Ajuda entra na Faixa de Gaza após Israel anunciar pausa diária nas hostilidades (Zikim, em 27 de julho de 2025) - Foto: Mohammed Saber / EPA / Shutterstock / BBC News Brasil

O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou o reconhecimento de um Estado palestino. Esta foi a primeira nação do G7, fórum que reúne os sete países mais industrializados do mundo, a tomar a medida. Na sequência, Reino Unido e Austrália publicaram anúncios na mesma direção.

Declaração canadense lembra que país apoia uma solução de dois Estados desde 1947 para “uma paz duradoura no Oriente Médio”. “Durante várias décadas, o Canadá acreditou nesse objetivo, na expectativa de que finalmente houvesse uma solução negociada. Infelizmente, essa possibilidade foi gradualmente comprometida, a ponto de se tornar quase impensável”, ressalta o texto do primeiro-ministro canadense, Mark Carney.

Primeiro-ministro afirmou que a declaração busca construir uma “promessa de futuro pacífico” para Palestina e Israel. Ele criticou o grupo terrorista Hamas, que acusou de “aterrorizar” o povo israelense e “oprimir” a população de Gaza, mas também disse que o governo de Israel comete “violação do direito internacional” no território palestino.

O Reino Unido afirmou em anúncio que a esperança de uma solução de dois Estados está “desaparecendo”. Primeiro-ministro, Keir Starmer, ainda pediu que Israel pare com “táticas cruéis” e deixe “a ajuda chegar”.

Starmer também diz que sancionará líderes do Hamas – que chamou de “uma organização terrorista brutal” – nas “próximas semanas”. “Já prescrevemos e sancionamos o Hamas, e iremos mais longe”, afirmou.

“Nosso apelo por uma solução genuína de dois Estados é exatamente o oposto de sua visão odiosa. Então, estamos claros: esta solução não é uma recompensa para o Hamas, porque significa que o Hamas não terá futuro, nenhum papel no governo, nenhum papel na segurança.” afirmou Keir Starmer, premiê do Reino Unido.

O anúncio de Starmer ocorre poucos dias após uma visita do presidente dos EUA, Donald Trump, à Inglaterra. O governo britânico já tinha adiantado que faria o reconhecimento neste fim de semana.

“Nós reconhecemos o Estado de Israel há mais de 75 anos como um lar para o povo judeu. Hoje, Nós nos juntamos a mais de 150 países que também reconhecem um Estado palestino. Um pleito para o povo palestino e israelense de que pode haver um futuro melhor. Eu conheço a força do sentimento que este conflito provoca. Nós o vimos nas nossas ruas, em nossas escolas, em conversas que tivemos com amigos e família. Criou-se uma divisão. Alguns a usaram para provocar ódio e medo, mas isso não resolve nada.” falou o Keir Starmer, premiê do Reino Unido.

Adolescente palestina chora após chegada de corpos às dependências do hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza – Foto: Omar AL-QATTAA / AFP

A Austrália também anunciou reconhecimento e defendeu a reconstrução de Gaza. Em agosto, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, já havia adiantado que o faria.

Albanese destacou que há um “trabalho crucial” de “toda a comunidade internacional” para criar um “plano de paz confiável”. Além de permitir a reconstrução do território, é preciso que o plano fortaleça a capacidade do Estado da Palestina e “garanta a segurança” de Israel.

“O reconhecimento da Palestina pela Austrália, juntamente com Canadá e pelo Reino Unido, é parte de um esforço coordenado internacionalmente para dar um novo impulso para uma solução de dois Estados, começando com um cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns feitos nas atrocidades de 7 de outubro de 2023.” afirmou Anthony Albanese, primeiro-ministro australiano.

Primeiro-ministro canadense ainda acusou Israel de sistematicamente tomar medidas para evitar o reconhecimento do Estado palestino. “Busca de forma incansável a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, o que é ilegal segundo o direito internacional. Sua contínua agressão contra Gaza matou dezenas de milhares de civis, deslocou mais de um milhão de pessoas e causou uma fome devastadora que poderia ter sido evitada, o que constitui uma violação do direito internacional”, disse Mark Carney.

“O reconhecimento de um Estado da Palestina liderado pela Autoridade Palestina fornece ferramentas adicionais para aqueles que buscam a coexistência pacífica e o fim do Hamas. Não legitima nem tolera o terrorismo. Além disso, não compromete de forma alguma o apoio inabalável do Canadá ao Estado de Israel, ao seu povo e à sua segurança — segurança que só pode ser garantida por meio da obtenção de uma solução abrangente de dois Estados.” disse Mark Carney, primeiro-ministro canadense.

Outros países, como Portugal, França e Bélgica devem se juntar ao grupo. O anúncio deve ser na Conferência para a Solução de Dois Estados em Nova York, organizada pela França e Arábia Saudita, às 16h (horário de Brasília).

Israel fala em ‘risco de sobrevivência’

Hoje, primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que um Estado palestino colocaria em risco a sobrevivência de Israel. Premiê disse que “a comunidade internacional” ouvirá Israel sobre o tema “nos próximos dias”.

“Também precisaremos lutar, tanto na ONU quanto em todas as outras arenas, contra a falsa propaganda enganosa dirigida a nós e contra os apelos por um Estado palestino, que colocaria nossa existência em risco e serviria como uma recompensa absurda para o terrorismo.” afirmou Benjamin Netanyahu.

Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que reconhecimento seria “recompensa” ao grupo terrorista Hamas. “Os próprios líderes do Hamas admitem abertamente: esse reconhecimento é um resultado direto, o ‘fruto’ do massacre de 7 de outubro”, afirmou a pasta, em publicação no X, citando os ataques terroristas do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que deram início ao conflito em Gaza.

Netanyahuestá em seu terceiro mandato à frente de Israel – Foto: Reprodução / Twitter

Crime humanitário e ‘genocídio’

Ofensiva militar do governo de Israel se intensificou na Faixa de Gaza, assim como a crise humanitária e a fome. A guerra, prestes a completar dois anos, já matou ao menos 65.208 palestinos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, liderado pelo Hamas.

Inquérito da ONU concluiu que Israel cometeu genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza. As investigações foram realizadas pela Comissão Internacional Independente de Inquérito da Organização sobre o Território Palestino Ocupado. Israel rejeita a denúncia e acusa o Hamas de usar a população como escudo.

*Com informações de Uol