Sagui em árvore - Foto: Wikimedia Common

Dar nomes aos outros é considerado um indício de cognição avançada entre os animais sociais, antes vista apenas em seres humanos, golfinhos e elefantes africanos. Agora, os macacos saguis entraram para esse clube exclusivo, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (29) na revista Science.

Os pequenos primatas usam chamadas fortes e agudos para atribuir uns aos outros “etiquetas vocais”, como mostra um estudo conduzido por uma equipe de pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém.

“Estamos muito interessados no comportamento social, porque acreditamos que foi essencialmente o que levou os humanos a serem tão especiais em comparação com outros animais”, disse à AFP o principal autor do trabalho, David Omer.

“Não corremos rápido, não voamos, não nos destacamos em nada mais além de sermos sociais, e todos os nossos feitos como sociedade são nossos feitos sociais”, assinalou.

Os saguis são animais ideais para estudar a evolução do comportamento social e a linguagem nos humanos, explicou, pois têm traços similares e vivem em pequenos grupos familiares monogâmicos de seis a oito indivíduos, que criam seus filhos de forma cooperativa.

Liderados pelo estudante de pós-graduação Guy Oren, os pesquisadores gravaram as conversas naturais entre pares de saguis separados por uma barreira visual, assim como as interações entre os micos e um sistema de informática que reproduzia chamadas pré-gravadas.

Eles descobriram que esses animais usam “chamadas phee” (vocalizações muito agudas, tão fortes quanto ferramentas elétricas) para se dirigir uns aos outros. Em particular, eram capazes de reconhecer quando tais chamadas eram dirigidas a eles e mais propensos a responder quando chamados por seu nome.

Avanços no aprendizado de máquina

Os dez saguis testados vinham de três famílias diferentes, e a pesquisa também revelou que os membros de um grupo familiar usavam as mesmas características de som para codificar diferentes nomes, de forma similar aos dialetos ou sotaques nos humanos. O mesmo valeu até mesmo para exemplares adultos sem vínculos sanguíneos, o que sugere que aprenderam de outros dentro do grupo familiar.

Os macacos sagui são parentes relativamente distantes dos seres humanos. A última vez que compartilharam o mesmo ancestral foi há aproximadamente 35 milhões de anos, enquanto a separação entre os humanos e os chimpanzés pode ter ocorrido entre 5 e 7 milhões de anos atrás.

Em vez da proximidade genética, Omer atribui a aquisição de etiquetas vocais nos saguis à “evolução convergente”, ou à ideia de que desenvolvem traços similares em resposta a desafios ambientais comparáveis.

Para esses primatas, a etiquetagem vocal pode ter sido crucial para manter os vínculos sociais e a coesão de grupo nas densas florestas tropicais da América do Sul, onde a visibilidade costuma ser limitada.

Como e quando os humanos começaram a falar é tema de discussão, mas, até recentemente, muitos cientistas descartavam a ideia de que pudéssemos buscar pistas a respeito em outros primatas. Omer reforçou que este último estudo questiona essa antiga opinião. “Ainda podemos aprender muito com os primatas não humanos sobre a evolução da linguagem nos humanos”, afirmou.

A análise das chamadas dos saguis foi possível graças a avanços recentes na potência computacional e no aprendizado de máquina (“machine learning”), acrescentou.

Um caminho interessante para futuras pesquisas poderia ser aproveitar a inteligência artificial (IA) para decifrar melhor o conteúdo das conversas peculiares entre os saguis.

*Com informações de IG