O Hospital Americano de Paris, famoso por atender a elite francesa e artistas do mundo todo, está sendo acusado de já ter vacinado integrantes de seu conselho de administração e outras personalidades francesas não prioritários. A denúncia foi feita nesta terça-feira (9) pela rádio France Info.
Segundo a emissora pública, o Hospital Americano de Paris, situado em Neuilly-sur-Seine, periferia chique no oeste de Paris, vacinou em janeiro com o imunizante da Pfizer cerca de 20 integrantes de seu conselho de administração e alguns de seus mecenas. Já os médicos e outros profissionais da saúde do estabelecimento privado ainda aguardam na fila para receber a primeira dose da vacina.
Bruno Durieux, administrador de honra do hospital franco-americano e ex-ministro da Saúde francês de 1990 a 1992, confirmou que foi vacinado. “Me ligaram do serviço de medicina do trabalho me chamando para tomar a primeira injeção em 14 de janeiro e recebi a segunda dose no início de fevereiro”, revelou Durieux de 76 anos. Ele informa que “todos os integrantes do conselho de administração foram convidados a tomar a vacina”.
Milionários fura-filas
O conselho de administração do Hospital Americano, que é 100% financiado por doações, é formado por cerca de 40 personalidades francesas, mas também americanas e japonesas. A maioria desses “administradores de honra” é idosa, mas nem todos. Esse é o caso do milionário Arnaud Lagardère, de 59 anos, ou de Helen Lee Bouygues, de 46 anos, mulher de um dos donos da maior construtora francesa. Eles são executivos, banqueiros, diplomatas ou advogados, vão raramente ao hospital e quase nenhum deles exerce uma profissão no setor da saúde.
Algumas fontes ouvidas pela France Info indicam que importantes mecenas do estabelecimento e seus familiares também foram beneficiados, contrariando as normas recomendadas pela Agência Francesa de Saúde. Até agora, a campanha de vacinação na França prioriza os idosos com mais de 75 anos, as pessoas com comorbidades e os profissionais de saúde.
Hospital não desmente
Contatado pela rádio, o Hospital Americano não desmentiu ter vacinado integrantes de seu conselho de administração e outros “voluntários”. “Respeitando as diretivas da agência francesa, a vacinação foi proposta a partir de 4 de janeiro de 2021 a todas as pessoas que trabalham no hospital: médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, direção, funcionários da limpeza, vigias e voluntários”, justificou o estabelecimento. A direção detalha que doses da vacina que não foram utilizadas devido a desistências ou contraindicações, foram propostas a “pessoas voluntárias e disponíveis” para evitar qualquer desperdício.
O ministro da Saúde, Olivier Véran, deplora o eventual privilégio. “As prioridades estabelecidas na França são claras. Nós protegemos prioritariamente os mais frágeis. Não aceitarei privilégios ou fura-filas”, advertiu Véran.
Fundado em 1906, o Hospital Americano de Paris conquistou ao longo dos anos uma fama internacional por seu tratamento VIP. Ele já recebeu celebridades como Angelina Jolie, Picasso ou o rei Pelé, além de chefes de Estado, como o ex-presidente francês Jacques Chirac. (RFI)