Cavalo Caramelo, resgatado em telhado após enchente no Rio Grande do Sul - Foto: Divulgação / Ulbra

Há um ano, o cavalo Caramelo se tornou um dos símbolos da resistência durante as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Preso por cinco dias no telhado de uma casa em Canoas, seu resgate emocionou o país e ganhou repercussão internacional. Hoje, sob os cuidados da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Caramelo não apenas se recuperou dos traumas do passado, mas também conquistou uma legião de fãs como um inusitado influenciador digital, com mais de 100 mil seguidores no Instagram.

O perfil @CarameloOficial, administrado pela Ulbra, mostra o dia a dia do cavalo, que vai de “selfies” descontraídas a participações em desafios virais, como transformações em estilo anime por inteligência artificial. Sua rotina na fazenda-escola da universidade inclui cuidados veterinários e uma dieta balanceada — tema frequente em suas postagens. Em uma publicação recente, o cavalo até mesmo “avaliou” o cardápio de grama e feno de alfafa, que parece aprovar com entusiasmo.

Um resgate que marcou o Brasil

Em maio de 2024, as imagens de Caramelo isolado no telhado de uma casa inundada chocaram o país. O resgate, realizado pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo, foi transmitido ao vivo e celebrado como um momento de esperança em meio à tragédia. Após a recuperação, a Ulbra assumiu oficialmente sua guarda em dezembro do mesmo ano, garantindo que o cavalo tivesse um lar definitivo.

Inundação histórica no Rio Grande do Sul

Entre o final de abril e o início de maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas já registradas em seu território. O governo estadual declarou que se tratava do pior desastre natural da história gaúcha, com impactos devastadores em centenas de municípios.

Em menos de uma semana, diversas cidades registraram precipitações extremas, variando entre 300 e 700 milímetros. Em algumas localidades, esse volume representou um terço da média anual de chuvas. Segundo análises do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, somente em maio, mais de 14 trilhões de litros de água foram despejados no Lago Guaíba – quantidade próxima à metade da capacidade total do reservatório de Itaipu. Essas chuvas intensas atingiram mais de 60% do estado, provocando alagamentos generalizados.

No dia 5 de maio, o nível do Guaíba atingiu 5,37 metros, ultrapassando os registros históricos de 1941 e 2023. Diante da gravidade da situação, o governo federal decretou estado de calamidade pública. Porto Alegre e Caxias do Sul bateram recordes de precipitação: a capital gaúcha acumulou 540 mm, superando o anterior de 447 mm em setembro de 2023, enquanto Caxias do Sul registrou impressionantes 845 mm.

Até agosto de 2024, a Defesa Civil contabilizou 183 óbitos e 478 cidades afetadas por enchentes, deslizamentos e quedas de barreiras.

Causa das enchentes

Um bloqueio atmosférico, causado por um sistema de alta pressão no Centro-Sul do Brasil, impediu a dispersão de frentes frias e ciclones, o que concentrou as chuvas intensas no Rio Grande do Sul. Esse fenômeno, associado a temperaturas até 10°C acima da média, criou uma frente estacionária que resultou em precipitações prolongadas.

Tragédia no Rio Grande do Sul já soma 176 mortos – Foto: Agência Brasil

Tempestades atingiram o norte do estado a partir do dia 27 de abril do ano passado, evoluindo para chuvas generalizadas nos dias seguintes. A Defesa Civil emitiu alertas sucessivos, advertindo sobre inundações, alagamentos e deslizamentos. Até o dia 2 de maio de 2024, uma frente fria e umidade vinda do norte provocaram acumulados de 300 a 700 mm em diversas cidades – equivalente a um terço da média anual.

Após uma breve pausa, uma nova frente quente e um jato de baixos níveis reiniciaram as chuvas a partir de 10 de maio, principalmente no norte, elevando novamente os níveis dos rios. Dois tornados foram registrados em 11 de maio (Gentil e Cambará do Sul), causando danos materiais, mas sem vítimas.

Um terceiro período de chuvas, entre 23 e 24 de maio, foi impulsionado por uma massa de ar polar e ventos fortes (70–90 km/h), com acumulados de até 200 mm em algumas regiões. Embora os rios do interior tenham subido novamente, o maior impacto ocorreu em Porto Alegre, onde o vento represou a vazão do Guaíba, agravando as enchentes.

*Com informações de IG