A Amazônia com a qual Joe Biden se deparará neste domingo (17) —uma visita descrita pela Casa Branca como a primeira a ser feita por um presidente dos Estados Unidos em exercício— vive ainda os efeitos de uma emergência sem precedentes, associada, entre outros fatores, às mudanças climáticas.
Biden vai sobrevoar a região de Manaus, visitar o Musa (Museu da Amazônia) —um espaço verde na capital do Amazonas— e se encontrar com pesquisadores e lideranças indígenas, para em seguida voar ao Rio de Janeiro, onde ocorrerá a cúpula do G20, da qual o Brasil é anfitrião.
No curto período em que estará nessa parte da Amazônia ocidental, e nos limitados espaços a serem percorridos, o presidente dos Estados Unidos pode não ter a real dimensão da emergência climática enfrentada pelo bioma e pela população amazônida. Uma descrição da dimensão do problema deve ser feita por indígenas e cientistas escolhidos para o encontro com Biden.
O rio Negro, que margeia Manaus, segue em níveis críticos, numa lenta recuperação da seca mais severa já registrada. Novembro ainda registra ocorrência de queimadas no Amazonas. As chuvas estão abaixo da média para o período. A temperatura, acima da média.
Todos os 62 municípios do estado estão em alerta quanto aos níveis dos rios e em situação de emergência, segundo dados públicos da Defesa Civil do Amazonas atualizados na última quarta-feira (13).
A estiagem ainda impacta a população, com isolamento de comunidades e dificuldades de navegação pelos rios. Ao todo, 212,7 mil famílias –850,9 mil pessoas– já sofreram impactos da seca extrema no estado, conforme a Defesa Civil.
Na Amazônia brasileira, especialmente na parte ocidental, onde está o Amazonas, houve dois períodos de seca extrema seguidos, em 2023 e em 2024.
Os ciclos de cheia e estiagem são naturais, ocorrem de forma alternada todos os anos, mas a seca ganhou contornos extremos nos últimos dois anos, como nunca havia sido registrado.
Entre os fatores, estão o prolongamento do El Niño (aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador), o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, o desmatamento e a degradação da floresta —associada especialmente ao fogo— e as mudanças climáticas.
Os Estados Unidos são o segundo maior emissor mundial de gases de efeito estufa, principal causa das mudanças climáticas. Ficam apenas atrás da China.
O pior já passou na seca de 2024, com o início da elevação do nível dos rios e o aumento das chuvas. Mas o ritmo da transição de uma estação à outra é lento, o que prolonga os efeitos da estiagem, num período de seca que começou antes do esperado.
Em 122 anos de medições do nível do rio Negro no porto de Manaus, nunca houve tão pouca água quanto na seca de 2024. A cota do rio atingiu 12,11 m, em 9 de outubro deste ano. O pior ano até então havia sido 2023, com 12,7 m em 26 de outubro.
O rio começou a encher, mas ainda houve um repiquete —quando as águas voltaram a vazar— por dez dias. Nesta quinta (14), o nível do rio Negro em Manaus era de 13,09 m.
“O rio Negro tem registrado comportamento de recuperação, voltando a apresentar subidas, contudo os níveis ainda são considerados muito baixos para a época”, afirma boletim de monitoramento do SGB (Serviço Geológico do Brasil) da última terça (12). As chuvas na região estão abaixo da média esperada, segundo o relatório.
Conforme a Defesa Civil do Amazonas, o rio Negro em Manaus pode ficar abaixo de 16 m até a segunda quinzena de dezembro.
“Ao longo dos últimos dez anos, os níveis do rio iniciaram o mês de novembro, em média, com os valores de 18,28 m. Em anos sem eventos extremos, espera-se que o nível esteja próximo aos valores de 19,11 m em 1º de dezembro. Vistos os valores agora, somados aos fatores climáticos, espera-se valor próximo dos 13,73 m no início de dezembro”, afirma o órgão.
Uma vazante tão severa, a segunda seguida, pode ser o prenúncio de um terceiro ano acumulado de crise climática, em razão da incapacidade de recuperação dos rios.
Há, assim, um maior tempo para retorno dos níveis de navegabilidade dos rios, “mantendo o impacto do desastre de estiagem junto à população que utiliza o rio nas atividades do dia a dia”, diz a Defesa Civil. Na maior parte da Amazônia ocidental, os rios são a principal forma de deslocamento —a vida cotidiana gira em torno desses cursos d’água.
Os impactos da seca extrema prosseguem até o fim do ano e se estendem por janeiro, segundo previsão feita pelo órgão. Haverá menos chuva e dias mais quentes, aponta o relatório de novembro da Defesa Civil.
Nas duas primeiras semanas de novembro, houve 399 focos de calor no Amazonas, conforme registros de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em todo o ano, foram mais de 25 mil queimadas, 31,5% a mais dos que os registros em 2023 (até 14 de novembro).
Manaus e outras cidades do estado, especialmente na parte sul, viveram ondas sucessivas de fumaça, que inundaram ainda comunidades ribeirinhas e tradicionais. Até a semana passada, havia fumaça no ar da capital, em dias sucessivos, embora em escala menor do que o verificado em agosto e setembro.
A escolha da equipe de Biden foi por uma visita a um museu com floresta na cidade, um espaço de grande procura por turistas, mas distante dos problemas enfrentados pelas comunidades que dependem do funcionamento regular dos ciclos da amazônia.
O Musa é uma parte verde em Manaus. A cidade é pouco arborizada e se configura numa mancha urbana encravada na floresta amazônica.
O museu ocupa 100 hectares da reserva florestal Adolpho Ducke, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). É um dos poucos lugares em Manaus onde turistas podem ter contato com a floresta. Há, no Musa, uma torre de 42 metros para observação das copas das árvores. Diversos grupos de pesquisa atuam no local.
O Brasil caminha para adotar medidas de reciprocidade em casos de preconceito a produtos brasileiros como o praticado pela rede francesa Carrefour, na semana...