Foto do cometa C/2024 A3 (Tsuchinshan-Atlas) tirada no dia 1° de agosto deste ano a partir da fazenda Hakos, na Namíbia - Foto: José J. Chambó / Cometografia.es

Um ano e nove meses depois de ser descoberto pelo Observatório Chinês de Tsuchinshan e, posteriormente, confirmado pelo sistema Atlas (sigla em inglês para Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides) da Nasa, o cometa C/2023 A3 atinge nesta sexta-feira (27) o seu periélio, ou a menor distância do Sol.

É a partir de agora que teremos uma reação dimensão de quão brilhante ele será e se terá ou não uma longa cauda, tornando-o um espetáculo para ser acompanhando da Terra a olho nu. É no periélio que a radiação solar derrete as camadas de gelo do cometa, criando a longa cauda, formada basicamente por vapor d’água e poeira.

Nos últimos meses, os cientistas tiveram opiniões díspares a respeito e alguns até chegaram a cogitar que o objeto celeste pudesse ser destruído justamente no periélio, devido à força gravitacional do Sol. Outros já afirmaram que o cometa tem tamanho suficiente para não se desintegrar. O senso comum, então, foi que só quando ele chegasse a esse ponto é que teríamos certeza.

A maioria dos astrônomos, porém, acredita que o cometa C/2023 A3 tenha potencial para ser o cometa do século, pela possibilidade de ter uma luminosidade grande, de intensidade que faz lembrar o que Hale-Bopp fez em 1997.

Assim, desta sexta até o dia 6 de outubro, o cometa poderá ser visto perto da linha do horizonte leste ao amanhecer, pouco antes do nascer do Sol. Depois, o Sol voltará a atrapalhar a visibilidade do dia 7 ao 11 de outubro.

Finalmente, a máxima aproximação do cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-Atlas) com a Terra ocorrerá no segundo domingo de outubro (13).

O astrônomo Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia e diretor técnico da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros), afirma que só quando o cometa estiver se aproximando da Terra é que teremos a real noção do brilho dele.

“A expectativa é que ele seja tão brilhante quanto o planeta Vênus, que é o objeto mais brilhante da noite, com exceção da Lua. O cometa vai passar entre as órbitas de Mercúrio e Vênus, a aproximadamente 41,2 milhões de quilômetros da órbita da Terra. Assim, quando ele cruzar a órbita da Terra, o planeta já estará bem longe”, explica Zurita.

Ao contrário da primeira janela de observação, quem quiser apreciar o espetáculo a partir do dia 12 de outubro deverá olhar para o outro lado, o horizonte oeste, na mesma direção e logo após o pôr do Sol. Como em toda visualização astronômica, é necessário cuidado.

“A maior dificuldade será encontrar um lugar com o horizonte oeste livre, visto que o cometa está muito baixo no céu, numa altura de até 30 graus”, diz Filipe Monteiro, astrônomo do Observatório Nacional.

Em grandes cidades, como São Paulo, devido à poluição do ar nesta época do ano e também ao excesso de luminosidade, e em locais onde a nuvem de fumaça das queimadas tem escurecido o céu, a visualização do cometa será prejudicada. Quanto mais limpo e mais escuro o céu, melhor será o espetáculo.

A órbita do cometa é retrógrada e parabólica, que o faz se mover na direção oposta à maioria dos corpos celestes do sistema solar. Segundo Marcelo Zurita, o C/2023 A3 é um cometa de longo período, que pode demorar dezenas de milhares a milhões de anos para passar pelo mesmo local. Por isso, é possível dizer que esta será uma passagem única pelo sistema solar.

“Com certeza devem existir muitos deles no espaço. Como demoram muito para se aproximar, a tendência é que o homem siga descobrindo esses objetos durante muito tempo”, diz Zurita.

Ele conta que, apesar do longo percurso, o cometa tem a origem dentro do sistema solar, na Nuvem de Oort, um sistema de bilhões de objetos que se acredita estar localizado no limite do sistema solar.

“Quando um objeto é perturbado gravitacionalmente por outro, como um impacto, ele escapa da nuvem e entra no sistema solar inferior, em direção ao Sol.”

Zurita diz que o cometa foi descoberto um ano e dez meses antes do ponto mais próximo da Terra, quando ele passava perto dos gigantes gasosos, os planetas Júpiter e Saturno.

“Se ele estivesse vindo em direção à Terra, esse é o tempo que teríamos para nos preparar. Mas não são objetos grandes, então, é mais para se preparar para minimizar os danos”, tranquiliza o astrônomo.

Quem perder esta oportunidade de observar o C/2023 A3 talvez não tenha outra oportunidade antes da próxima passagem do cometa Halley, o mais famoso objeto celestial que nos visita a cada 76 anos. A última vez que ele passou perto da Terra foi em 12 de março de 1986 e a expectativa é que retorne em 2061.

Significado do nome do cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-Atlas)

A letra C indica um cometa não periódico: os cometas desse tipo se originam na Nuvem de Oort e podem passar pelo sistema solar apenas uma vez ou demorar de 200 a milhares de anos para orbitar o Sol;

2023 A3 significa que o cometa foi descoberto em 2023, na primeira quinzena de janeiro (isso corresponde à letra A no sistema de nomenclatura de cometas da União Astronômica Internacional), e foi o terceiro objeto desse tipo descoberto no mesmo período;

Tsuchinshan-Atlas significa que a descoberta foi realizada utilizando telescópios do Observatório da Montanha Púrpura (Observatório Astronômico de Tsuchinshan) e o Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides (Atlas).

*Com informações de Folha de São Paulo