O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de uma reunião sobre eventos climáticos extremos em Washington - Foto: Elizabeth Frantz / Reuters

O presidente Joe Biden anunciou sua desistência da corrida pela presidência dos Estados Unidos no domingo (21). Com isso, economistas preveem um cenário instável no mercado financeiro. As informações são do jornal O Globo.

Uma das previsões é de que a mudança democrata diminua o fortalecimento do dólar globalmente nos próximos dias.

Ao mesmo tempo, ativos do mercado financeiro que ganharam força com a possibilidade do retorno de Donald Trump ao poder também podem perder parte dos ganhos acumulados nas próximas semanas.

Para Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor na Georgetown University em Washington, há incertezas que ainda precisam ser esclarecidas, principalmente se Kamala Harris será a escolhida pelo Partido Democrata como candidata nas eleições de novembro.

“Na minha opinião, Kamala Harris é estruturalmente mais fraca. Trump continua sendo o favorito, mas ela é mais forte do que Biden. Acredito que os próximos dias serão marcados por muitas especulações em torno dos pontos ainda indefinidos, mas as posições pró-Trump começarão provavelmente a perder parte dos ganhos nos próximos meses”, avalia ele.

Para o economista, o cenário continuará instável conforme se solidifiquem as chances reais de Kamala derrotar Trump. Além disso, a escolha do vice dos democratas também será relevante para o cenário.

Após o desempenho desastroso de Biden no debate de 27 de junho, o “efeito Trump” no dólar refletiu em sua valorização global, no aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro Americano (Treasures), no crescimento dos lucros das ações bancárias e no suporte aos setores de saúde, energia e Bitcoin.

Portanto, quanto mais provável for uma vitória de Trump, mais o dólar deve se fortalecer, devido à sua política que combina impostos mais baixos e tarifas de importação mais altas, vista como potencialmente inflacionária, o que aumenta a atratividade da moeda americana em um cenário global incerto.

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Volpon observa que as reações têm sido extremas, como após o atentado contra Trump em 13 de julho na Pensilvânia, inicialmente levando a previsões de sua certa vitória e agora indicando incerteza. Ele enfatiza a necessidade de monitorar os eventos com mais atenção.

“Depois do atentado, se achava que Trump iria certamente vencer. Agora, acham que ele vai perder. Tudo tem tido muito impacto do momento. É preciso observar melhor os fatos”, diz.

Previsível, mas decisivo

Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e membro sênior do Policy Center for the New South, afirma que a desistência de Biden já era prevista pelo mercado – mas que, ainda assim, deve surtir efeito.

Canuto afirma que ainda não é possível dizer se Kamala ou outro candidato do Partido Democrata vencerá a disputa, uma vez que os resultados das pesquisas variam a cada semana.

“Quero crer que ela será confirmada (como candidata), e a manifestação de Biden em apoio a Kamala Harris será muito importante” destaca Canuto. “Quanto maior a probabilidade de derrota do Trump, melhor é a perspectiva em atenuar o que ele promete em termos de barreiras tarifárias e redução de impostos”, diz.

Segundo o economista, o elemento central da subida do dólar tem sido a crescente atratividade de ações de grandes companhias de tecnologia, polo de atração de capital de investidores.

“A desistência de Biden pode segurar os ânimos do mercado, do dólar. E se realmente entrar na corrida eleitoral, com o apoio do atual presidente, Kamala Harris pode usar os recursos já existentes em doações de campanha, o que é importante”, diz.

Exterior

Para o estrategista da Markets Live, Marck Cranfield, a menos que haja uma mudança importante nas chances de Trump, os tranders devem se posicionar para enfraquecer o dólar, pois “pode haver mais ataques verbais contra moedas estrangeiras fracas na medida em que nos aproximamos de novembro”.

“Enquanto isso, os Treasuries terão uma perspectiva mais sutil. A inclinação da curva provavelmente se estenderá em meio a preocupações sobre déficits maiores, mas dentro de um quadro de queda nos rendimentos à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) se move em direção ao seu primeiro corte de taxa de juros este ano”, complementou.

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Além das eleições, outros fatores podem impactar o mercado financeiro nos próximos dias, como a divulgação dos números preliminares do Produto Interno Bruto no segundo trimestre do ano, além dos dados de inflação considerados pelo Fed.

*Com informações de IG