertise nesse mercado, tanto em imóveis de luxo quanto de empreendimentos populares.

Diversificação

Na avaliação de Carla Tasso, presidente do Conselho de Contabilidade Regional do Espírito Santo, ficou claro, nas conversas com autoridades portuguesas, que há um interesse enorme de diversificação da economia do país, que hoje é muito dependente do varejo. “Ao longo das conversas, fomos apresentados a uma série de oportunidades em várias áreas, com destaque para construção civil, saúde, tecnologia da informação e ambiental”, reforçou. Ela afirmou que o apetite dos empresários brasileiros por Portugal cresceu bastante, mas ponderou que não há pressa em fechar negócios, sobretudo por parte dos empreendedores portugueses, que são muito cautelosos ao baterem o martelo.

“O ritmo dos empresários portugueses não é o dos brasileiros. É questão cultural, que teremos de aprender a lidar. Mas a burocracia não inviabiliza os negócios”, ressaltou Carla. Para Guilherme Tostes, a cautela dos lusitanos é compreensível, pois a legislação no país europeu é rígida. “A burocracia tem o seu papel, de compliance, de lisura dos negócios. Tem ainda o fato de o Estado estar muito presente na economia. Faz parte do pacote”, enfatizou. A grande preocupação do governo português é de não transformar o país em paraíso fiscal nem num centro de lavagem de dinheiro. A rigidez nesse sentido é tamanha que o Banco Central de Portugal afastou todos os empresários angolanos do sistema bancário luso.

Daniel Coêlho acredita que as negociações entre empresários brasileiros e portugueses se darão em uma via de mão dupla, pois também se percebeu interesse do capital lusitano em desembarcar no Brasil. Na visão dele, porém, será preciso que o Brasil leve adiante a promessa de fazer amplas reformas, como a tributária, para tornar o ambiente de negócios menos hostil. “O capital quer facilidades e segurança. Isso, Portugal oferece. O Brasil, contudo, precisa avançar mais nesse sentido”, acrescentou.

Embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro esteve com o grupo de empresários e investidores liderados pela Fenacon. Ele destacou as vantagens de se investir em terras lusitanas, inclusive por parte da indústria, que pode transformar o país europeu em plataforma de exportação. Futuras parcerias também tenderão a diversificar os investimentos portugueses no Brasil, hoje, muito concentrados em dois ramos: petróleo e energia elétrica. “Todos têm a ganhar”, tem afirmado Carreiro.

Com informações do Correio Braziliense