Foto: Henrique Pinheiro

A proporção de crianças que têm dificuldades na leitura e escrita no Brasil dobrou entre 2019 e 2021. As informações são referentes ao Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), aplicado no ano passado, nas escolas públicas e privadas, e foram divulgadas hoje (16), em coletiva do MEC (Ministério da Educação).

Em 2019, eram 15,5% dos alunos com níveis abaixo do esperado para a idade. No ano passado, o índice foi para 33,8%. Em outros anos, a avaliação era aplicada para estudantes do 3º ano do ensino fundamental —agora, são alunos do 2º ano do ensino fundamental. A prova é gerida pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC.

A queda da aprendizagem nesta etapa já era esperada devido ao fechamento das escolas e às dificuldades de acesso ao ensino remoto desde o início da pandemia de covid-19. Levantamento feito pelo UOL em agosto do ano passado mostrou que dez estados mantiveram o ensino remoto para o segundo semestre.

“Não foge do esperado. Os dados mostram que a alfabetização, em contexto de pandemia, deixou lacunas”, diz Clara Machado, coordenadora do Saeb.

Ao longo da pandemia, estados e municípios acusaram o MEC de ser omisso e não apresentar alternativas para o desenvolvimento do sistema de ensino. Especialistas consultados pelo UOL já haviam apontado retrocessos na alfabetização

Os dados nacionais de alfabetização mostram um cenário extremamente preocupante, reforçando o que avaliações estaduais já estavam mostrando. Foi a fase mais afetada pela pandemia. Não há processo de alfabetização de forma remota. Isso deve acender um grande alerta na nossa sociedade e no poder público. Ainda há tempo para recuperar essa tragédia”, afirma Gabriel Corrêa, da ONG Todos pela Educação.

O que é o Saeb

É uma avaliação de matemática e língua portuguesa aplicada a cada dois anos para as turmas do 5º ano e 9º ano do ensino fundamental, além dos estudantes da 3º série do ensino médio, de forma censitária —quando todos os alunos têm de participar. A prova de alfabetização é feita pelos alunos do 2º ano desde 2019.

Quase não teve avaliação

No começo de 2021, o MEC, comandado na época por Milton Ribeiro, quis suspender a aplicação do Saeb justificando uma falta de orçamento e por ser “arriscado” devido a pandemia.
Dois meses depois, a pasta voltou atrás e anunciou que aplicaria o Saeb de forma censitária —havia uma discussão para prova ser amostral.

Pior crise da história

O Saeb foi aplicado em novembro do ano passado, em meio à pior crise do Inep com dezenas de servidores de carreira pedindo exoneração de seus cargos. O grupo citou “fragilidade técnica” do então presidente do órgão, Danilo Dupas, e o acusou de assédio moral.

Reportagem da Folha de S. Paulo, na época, mostrou que ao menos sete estados ainda não haviam recebido as provas do Saeb um dia após o início de aplicação da avaliação. Entre os demissionários, havia pessoas com experiência na gestão e logística da prova.

Em julho deste ano, Dupas pediu demissão por motivos pessoais e o servidor de carreira Carlos Moreno assumiu a chefia do instituto.

Com informações do Uol