Incêndios em Goiás deixaram áreas devastadas Foto: Divulgação/Polícia Civil

O Brasil enfrenta a maior seca da história, que afeta 1.400 cidades em nível extremo ou severo, devido ao período de estiagem, que chegou mais cedo neste ano. A situação é um exemplo concreto das mudanças climáticas.

Em entrevista do Fantástico, da Globo, neste domingo, 8, o pesquisador Giovanni Dolif, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), disse que tudo indica que a alta na temperatura vem para ficar.

“E mais grave do que isso: nós brasileiros estamos sentindo um aquecimento acima dessa média global. Nesse inverno, o trimestre junho, julho e agosto teve em São Paulo, por exemplo, dois graus acima da média”, afirmou.

“Nós atingimos a temperatura mais alta que o planeta já enfrentou desde o último período interglacial, 120 mil anos atrás”, destacou o climatologista Carlos Nobre ao Fantástico, um dos cientistas que alertaram sobre as consequências das mudanças climáticas.

Isso faz com que todos os eventos extremos “explodam”, segundo o especialista. Por isso, as ondas de calor, secas, e chuvas, ficam mais intensas do que o normal, além dos recordes de incêndios florestais.

Com o tempo mais seco, o fogo avança com mais facilidade em várias regiões do Pantanal, um dos biomas mais importantes do mundo. Os rios que abastecem o Pantanal surgem, em sua maioria, no Cerrado, que está 60% desmatado, segundo a cientista Luciana Gatti disse ao Fantástico.

“O problema do abastecimento dos rios não é tanto o que está acima da superfície, mas principalmente o que está abaixo da superfície, porque o Cerrado é como se fosse uma floresta de ponta cabeça. As raízes são a floresta exuberante que ajuda as águas a irem para o lençol freático e os rios terem um volume mais alto. Mas desmatando, as raízes também morrem”, disse Gatti.

Incêndios criminosos

De acordo com a Polícia Federal, a maior parte dos incêndios que afetam as florestas brasileiras foram iniciados por ação humana, com raras exceções. A certeza se deu pela concomitância que aconteceram, em momentos e locais, e também pelos indícios de que o crime aconteceu por dolo – quando há intenção.

Incêndio em área de Sertãozinho, no interior paulista. Governo paulista determinou instauração de gabinete de crime para avaliar queimadas no Estado de SP – Foto: Divulgação / PRF

A PF investiga se as ações foram coordenadas, e apura o motivo que levou os autores a cometerem os incêndios criminosos em todo o país.

Em Novo Progresso, no Pará, onde aconteceu o ‘Dia do Fogo’ em 2019, uma nova articulação de invasores e grileiros aconteceu para queimar a floresta. O caso foi publicado até em um jornal da região.

O governador quer endurecer as punições para quem causa incêndio criminoso, com aumento da pena. Atualmente, a punição é de dois a sete anos de prisão. Ele também quer confiscar as propriedades dos criminosos, assim como acontece em casos de trabalho análogo à escravidão, e vedar o acesso ao crédito.

Florestas em risco

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, diz que devido à redução do desmatamento, houve uma mudança no crime ambiental na Amazônia quando as pessoas se deram conta de que o fogo também se alastra na floresta com árvores de pé.

“Isso significa que a floresta, em função da mudança do clima, perdeu umidade e agora eles estão fazendo essa aliança perversa. Bota fogo, depois derruba e tenta se apropriar dessas áreas por processos de regularização fundiária”, disse ao Fantástico.

“O fogo está sendo o novo desmatamento. Então, tem que cercear qualquer forma de regularização que esteja associada à apropriação criminosa dessas áreas, até porque é terra pública”, completou.

*Com informações de Terra