Nódulos polimetálicos da zona Clarion-Clipperton (CCZ) - Foto: Reprodução / ROV KIEL 6000, GEOMAR via Wikimedia Commons

Os nódulos polimetálicos, pequenas rochas do tamanho de uma batata, encontrados no leito marinho, são os novos minerais que estão na mira das insaciáveis mineradoras, apesar de haver risco de destruição de ecossistemas únicos.

Estes nódulos depositados nas profundidades do leito oceânico podem ser objeto do primeiro pedido de exploração mineral submarina que o governo de Nauru, uma pequena ilha no Oceano Pacífico, prevê apresentar à Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (AIFM) em nome da empresa Nori (Nauru Ocean Resources), filial da canadense The Metals Company.

Fenômeno geológico

“Biscoitos de metais”. É assim que o Instituto de Pesquisa para a Exploração Marinha da França denomina os minerais, que atualmente medem cerca de 20 centímetros.

Leva muito tempo para se formar. É possível que esses nódulos polimetálicos tenham se formado ao longo de milhões de anos. Descobertos durante a expedição científica britânica Challenger, nos anos 1870, eles são fragmentos sólidos — dentes de tubarão, espinhas de peixes — depositados no leito marinho nos quais cresceram crostas a um ritmo muito lento pelo acúmulo de minerais presentes em concentrações muito baixas.

“Imediatamente se deram conta de que eram interessantes, foi uma das grandes descobertas da viagem”, apesar de não terem sido considerados como um “recurso” na época, conta Adrian Glover, do Museu de História Natural do Reino Unido.

Sedimentação nas planícies abissais. Nas profundidades abissais do Oceano Pacífico, pobre em alimentos, o ritmo de sedimentação é praticamente nulo. Uma das razões que explica que os nódulos estejam disseminados no leito oceânico como “batatas” em um campo, assinala Glover.

Planícies abissais

Encontrado nas profundezas. Esses nódulos polimetálicos podem ser encontrados entre 3,5 e 6,5 km de profundidade, na superfície das planícies abissais.

As mais abundantes estão na Zona de Fratura Clipperton, também conhecida como Clarion-Clipperton (CCZ) – em frente ao litoral mexicano do Pacífico -, no centro do Oceano Índico e na bacia do Peru, segundo a AIFM.

Exploração já foi autorizada. A AIFM já concedeu contratos de exploração destes nódulos a cerca de 20 empresas, entre elas a Nori, sobre uma superfície de aproximadamente 75.000 km² na CCZ.

Cobiça

Metais estratégicos para a indústria. Os nódulos estão compostos principalmente de manganês e ferro, mas também contêm metais estratégicos como cobalto, níquel e cobre.

Superando reservas conhecidas. Segundo a AIFM, a CCZ conta com aproximadamente 21 bilhões de toneladas de nódulos, ou seja, uma possível reserva de 6 bilhões de toneladas de manganês, 270 milhões de toneladas de níquel e 44 milhões de cobalto, “o que supera as reservas conhecidas” dos três metais na superfície terrestre.

“Bateria em uma rocha”. Os defensores da exploração submarina destacam seu potencial para as energias verdes, particularmente nas baterias para carros elétricos. “Uma bateria em uma rocha”, resume o slogan da The Metals Company, que sustenta que esses materiais submarinos são “o caminho mais limpo para os veículos elétricos”.

ONGs contestam ideia. O argumento, no entanto, é rejeitado categoricamente por ONGs ambientais e alguns cientistas. Para Michael Norton, esta afirmação tem mais a ver com “relações públicas do que com feitos científicos”. É “enganoso” dizer que não será possível satisfazer a demanda sem os minerais submarinos, frisou à AFP este especialista do Conselho Consultivo das Academias Europeias de Ciências.

Impacto e destruição. A preocupação também é sobre o impacto desses sedimentos e a destruição da biodiversidade presente no material absorvido. Para Catherine Welle, da Fauna & Flora, a composição única dos nódulos, que atrai a indústria, é também um hábitat único para a vida submarina. “São em si parte importante do ecossistema das grandes profundezas”, sustenta.

Sucção a 4 km de profundidade

Extração sem escavações. Ao contrário dos outros dois tipos de recursos minerais submarinos regulados pela AIFM — sulfuretos polimetálicos e pedras de ferro-manganês ricas em cobalto — os nódulos não necessitam, em princípio, de escavações ou cortes. O que não significa que a extração não tenha nenhum impacto.

Testes em 2022. Nos testes efetuados no fim do ano passado, a Nori submergiu a 4,3 km de profundidade um veículo para aspirar os nódulos e sedimentos em uma área de 80 km. No interior da máquina, os nódulos são separados dos sedimentos. Um tubo gigante leva os nódulos à superfície, onde está o navio e os sedimentos são despejados de volta no leito marinho.

*Com informações de Uol