A ‘Carta da Juventude da Floresta’ reafirma o compromisso dos jovens extrativistas com a Amazônia e sua biodiversidade, a democracia e com o legado de todos os líderes da floresta

Uma escola inspiradora, no meio da floresta amazônica, no município de Mazagão, no Amapá, foi a sede do encontro entre mais de 140 jovens unidos para debater o futuro das populações tradicionais, extrativistas e indígenas.

Assim foi o II Encontro da Juventude Extrativista, que aconteceu na Escola da Família Extrativista do Carvão (EFAC), criada em 1997 e que une os ensinos fundamental e médio com atividades em prol da agricultura familiar, e extrativista, além de educação ambiental e conceitos de sustentabilidade.

O evento foi realizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Memorial Chico Mendes e Associação Nossa Amazônia.

Durante cinco dias várias histórias inspiradoras e emocionantes surgiram entre uma atividade e outra. A primeira mesa de debates uniu lideranças históricas como o presidente do CNS, Júlio Barbosa, que é extrativista desde criança no Acre e a secretária de mulheres do CNS Maranhão, Maria Nice, que tem um forte legado na luta em prol das populações extrativistas há mais de 30 anos, além de lideranças jovens como a secretária de juventude do CNS, Letícia Moraes.

“Nasci nos seringais de Xapuri, na Reserva Extrativistas Chico Mendes, no Acre, e esse evento tem uma importância grande porque, vai mostrar para juventude um pouco da nossa luta para chegarmos até aqui. Temos uma história sofrida, mas também temos muitos pontos positivos em prol da conservação da floresta e do bioma amazônico. O evento é focado nos jovens, porque entendemos que a juventude vai dar continuidade a esse processo”, disse Júlio Barbosa.

O encontro também foi importante para destacar o legado de Chico Mendes, líder extrativista e ambientalista morto com um tiro de escopeta, em 22 de dezembro de 1988. A sua luta em prol dos extrativistas e do meio ambiente é reconhecida internacionalmente e o seu legado, atualmente, é mantido por sua família, por meio do Comitê Chico Mendes e também por outras ações.

Em um dos debates estavam a jovem extrativista Raiara Barros, da família de Chico Mendes e ativista do Engajamundo, a jovem extrativista, Cátia Santos, do Comitê Chico Mendes, a secretária da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) de Rondônia, Marciely Tupari, além de Edinalda Nascimento, da Rede Pantaneira do Mato Grosso, entre outros, para debater o futuro dos territórios de uso coletivo com base nos ensinamentos de Chico Mendes.

“Entendemos que um evento como esse, além de unir os jovens com lideranças históricas, destaca a importância das atividades extrativistas em prol da conservação da Amazônica e de outros biomas, e, assim, ajuda a diminuir os impactos das mudanças climáticas. Tudo isso com um olhar mais especial e mais cuidadoso para o nosso meio ambiente”, disse o secretário geral do CNS, Dione Torquato.

Outros assuntos apresentados no evento foram sobre a importância da sociobiodiversidade no enfrentamento às crises climáticas; O papel das mulheres na defesa, gestão e governança nos territórios; O papel e importância da comunicação popular ativista para o fortalecimento da luta e resistência em defesa da democracia e dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais na Amazônia e outras regiões brasileiras; O uso das redes sociais na defesa e proteção dos territórios, entre outros.

Um dos principais destaques do evento foi a criação da “Carta da Juventude da Floresta”, criada por jovens extrativistas, ribeirinhos, sem-terra, indígenas, quilombolas e de povos, e comunidades tradicionais, que participaram do evento no Amapá.

O documento possui uma série de apontamentos com a juventude reafirmando o seu compromisso com a Amazônia e sua biodiversidade, a democracia brasileira, a humanidade e com o legado de todos os líderes e mártires da floresta, que lutaram em defesa dos direitos humanos, dos territórios tradicionais, e, principalmente, que indicam caminhos de esperança e solidariedade entre homens e mulheres por mais justiça social.

O evento recebeu apoio do Rainforest Foundation Norway, WWF Brasil e Instituto Clima e Sociedade (iCS). Também contribuíram para a realização do encontro os parceiros sociais: Comitê Chico Mendes, Mídia Ninja, Uma Gota no Oceano, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Fundación Avina, Casa Ninja Amazônia, TV 247, Giz, Universidade do Estado do Amapá, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Vozes pela Ação Climática (VAC).

Com informações da assessoria