
Após uma semana de tensas negociações, recados públicos e bravatas, a conclusão do acordo União-Europeia-Mercosul foi adiada para janeiro. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou a líderes do bloco nesta quinta-feira (18), já noite na Europa, que o tratado não seria mais assinado no sábado (20), no Brasil, na cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu.
Foi decisivo para o adiamento uma conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e Giorgia Meloni. Horas antes de Von der Leyen se pronunciar, o presidente declarou em Brasília que a primeira-ministra italiana havia lhe dito que era a favor do tratado, mas que precisava equacionar a pressão do setor agrícola de seu país antes de aprová-lo.
“Ela apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza de que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo. Ela pediu para que, se a gente tiver paciência, de uma semana, 10 dias, de, no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, disse o petista durante a entrevista de fim de ano em Brasília.
Na véspera, Lula tinha ameaçado desistir definitivamente do acordo caso houvesse adiamento,
Em nota oficial, o gabinete de Meloni em Roma confirmou a conversa, trocando o prazo comentado por Lula por um “em breve”. Segundo o comunicado, foi “reiterado também ao presidente do Brasil, Lula, que o Governo Italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem fornecidas as respostas necessárias aos agricultores”. Essas respostas, segue a nota, “dependem das decisões da Comissão Europeia”.
Meloni passou o dia reunida com os outros chefes de Estado da UE em reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas. O acordo de livre comércio não estava na pauta do encontro, focado em uma polêmica ainda maior, para olhos europeus, sobre o uso de ativos congelados russos como empréstimo de reparação à Ucrânia.
O assunto, no entanto, não era evitado pelos mandatários. Emmanuel Macron, que lidera o grupo de oposição ao tratado, voltou a expor sua rejeição ao plano logo ao chegar à cúpula. “Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado.”
O presidente francês fazia referência aos protestos que fecharam estradas durante toda a semana na França e que tinham alcançado Bruxelas na manhã desta quinta com seus tratores. Milhares de manifestantes enfrentaram o gás lacrimogêneo da polícia belga com batatas e esterco. O confronto ficou violento, com registro de feridos.













