A última edição do dicionário Oxford em inglês incluiu 26 palavras do idioma coreano. Com filmes, livros e principalmente música, a Coreia do Sul usa o que ficou conhecido como “soft power” para exercer sua influência no mundo.
Aqui entra Son Heung-min, 30. O atacante é o maior produto de exportação do futebol de um país em que a liga nacional teve expansão por motivos políticos. A Coreia do Sul, tal qual o Qatar em 2022, sediou a Copa do Mundo pelo sonho de aumentar sua relevância a nível global.
Chamado apenas de Son, o jogador foi a força em campo que levou a Coreia do Sul às oitavas de final do Mundial ao obter uma improvável virada sobre Portugal na última rodada da fase de grupos. Placar de 2 a 1 que colocou a seleção no caminho do Brasil.
A partida será hoje (5), às 15 horas (de Manaus), no estádio 974, em Doha.
“Não tem como você não amar esse rapaz. Ele é cativante. Todo mundo gosta dele e é um tremendo atacante”, definiu o português José Mourinho, ao assumir em 2019 o cargo de técnico do Tottenham Hotspur, a equipe em que atua o sul-coreano.
Son iniciou uma mania no futebol britânico ao criar a sua própria comemoração, com um gesto em que usa polegar e indicador para formar um coração.
Ele se tornou uma febre no seu país. Seu rosto está em outdoors e sua fratura em um osso do rosto no início de novembro, a pouco mais de duas semanas do início do Mundial, o colocou na lista dos grandes astros do futebol que poderiam perder o torneio no Qatar.
Por ser a face mais conhecida de um esporte popular como o futebol, o desempenho dele se tornou interesse do governo do país, que incrementou o investimento em academias para jovens usando a imagem do ídolo.
Son tem uma legião de fãs que não são necessariamente fanáticos por futebol, mas sim pelo k-pop, o ritmo sul-coreano que se tornou febre entre jovens ao redor do mundo.
Copa 2022
O estilo foi criado a partida da visão de um empresário local chamado Lee Soo-man. Após um período nos Estados Unidos, ele voltou ao seu país natal com o sonho de globalizar a música coreana.
O veículo para isso seria a banda BTS e seus filhotes que apareceram a partir do sucesso. Foi um fenômeno que se espalhou por filmes, videogames, programas de TV, moda e comida.
Son entra nesse contexto e tem o potencial para crescer ainda mais se a seleção conseguir o maior resultado de sua história, derrotar o Brasil na Copa do Mundo.
É uma história de influência sem armas que a Coreia do Sul, com ajuda também estatal, pode fazer valer também no esporte. O termo “soft power” foi cunhado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele afirma que exercê-lo depende da expansão dos valores políticos e culturais de um país para outros.
“Nós temos uma chance. A única coisa que temos de lembrar é de mostrar a imagem de um time que quer competir e lutar até o último apito. E não há dúvida na minha cabeça de que é isso o que os meus jogadores vão fazer”, disse o técnico português da seleção sul-coreana, Paulo Bento.
Son é o produto de uma mentalidade de crescimento do futebol sul-coreano com incentivo estatal. Ele foi escolhido por dirigentes da federação nacional em projeto bancado pelo governo. Em 2009, foi enviado para o Hamburgo, da Alemanha. Deu certo, ele se profissionalizou pela equipe e iniciou o caminho até chegar à Premier League.
A Coreia do Sul sediou a Copa do Mundo de 2002 ao lado do Japão no primeiro torneio da Fifa organizado em conjunto por duas nações. O torneio também foi usado como ferramenta política e diplomática, já que seria uma forma de aproximar os países conhecidos pela inimizade.
Também foi um momento seminal do futebol na Coreia do Sul. Com estádios lotados e milhões de pessoas nas ruas, a equipe chegou à semifinal, o melhor resultado já obtido por uma seleção asiática na história do torneio.
A profissionalização do futebol já havia acontecido em 1987 e a liga era disputada desde 1983. Mas por causa do sucesso do Mundial e a visibilidade, o governo viu a necessidade de expansão.
Em 2003, o número de clubes cresceu de 10 para 12 e entidades estatais foram donas de agremiações. Com o passar do tempo, essa tendência foi revertida.
Com informações da Folha de S.Paulo