A legislação brasileira proíbe que crianças até 13 anos trabalhem - Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O Brasil tinha 1,6 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil em 2023, mostram dados divulgados nesta sexta-feira (18). O valor é o menor desde 2016, ano que marca o início da série histórica do indicador.

Brasil tem 1,852 milhão de crianças e adolescentes no mercado de trabalho. Do total, 1,607 milhão estavam em situação de trabalho infantil. O número apresentado é o menor da série histórica da Pnad Continua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que contabilizava 2,11 milhões de crianças na situação em 2016.

Proporção de crianças no trabalho infantil volta a cair. Após interromper a sequência de quedas da série histórica e subido para 4,9% em 2022, o indicador voltou a cair e chegou a 4,2%. A queda de 14% leva o total ao menor contingente da série histórica. “Essa queda ocorreu para todas as faixas etárias”, diz Gustavo Fontes, analista responsável pelo módulo anual da Pnad Contínua sobre o Trabalho das Crianças e Adolescentes.

Trabalho infantil aumenta conforme a idade da criança. Em 2023, o valor era de 1,3% para as pessoas de 5 a 13 anos e subia para 6,2% no grupo de 14 e 15 anos, alcançando 14,6% entre adolescentes de 16 e 17 anos. Na comparação com 2022, o percentual de crianças no trabalho infantil também diminuiu em todos os grupos etários.

Mais da metade da população em situação de trabalho infantil tem 16 e 17 anos. Segundo o IBGE, 55,7% dos enquadrados na condição estão nessa faixa etária. Outros 22,8% (366 mil pessoas) tinham de 14 e 15 anos e 21,6% (346 mil pessoas) entre 5 e 13 anos.

Cerca de 20% dos trabalhadores infantis tem jornada semanal de 40 horas ou mais. A rotina de 39,2% das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil era de até 14 horas em 2023. Por outro lado, 20,6% trabalhavam 40 horas ou mais. O tempo de trabalho é um dos critérios utilizados para a definição do trabalho infantil.

Número de horas semanais trabalhadas aumenta conforme a idade. No grupo dos 5 a 13 anos, mais de 80% das crianças e adolescentes trabalharam até 14 horas. Já no grupo dos 16 e 17 anos, 19,7% trabalharam até 14 horas, enquanto 31,1% trabalharam 40 horas ou mais.

Regiões

Nordeste tem maior contingente de crianças e adolescentes na situação. A região conta com 506 mil com idade entre 5 a 17 anos na condição. Na sequência, aparecem o Sudeste (478 mil pessoas), o Norte (285 mil pessoas), o Sul (193 mil pessoas) e o Centro-Oeste (145 mil pessoas). As menores quedas ante 2022 foram verificadas no Norte (de 299 mil para 285 mil pessoas) e no Centro-Oeste (de 157 mil para 145 mil pessoas).

Entre 2019 e 2022, trabalho infantil cresceu no país – Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

IBGE contabiliza queda do trabalho infantil em todas as cinco áreas. Na comparação com 2016, houve reduções em todas as regiões, exceto no Centro-Oeste, local onde o número ficou próximo da estabilidade. “As regiões Nordeste e Sul tiveram redução mais acentuada no número de trabalhadores infantis, com queda de aproximadamente 33% do total de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, em cada uma dessas regiões”, analisa Fontes.

Frequência escolar

Trabalho infantil também prejudica a presença na escola. O IBGE relata que 97,5% da população de 5 a 17 anos é definida como estudante. Entre os trabalhadores infantis, a taxa é cai para 88,4%. A diferença também varia de acordo com a idade e, entre as pessoas de 16 e 17 anos, ocorria a maior divergência.

“Entre os mais jovens, de 5 a 13 anos, a frequência escolar (o percentual de estudantes nessa população) está praticamente universalizada, em qualquer situação. No entanto, à medida que a idade avança, nota-se maior comprometimento da frequência escolar entre as pessoas em situação de trabalho infantil.” afirma Gustavo Fontes, analista da pesquisa

O que é o trabalho infantil?

A definição é estabelecida pela OIT (Organização Internacional do Trabalho). Segundo a associação, o trabalho infantil é aquele considerado perigoso e prejudicial à saúde e ao desenvolvimento mental, físico, social ou moral das crianças e que interfere na sua escolarização.

Avaliação considera diversos aspectos a respeito das atividades realizadas. O conceito de trabalho infantil considera a faixa etária, o tipo de atividade, as horas trabalhadas, a frequência à escola, a periculosidade e a informalidade.

Nem todo trabalho a partir de 14 anos é considerado trabalho infantil. Gustavo Fontes, analista responsável pelo módulo anual da Pnad Contínua sobre o Trabalho das Crianças e Adolescentes de 5 a 17 anos, explica que a legislação brasileira proíbe qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos.

“Para aquelas de 16 e 17 anos, a carteira assinada é obrigatória, sendo proibido o trabalho noturno, perigoso ou insalubre. Portanto, nos grupos de 14 a 17 anos, nem todos estão em situação de trabalho infantil. É preciso avaliar, para cada faixa etária, a natureza e as condições em que o trabalho é exercido, incluindo a jornada de trabalho e a frequência à escola.” concluiu Gustavo Fontes, analista da pesquisa.

*Com informações de Uol