Pesquisadores têm analisado sedimentos da Baía de Santos para monitorar a presença de cocaína, um contaminante emergente que agora afeta não apenas a água e o solo, mas também organismos marinhos como ostras e mexilhões. Enquanto a região já lida com poluentes tradicionais às atividades portuárias e industriais, além do esgoto doméstico, a detecção de cocaína pode ser uma nova ameaça ambiental. As informações são da Agência FAPESP.
Em um vídeo divulgado pela FAPESP, o biólogo Camilo Dias Seabra, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica o processo de coleta de materiais para estudos geoquímicos. Segundo ele, no Carnaval de 2014, quando os pesquisadores realizaram a primeira coleta na Baía de Santos, o foco inicial era identificar a presença de medicamentos na água.
No entanto, a surpresa veio com a detecção de cocaína em concentrações semelhantes às da cafeína – um indicador tradicional de contaminação porque, além de ser consumida por meio de bebidas como café, chá e refrigerantes, está presente em vários medicamentos.
A descoberta não apenas apontou a presença da droga, mas também revelou sua persistência ao longo do ano, o que levantou preocupações ambientais.
Com o tempo, o monitoramento se expandiu para incluir a cocaína em sedimentos e organismos marinhos, como mexilhões. Esses animais, que atuam como filtros naturais, acumulam substâncias presentes na água e podem representar um risco adicional, pois são consumidos por seres humanos.
A pesquisa agora investiga os efeitos da cocaína nesses organismos e os potenciais riscos para a saúde humana, associados ao consumo de mariscos contaminados.
Cocaína é acumulada desde 1930
A pesquisa de Seabra adota uma abordagem integrada de “One Health”, que busca compreender as interações entre a saúde ambiental, animal e humana. Além de monitorar a contaminação na água e nos sedimentos, os cientistas planejam conduzir um estudo epidemiológico baseado em águas residuais para identificar padrões de uso de drogas na cidade de Santos.
Segundo Seabra, os estudos indicam que a cocaína começou a se acumular no estuário de Santos a partir da década de 1930, com um grande aumento nas últimas décadas. Esse crescimento pode ser explicado pelo fato de a região ser uma das principais rotas de tráfico de drogas da América do Sul para a Europa, além do aumento do consumo de drogas ilícitas, como cocaína e crack, tanto na região quanto globalmente.
Problemas adicionais incluem a falta de tratamento de esgoto, o uso de drogas como o crack, e questões de segurança pública. Para compreender melhor a extensão desses desafios, os pesquisadores planejam iniciar um programa epidemiológico baseado em águas residuais, com o objetivo de identificar padrões de consumo de drogas e contribuir para a detecção de problemas de saúde pública relacionados a substâncias ilícitas, álcool e tabagismo.