O ex-secretário da Receita Federal Julio César Vieira Gomes, que conversou com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a liberação das joias presenteadas pela Arábia Saudita, pediu a sua exoneração do órgão. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (10).
De acordo com o órgão, a saída se deu “a pedido”. Ele estava lotado na Superintendência Regional da Receita no Rio de Janeiro.
Julio César é suspeito de ter pressionado fiscais para liberarem as joias apreendidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Ele nega a tentativa de interferência. Procurado pela coluna para comentar o pedido de exoneração, o ex-chefe da Receita não respondeu às ligações.
De acordo com pessoas familiarizadas com o caso, sua saída não afeta ou altera as investigações. A diferença é que, distante do órgão, Julio César terá mais tempo para trabalhar a sua defesa.
Em nota, o ex-secretário já afirmou que a solicitação feita em ofício pelo ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, “não tinha como objeto a sua liberação a quem quer que seja, mas a doação pela Receita Federal para a incorporação dos itens à documentação histórica, órgão da Presidência da República”.
Ele afirmou também que, após discussão interna sobre o tema, ficou concluído que a entrega dos bens à Presidência dependia de solicitação da Secretaria Especial de Administração, e não de pedido do ajudante de ordens.
Gomes ainda declarou ter informado sobre a decisão antes de ser nomeado adido na Embaixada do Brasil em Paris.
“Ainda no dia 30 de dezembro, comuniquei a decisão à autoridade signatária do ofício [tenente-coronel Cid], antes de minha designação como adido. Dessa forma, o ato formal para a destinação de mercadorias -ADM- sequer foi iniciado. Reitero meus elogios à equipe do aeroporto de Guarulhos, devidamente externados à época”, afirma o ex-secretário.
A atuação de Gomes se tornou alvo de suspeitas após o site G1 revelar que o ex-secretário encaminhou à Superintendência da Receita em São Paulo email solicitando o atendimento ao ofício em que Cid pedia a entrega das joias “a este órgão da União”.
Ele afirma que a mensagem que enviou à superintendência tinha como objetivo iniciar a análise do caso.
“Assim, iniciado o processo com a análise preliminar, iniciou-se a análise técnica mais aprofundada. Após estudos e amplas discussões sobre o tema, concluiu-se que a incorporação a órgão da Presidência da República competiria à Secretaria Especial de Administração ou instância superior.”
Gomes confirma ter falado ao telefone com o militar designado por Cid para buscar as joias no dia 29 de dezembro, mas afirma que o alertou de que a avaliação do caso pela Receita ainda não estava concluída.
FONTE: FOLHAPRESS