Estado é o principal produtor de arroz do país - Foto: Reprodução / Flipar
Desde o início das fortes chuvas que afetam o sul do país, as previsões para o preço dos alimentos em 2024 têm sido revisadas para cima. Isso ocorre porque o Rio Grande do Sul é o principal produtor de insumos que compõem a base da alimentação brasileira.
A XP Investimentos elevou a expectativa de inflação para a alimentação no domicílio de 3,8% para 4,5%. O Santander também aumentou o chamado tracking para esse grupo, passando de uma alta de 3,3% para 3,8%, segundo comunicado aos clientes. O banco esclarece que essa não é a projeção oficial, mas uma taxa atualizada com mais frequência.
O maior impacto é observado no arroz, cultura que concentra 70% da produção brasileira no Rio Grande do Sul, mas também são previstos efeitos no complexo de proteínas, incluindo carnes e leite, além de trigo e frutas, como a uva.
A previsão da LCA Consultores é que o preço do arroz suba 4% em 2024, ante uma variação anterior próxima da estabilidade. Isso implica que o subgrupo de cereais, leguminosas e oleaginosas terá uma alta de 1% este ano, em comparação com a deflação esperada de 1,6%.
A previsão inicial para este ano era de uma safra de 7,4 milhões de toneladas de arroz, mas esse cálculo foi feito antes das chuvas. O mercado brasileiro de arroz é relativamente ajustado, e a produção nacional se aproxima do consumo doméstico, que é de cerca de 10 milhões de toneladas anualmente.
Além do arroz, ampliaram-se as previsões para farinhas, féculas, massas e panificados (de 1,6% para 2,1%), leite e derivados (de 1,9% para 3%), carnes (de 0,9% para 2%), óleos e gorduras (de 2,6% para 3,6%) e frutas (de 10,3% para 11,1%). Os problemas logísticos explicam parte das mudanças, mesmo com a colheita da uva já concluída.
“O Rio Grande do Sul é o 6º maior estado brasileiro no quesito exportação de alimentos, principalmente, arroz, milho, soja, carne bovina, frango e derivados. Então, com certeza, esses produtos sofrerão, sim, uma inflação”, diz Cristiane Meleiro, coordenadora do curso de Ciências Contábeis na Faculdade Anhanguera, especialista no tema.
“Todos os produtos que o Sul produz estão ligados à cesta básica, então é inevitável que haja aumento no índice, independentemente das ações do governo para conter os preços”, acrescenta.
Importação
O governo anunciou ontem que vai editar uma medida provisória para possibilitar a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz , buscando suprir as perdas causadas pelas inundações. Inicialmente, serão importadas 200 mil toneladas de arroz descascado e empacotado.
Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o objetivo é evitar especulações sobre o preço do produto, impedindo aumento para o consumidor. A compra deverá ser conduzida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“O Rio Grande do Sul detém 70% da produção de arroz do Brasil. Tivemos perdas de arroz que estava nos armazéns alagados. Além disso, a grande dificuldade é a logística, tirar o arroz do Rio Grande do Sul e levar para o centro de distribuição. Está sendo preparada MP (medida provisória) autorizando a Conab a fazer compras na ordem de 1 milhão de toneladas”, disse Fávaro, após reunião sobre a tragédia, no Palácio do Planalto.
Para repor os estoques em períodos de chuvas excessivas ou secas, que afetam o plantio, o Brasil importa cerca de 1 milhão de toneladas por ano, a maioria proveniente do Paraguai, de onde o produto entra por terra através do Mato Grosso do Sul. Portanto, é provável que a maior parte da importação seja do país vizinho.
O ministro destacou que o arroz importado não será vendido a atacadistas para não prejudicar os agricultores. Ao invés disso, será direcionado aos mercados de bairros periféricos das grandes cidades.
Segundo Cristiane Meleiro, a medida emergencial é crucial para garantir o abastecimento, principalmente para os mais pobres. “Porém, ela isolada não é suficiente para conter a alta nos preços, especialmente do arroz. Seria necessário investir em propostas para reduzir o custo de produção e também o custo de logística, já que 80% da produção está colhida, segura. Agora, o desafio é o escoamento, já que estradas e rodovias foram bloqueadas pela enchente”, afirma.
Inflação
A produção de soja e milho no Rio Grande do Sul também é significativa entre as commodities, embora sua influência direta nos preços de varejo seja mais limitada, pois são principalmente utilizados na composição de rações animais. Até agora, a perspectiva inicial é que a demanda por esses produtos possa ser atendida pela produção de outras regiões do país.
Apesar do aumento nas projeções dos preços dos alimentos, não houve impacto significativo nas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já que houve uma revisão para baixo em outros itens.
O professor Alexandre Augusto, do curso de economia da ESPM, lembra que produtos como a soja e o milho influenciam ainda na produção de ração animal, que, por sua vez, se encarecidas, aumentam também o preço da carne bovina e suína.
“A soja, além da ração, impacta no preço do óleo. O mesmo vale para o milho. O arroz e o trigo impactam nos farináceos que, por sua vez, influenciam o preço das panificações. A uva se encarecer sobe também o preço do vinho. Aí a soma de todos esses índices dá em torno de 4% a 4,5% do IPCA, que, pode parecer pouco, mas não é”, diz.
Desabastecimento
A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) informou que está monitorando a logística e o abastecimentos dos produtos afetados pela enchente.
Em nota enviada ao iG , a associação afirma que “até o momento”, os estoques e as operações de abastecimento do varejo estão normalizados com diversas marcas, preços e promoções para atender à demanda de consumo tanto nas lojas físicas quanto pelo e-commerce.
“Nesse cenário, a ABRAS recomenda que os consumidores não façam estoques em casa para que todos tenham acesso contínuo ao produto.
Estamos comprometidos neste acompanhamento durante este período desafiador e que demanda solidariedade de todos”, diz a entidade.
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